Celebrações da Memória faz singela homenagem a Joaquim Cardozo
Acadêmico José Mário Rodrigues surpreende público, recebeu, nesta quarta (7) músicos e faz recital em edição da parceria entre Fundaj e APL
“Se me perguntassem o que destina o grande poeta, eu responderia: ser capaz de fazer um poema inesquecível.” Essa foi a resposta dada pelo poeta Carlos Drummond de Andrade sobre o poeta, dramaturgo e engenheiro estrutural Joaquim Cardozo. Na terceira edição do projeto Celebrações da Memória, nesta quarta-feira (7), foi a vez do também poeta e jornalista José Mário Rodrigues resgatar a memória do autor de O Coronel de Macambira (1963). A palestra foi transmitida no canal da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no YouTube.
Promovida em parceria com a Academia Pernambucana de Letras (APL), a conversa trouxe diversas curiosidades sobre o responsável pela construção do Palácio do Planalto, em Brasília. “Prefiro dizer que Cardozo era um gênio, um dos últimos remanescentes da genialidade que tivemos. Seus conhecimentos não tinham fronteiras, trilhavam caminhos infinitos. Ora fazia o cálculo de um moderníssimo prédio — era o engenheiro calculista preferido de Oscar Niemeyer —, ora escrevia um poema como A Nuvem Carolina”, refletia o acadêmico.
Detentor da cadeira nº 30, da APL, José Mário relembrou a eleição de Cardozo para a instituição, onde ocupou a cadeira nº 39, e seu primeiro contato com a obra do poeta. “Conhecia de nome, mas nunca havia lido Joaquim Cardozo. Na [extinta] Livraria 7, abri bem na página 76 e estava lá o poema [Canto] do Homem Marcado. Isso me marcou muito também. Comprei o livro, levei pra casa, mandei encadernar e está sempre perto de mim. Se ele tivesse vivo hoje, teria 123 anos.”
Com o poeta, ele conduziu três longas entrevistas, que estão no livro Joaquim Cardozo - Poesia Completa e Prosa (Nova Aguilar e Massangana, 2007). Em uma delas, lembra, perguntou ao engenheiro como a rampa do Palácio do Planalto se sustentava, pois parecia suspensa no ar. “Existe outra rampa, do mesmo tamanho, debaixo da terra”, respondeu o maior responsável pela concretização também de obras como os Palácios da Alvorada, do Itamaraty e a Catedral de Brasília. Rodrigues brinca que nunca mais retornou a perguntar sobre engenharia ao poeta admirado.
Autor de O voo da eterna brevidade (Cepe, 2017), José Mário Rodrigues foi um dos coordenadores do extinto suplemento literário do Jornal do Commercio. No periódico, editou uma página em homenagem aos 80 anos de Joaquim Cardozo. “Era minha mais forte referência de grande cultura e de ser humano admirável. Transitava na engenharia dos números, mas criou uma poesia profunda, cheia de discreta delicadeza”, declara, ao recordar aspectos biográficos do homenageado, como o convívio com João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira.
Explorando a veia artística própria de quem nasceu no Sertão do Pajeú, o poeta recebeu os músicos Aline Florentino e Lucivânio Jatobá. Recitou As Cinco Estrelas do Mar, Mariana e Canto do Homem Marcado, de Cardozo, entre as canções Légua Tirana, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, Canto Triste, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, e Para não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré. Na ocasião, apresentou as versões que musicou de Poema do Amor sem Exagero e Poema das Cantadeiras, obras do engenheiro-poeta.
A palestra completa você confere no canal oficial da Fundaj.
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