Semana do Patrimônio emociona ao lembrar trajetória de Aloisio Magalhães
Primeiro dia do evento, reuniu familiares e amigos do designer pernambucano, exposições e oficina. Na terça (14), programação tem início às 10h
Uma verdadeira imersão na vida e obra de Aloisio Magalhães (1927—1982). Assim é possível definir o primeiro dia da Semana do Patrimônio da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), iniciada nesta segunda-feira (17). Com transmissão no canal oficial da Instituição, no Youtube, até a próxima quarta, 19 de agosto, o evento homenageia o pernambucano do Recife. A programação contou com a participação de figuras íntimas do artista plástico e designer, como de sua filha, Clarice, e dos amigos Joaquim Falcão, Gisela Abad e Joaquim Redig. Além de duas exposições sobre o homenageado, o público conferiu uma oficina de cartemas. Ao todo, o primeiro dia somou 1650 visualizações.
“Uma das missões principais da Fundação Joaquim Nabuco é a preservação da memória, do patrimônio e de legados preservados em seu rico acervo. Temos o orgulho de deter uma parcela significativa dos estudos e obras deste grande designer”, ressaltou o presidente da Fundaj, Antônio Campos, na abertura do evento. Participaram da abertura a gerente-geral de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe, Célia Campos, o secretário de Cultura de Pernambuco, Gilberto Freyre Neto, e a superintendente estadual do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Renata Borba.
“Mais uma semana dedicada ao Patrimônio, que traz, no formato de seminário virtual, reflexões das práticas em relação aos bens materiais e intangíveis. Uma programação com alguns dos mais relevantes nomes do patrimônio brasileiro e uma parceria com o Governo de Pernambuco”, celebrou o diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundaj, Mario Helio. Para Gilberto Freyre Neto, neste período pandêmico, é importante que diversas iniciativas sejam pensadas. “A cultura vive um momento difícil, principalmente na produção. A Semana do Patrimônio é muito rica, inclusive por estar homenageando o legado de Aloisio Magalhães”, afirmou.
Adiante, o advogado e escritor Joaquim Falcão, membro da Academia Brasileira de Letras e amigo de Aloisio, conversou com Mario Helio. “Coincidentemente comprei uma casa vizinha a de Aloisio, na Ladeira da Misericórdia, em Olinda. Um belo dia abri a porta e o vi olhando a fachada de sua casa. Digo que a gente não se conheceu, mas, sim, continuamos algo que vinha de muitos anos. Não tem momento, o que existiu foi uma continuidade. Não tem momento, o que existiu foi uma continuidade. Estava no nosso DNA. Não precisou de inauguração. Foi só um rio que passou em minha vida. Hoje, o que mais queria era abraçá-lo”, disse Falcão.
A presença de designer no acervo da Fundaj também foi destacada pela coordenadora-geral do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco (Cehibra), Albertina Malta. Além da exibição de obras que fazem parte do patrimônio da Fundação, memórias do homenageado foram resgatadas por Clarice Magalhães. “O tempo passa rápido demais, mas meu pai está sendo lembrado. Quando ele faleceu, era evidente que seus documentos tinham que ser doados à Fundaj. Considero isso como um destino natural. Nossa família reconhece o extremo cuidado na preservação de seu acervo”, destacou Clarice.
Com curadoria do museólogo da Fundaj Henrique Cruz, a exposição virtual “Presença de Aloisio — Um artista a serviço do Patrimônio Cultural” fechou a programação da manhã. Disponível em Issuu, a mostra conta com uma linha do tempo da trajetória do pernambucano, estudos de projetos desenvolvidos por ele, fotografias pessoais e o convívio profissional, além de uma sessão sobre a única exposição Açúcar e o Homem, com curadoria do homenageado, que inaugurou o antigo Museu do Açúcar — atual Museu do Homem do Nordeste (Muhne). Todo o material pode ser conferido aqui.
