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Cehibra recebe fitas cassetes com entrevistas de João Cabral de Melo Neto

Publicado: Quinta, 09 de Janeiro de 2020, 14h27 | Última atualização em Quinta, 09 de Janeiro de 2020, 17h52 | Acessos: 1343

Mídias foram doadas pelo jornalista carioca José Castello. Poeta e diplomata pernambucano celebraria seu primeiro centenário de vida nesta quinta (9)

João Cabral de Melo Neto (1920-1999) foi um diplomata brasileiro e poeta pernambucano reservado, o que se refletiu em uma obra cerebral, de escrita densa. Se estivesse vivo, o autor de poemas imortais da literatura brasileira - a exemplo de O Cão Sem Plumas (1949-1950) e do auto natalino Morte e Vida Severina (1955) -, celebraria 100 anos de vida nesta quinta-feira (9). A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) iniciou, em 2019, as comemorações à memória do ‘poeta engenheiro’ e, hoje, divulga a aquisição de fitas cassetes contendo conversas entre João Cabral e o crítico literário e escritor José Castello, que integrarão o acervo da Coordenação-Geral de Estudos da História Brasileira (Cehibra).

O material foi adquirido à partir da doação espontânea do escritor durante uma conferência no Seminário Internacional Casa-Grande Severina, promovido pela Fundaj no campus Derby, em dezembro do ano passado. Ao todo, são 16 fitas cassetes de entrevistas com o pernambucano, nos Anos 1990, realizadas por José Castello. “A importância desse material é antes de tudo documental. Há tão poucos documentos a respeito de João Cabral em Pernambuco. Ter uma série de entrevistas é um verdadeiro tesouro no aspecto da análise de sua obra e para entender sua personalidade”, destacou o gestor da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), Mário Hélio Gomes.

As mídias serão conservadas na sede do Cehibra, localizada no campus Apipucos, na Zona Norte do Recife, e estarão disponíveis para a consulta de estudiosos e da comunidade em geral. O local conta com grande acervo escrito e audiovisual, como discos musicais em diversos materiais, documentos de interesse histórico e memorialístico do País. “João Cabral é um dos maiores poetas da língua portuguesa e da cultura ibero-americana. Não é simplesmente um documento escrito, mas um documento de áudio, com a própria voz do poeta. Parte do conteúdo foi explorado por Castello, mas quem garante que não hajam declarações inéditas? O que nós temos é a totalidade dessas conversas”, observa Mário. 

A decisão de doar o material se deu pela preocupação com a manutenção física das mídias. Antes de formalizar a doação à Fundação Joaquim Nabuco, José Castello considerou doar o material a outras instituições, como a Academia Brasileira de Letras. “Fui ao Recife e fiquei impressionado com a seriedade e a qualidade do trabalho da Fundação. É uma instituição séria que funciona de forma aberta e organizada. João Cabral escreveu boa parte de sua obra em torno do Recife. Nada mais justo que doar os registros a uma instituição pernambucana. É mais uma peça sobre ele para ajudar pesquisadores deste e de outros séculos interessado na vida do poeta”, ressaltou o crítico literário.

| As entrevistas

O primeiro encontro de José Castello com João Cabral de Melo Neto foi em 7 de março de 1991, como repórter colaborador para o Caderno 2, do jornal O Estado de S. Paulo. “Na época, surgiu um boato de que [João Cabral] ganharia o Nobel de Literatura. Faltavam duas semanas e ele seria o primeiro brasileiro a receber o prêmio”, relembra o jornalista. Ao final da entrevista, quando se preparava para ir embora, foi convidado para um café e futuras visitas. O que ambos acordaram com duas condições: Castello pediu autorização para levar um gravador e registrar os encontros, João pediu para não falar sobre a vida privada, exceto de sua poesias e viagens diplomáticas.

Naquele período, aos 71 anos, João Cabral de Melo Neto sofria com problemas de visão e uma leve depressão. Envelhecido, tomava muitos remédios e tinha a memória conturbada, mas estava lúcido. Ao todo, foram 21 encontros, que aconteciam uma vez a cada 15 ou 20 dias - às vezes mais - e chegaram ao fim em 6 de abril de 1992. Como resultado, foram gravadas mais de 20 horas de conversas entre os dois e publicado o primeiro ensaio biográfico sobre o diplomata, o livro “João Cabral de Melo Neto: O Homem sem Alma” (Rocco, 1996). Relançado após a morte do poeta contendo o conteúdo inédito “O Diário de tudo”(Bertrand Brasil, 2006).

“Ele era muito zeloso em relação a sua privacidade e vida pessoal. Durante todas nossas conversas pessoais, o gravador era desligado. Mas sempre que saia do apartamento de João, na praia de Flamengo, descia e num pequeno boteco de esquina anotava impressões pessoais a respeito do encontro e as confissões feitas pela poeta. Quando trabalhei n’O Homem Sem Alma cumpri rigidamente o que me comprometi com ele; mas, também, em O Diário de tudo, as coisas mais pessoais foram deixadas de fora em respeito a sua memória, como relatos muito íntimos ou que pudessem se tornar polêmicas”, revela Castello.

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