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TENDA DA MEMÓRIA MARCA PRESENÇA NO 13º FÓRUM NACIONAL DE EDUCAÇÃO POPULAR (FREPOP)

Criado: Quinta, 21 de Julho de 2016, 17h19 | Publicado: Quinta, 21 de Julho de 2016, 17h19 | Acessos: 4784

Mariana Ratts contou a história do projeto Memória Social na Escola (Foto: Gil Vicente)Por Lara Ximenes e Marcela Lins

Luta camponesa, memória social e visibilidade dos povos indígenas. Quem esteve na Tenda da Memória do 13º Fórum Nacional de Educação Popular (FREPOP) nesta quinta-feira (21) e ontem (20) pôde ouvir e aprender um pouco mais sobre esses temas. O Museu do Homem do Nordeste (MUHNE) participou da Tenda com uma série de atividades e rodas de diálogo, fomentando debates a partir do tema Memória Social.

Na roda de diálogo pautada no tema Memória, Educação e a relação Museu e Escola, realizada nesta manhã, coube à equipe de educadores MUHNE a condução do debate sobre o projeto Memória Social na Escola, desenvolvido desde 2015 pelo Serviço Educativo do Museu e que tem por objetivo desenvolver, junto a escolas da rede pública de ensino, projetos sobre a memória local das comunidades.

Mariana Ratts, coordenadora do Serviço Educativo do Museu, fez um relato sobre as origens do Memória, desde a consultoria sobre história oral com a pesquisadora Cláudia Leonor, em 2014, ao recente e-book lançado em 2016, fruto de um ano de projeto. “O mais bacana é que o projeto pôde contribuir com o currículo escolar das instituições de ensino, facilitando também o entendimento da construção da comunidade”, afirma Mariana.

Segundo Igor Amarante, do Serviço Educativo do MUHNE, a metodologia do Memória Social consiste em três eixos aplicados com base na história oral: humanidades, comunicação e cultura visual. “Humanidades corresponde à construção coletiva do conhecimento, ouvir os mais velhos, humanizar essa relação. A comunicação visa uma valorização desse conhecimento transmitido na escuta, além de torná-lo acessível. A cultura visual se faz presente no uso de vídeo, onde os estudantes vêem o mundo de outras formas”, relata Igor. O projeto também resultou em uma valorização do trabalho em equipe, uma vez que os grupos de estudantes se dividiam para debater a produção das filmagens, o roteiro e as entrevistas.

Nayara Passos, também do Educativo, acredita na importância do museu sair do seu lugar físico e ir para as escolas. “A construção do projeto foi discutida com as escolas através de conversas, enquetes e oficinas, com o objetivo de tornar as escolas as verdadeiras protagonistas do projeto, capazes de representar suas memórias com autonomia”, acrescentou Nayara.

Para Mauricio Antunes,  

Memória e conhecimento - A construção da memória deve ser compartilhada na sociedade para além da academia- dos sociólogos, museólogos e outros “ólogos”. É o que afirma Maurício Antunes, coordenador geral do MUHNE. “O projeto Memória Social na Escola é uma forma de quebrar esse monopólio acadêmico e dos museus, construindo outra forma de difusão da memória. Afinal, um museu nunca vai retratar exatamente a memória como ela é por meio dos objetos de seu acervo. Isso vai além do material”, pontuou o coordenador.

Para Maurício, uma escola que não conhece a realidade de sua comunidade não constrói conhecimentos socialmente úteis e termina na superficialidade do conhecimento científico/universal, sem contextualizar. “Memória é conhecimento”, lembrou.

Também pela manhã, a tenda contou com outra roda de conversa, desta vez sobre Memória e Juventude Indígena por meio do COJIPE - Comissão de Juventude Indígena de Pernambuco. Iniciada com um toré, dança ritual da tradição indígena, a conversa começou com a seguinte frase de Maurílio Nogueira, do povo Truká e articulador do COJIPE: “Nós existíamos antes de 1.500”. O articulador observou que, entre os jovens índios ali presentes, que representavam oito povos indígenas diferentes do nordeste, todos eram diferentes entre si. “Isso é porque não somos estereótipos, devido ao processo de colonização”, lembrou Maurílio.

O COJIPE surgiu em 2003 a partir da necessidade de unificar as juventudes indígenas de Pernambuco num espaço formativo, para que resistam, barrem retrocessos (como a PEC da demarcação de terras indígenas) e contribuam na construção de políticas públicas.

Outro objetivo do COJIPE é oferecer uma educação diferenciada e contextualizada para e pelos indígenas. Assim, demandaram que não era necessário professores brancos migrarem para “educá-los” nos povoados. “Trazer o movimento indígena para pautas coletivas é essencial. Percebo que não saímos da colonização quando vemos, por exemplo, escolas com nomes de coronéis da ditadura militar que exterminaram índios”, finalizou Maurílio.

A imagem do índio nas escolas - Mônica Lima, uma das integrantes indígenas da roda de conversa, relatou como é constante a luta pela desconstrução da visão folclórica e estereotipada do índio.

“Conheço pessoas que têm vergonha de afirmar que são indígenas por justamente não se encaixarem no estereótipo conhecido dos índios no país, aquele de Xingu, cabelo liso preto, bem magro. Mas nós, do nordeste, não somos iguais aos de Xingu. Alguns têm barba, outros são loiros. E nós estamos vivos! Não somos um povo do passado”, conta Mônica, que recentemente precisou lutar para extinguir as comemorações folclóricas de Dia do Índio na escola de seu filho. “Dia 19 de abril, as crianças chegam em casa com uma peninha na cabeça, pintadas… Isso não é ser índio. Precisamos desconstruir isso em todas as escolas”, reivindica.


Cada um dos oito povos presentes falou da própria experiência de educação indígena e o trabalho deles pra quebrar estigmas e construções. O povo Xucuru, por exemplo, têm uma rica experiência com história oral na escola indígena por meio de rodas de conversa com os mais velhos, às vezes debaixo das árvores, saindo da escola física. Usando a história oral, os mais velhos repassam seus conhecimentos para que eles não se percam nas próximas gerações.

Oficina de stencil no primeiro dia da Tenda da Memória (Foto: Sílvia Barreto)Primeiro dia - A memória da Luta Camponesa pela Educação foi tema da roda de diálogos que abriu o primeiro dia da Tenda da Memória. A conversa, que contou com educadores e representantes de movimentos sociais como o MST, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco (FETAPE), traçou o histórico de lutas por terra e pela educação desde os anos 1940, quando as primeiras greves dos canavieiros começaram a se articular, até os dias atuais.

A discussão seguiu na reflexão da importância da manutenção dessa memória de luta e construção desta educação. “Há uma necessidade dos movimentos de exercitar e construir essa memória das lutas populares. É mantendo esta memória que a gente se reinventa e construímos nossas narrativas”, comentou Sonia Maria dos Santos, da FETAPE.

Foi comentada a atuação do movimento camponês desde a atuação das campanhas de evangelização pela Teologia da Libertação, com Dom Hélder, até a recente institucionalização de programas de inclusão. No turno da tarde, o Museu do Homem do Nordeste promoveu a oficina de stencil Democratização do Espaço Público, com participação de membros da COJIPE, representada pelos povos Kambiwá, Truká, Xucurú, Pipipã, Pankará, Atikum, Kapinawá e Quilimbola.

Durante a oficina, os participantes discutiram representação e seguiram para a atividade prática. Temas como a criminalização da grafitagem e o registro como representação de uma identidade foram discutidos.

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