À tarde, o coordenador de exposições do Muhne, Antônio Carlos Montenegro, conversou com os designers Gisela Abad e Joaquim Redig. Os dois conviveram com Aloisio, compartilharam histórias e revelaram detalhes de projetos importantes, como a identidade da Petrobrás. “Aloisio era completamente pernambucano e carregava dois talentos dos quais fez um uso magnífico ao longo de sua vida: sempre somou as coisas, ao invés de descartar, e carregava uma enorme capacidade de dialogar. Ele dava nó em pingo d’água, sem impor ideias, apenas com argumentações inteligentíssimas e a arte do diálogo”, apontou Gisela Abad.
A designer recordou a genealogia de Aloisio. “A origem por parte de pai é sertaneja, de Serra Talhada. Não era uma família de usineiros, de engenho, de senhorzinho. O que faz com que ele carregue uma habilidade de diálogo que se adquire nos grandes feras do interior. É sobrinho de um político que mudou a história de Pernambuco: Agamenon Magalhães. A mãe dele foi criada em um casarão em Olinda. Nasceu em um Engenho na Zona da Mata, mas perdeu a mãe muito cedo e foi emancipada novíssima. Era uma mulher livre, criada fora daquelas estruturas de amarras. Minha avó conta que ela fazia coisas do tipo um jantar cor de rosa.”
Para ela, o ambiente de diálogo fortemente estruturado e liberdade foram cruciais para a construção do futuro designer. Sobre a formação de homenageado, conta: “Aloisio vai primeiro para as artes plásticas, embora tenha cursado Direito. Ele não podia cursar Belas Artes e não haviam cursos de Design [no Brasil]. Após estudar Museologia em Paris, abraça o Design quando vai para os EUA e, na Filadélfia, vê um curso. Mas também não joga fora tudo que veio do museu, ele soma. Vai somando coisas na trajetória dele.”, conta a designer, ao pontuar que “ele já era uma homem com as mãos sujas d’O Gráfico Amador”.
O também designer Joaquim Redig trabalhou no escritório de Magalhães no Rio de Janeiro, onde se tornou sócio. “O escritório foi muito importante para o processo todo. Até para ele chegar no Centro Nacional de Referência Cultural ou no Ministério da Educação e Cultura. Tudo isso foram passos, degraus da sua escada”, observa Redig. Em sua explanação, o professor de História do Design da PUC-Rio contou detalhadamente a criação da identidade da Petrobrás. “Passei seis meses viajando os postos do Brasil inteiro, do Oiapoque ao Chuí. Até então cada posto tinha sua identidade e ele vem com a ideia de criar um conceito e sistematizar.”
Outro projeto comentado pelo professor, foi a criação das cédulas do cruzeiro novo, das primeiras famílias do dinheiro brasileiro. “O pensamento de Aloisio no patrimônio era baseado em princípios do Design. Ele mesmo admitiu isso e é algo que venho estudando”, ponderou, ao observar a trajetória de Aloisio na gestão cultural. Ao fim da conversa, Gisela Abad cobrou uma rua ou espaço que celebre e reflita a obra de Aloisio no Recife. Assistindo à programação, Lourdinha Maciel comentou: “Viva esse artista tão maravilhoso e que pena o perdemos tão cedo! Aloísio Magalhães, tio que nos orgulha até hoje e como faz falta no Brasil.”
Em um momento super didático, o artista plástico e educador do Muhne Emerson Ponte apresentou a oficina de cartemas. Técnicas em que imagens idênticas são utilizadas para compor novas imagens a partir de rotações, espelhamento, justaposições e colagens. “Era um projeto fundamental nas obras de Aloisio Magalhães. [A técnica] vem à tona a partir da inclusão de designers, no Brasil, e as apropriações dentro do mundo da arte. O figurativo, o abstrato, a composição de linha, cor, volume, texturas, valem muito na hora de compor”, explica Pontes. As colagens produzem novas estampas. Confira a oficina completa.
Encerrando a programação da segunda-feira, a Fundaj lançou a segunda exposição da Semana do Patrimônio: “Olinda viaja a Paris — O Álbum de litogravuras”, que apresenta a série de obras produzidas por Aloisio para integrar o dossiê que pedia o reconhecimento da cidade histórica como Patrimônio Cultural da Humanidade, a Unesco. Ao todo, 11 peças estão expostas no catálogo. Também disponível no formato Issuu, a montagem conta com curadoria de Antônio Carlos Montenegro e ilustrações de Pedro Henrique Oliveira. Para conferir, clique aqui. Na terça-feira (18), a programação ainda mais centrada nas reflexões sobre os bens culturais brasileiros tem início às 10h.
Programação
18 de agosto
10h – Conferência “Ideias e práticas sobre o patrimônio em diferentes culturas.”
Kátia Bogéa, especialista em Historiografia Brasileira, ex-presidente do Iphan.
10h30 – Debate “Casa Forte, Poço da Panela, o Campus Gilberto Freyre da Fundação Joaquim Nabuco e outros temas sensíveis do patrimônio no Recife.” Rodrigo Cantarelli, servidor da Fundaj, mestre em Museologia e Patrimônio pela Unirio e doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
José Luiz Mota Menezes, arquiteto, historiador, professor da UFPE e duas vezes presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.
11h30 – Lançamento do “Catálogo Historicismos na arquitetura dos subúrbios recifenses: um recorte da Coleção Ecletismo.”
Rodrigo Cantarelli.
Edja Trigueiro, professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mestra em História pela UFPE e doutora pela Bartlett- UCL, Universidade de Londres.
14h – Debate: “Patrimônio imaterial – o que é, onde está, para que serve.”
Hermano Guanais e Queiroz, diretor do Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan, graduado em Direito pela Universidade Salvado (Unifacs/BA) e mestre em Preservação do Patrimônio Cultural pelo Iphan.
Maria Cecília Londres Fonseca, licenciada em Letras, mestra em Teoria da Literatura, doutora em Sociologia, coordenadora de projetos na Fundação Nacional Pró-Memória, membro do Grupo de Trabalho do Patrimônio Imaterial, representante do Brasil junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na elaboração da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, Membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan.
15h – Debate: “Patrimônio material e imaterial - passado-presente-futuro – como campos de tensão.
Lia Motta, arquiteta e urbanista pela UFRJ, especialista em Conservação e Restauração de Sítios e Monumentos pela Universidade Federal da Bahia, mestra em Memória Social pela Unirio e doutora em Urbanismo UFRJ
Célia Corsino, museóloga, com especialização em Administração de Projetos Culturais pela FGV e Metodologia do Ensino Superior pelas Faculdades Estácio de Sá. Ex-diretora do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan.
16h – Exposição virtual “Patrimônio imaterial: a consolidação das referências culturais brasileiras no Nordeste."
Curadoria de Frederico Almeida, coordenador-geral do Muhne.
19 de agosto
10h – Lançamento do livro Nordeste: Identidade Comestível
Apresentação por Ciema Silva de Melo, coordenadora da pesquisa que resultou nesse livro, servidora da Fundaj, mestra e doutora em Antropologia pela UFPE.
Participação de Laurindo Ferreira, diretor de Redação do Jornal do Commercio –
Depoimentos de entrevistados para o livro
Mana Asfora, que produz o tradicional bolo de noiva pernambucano.
Marieta Santos, de São Cristovão, Sergipe, produz tradicional queijadinha.
Dona Gertrudes, de Caicó, Rio Grande do Norte, produtora de queijo.
1030h – “Etnogastronomia do Nordeste: uma ideia realizada em livro.”
Ciema Silva de Melo
Bruno Albertim, jornalista, autor da pesquisa/reportagem e do livro Nordeste: Identidade Comestível.
Emiliano Dantas, fotógrafo desde 1998, pós-graduado em Antropologia pela UFPE, realizou a fotografia do livro Nordeste: Identidade Comestível.
Maria Lectícia Cavalcanti, escritora, imortal da Academia Pernambucana de Letras, pesquisadora gastronômica.
Silvana Araújo, servidora da Fundaj, mestra em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste pela UFPE.
Elizabeth Mattos, coordenadora de Projetos e Processos da Fundaj.
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