Live revela paixão do Recife pela fotografia
História e curiosidade das coleções Alexandre Berzin e Francisco Rodrigues, comentadas por pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco, encantam público nesta quinta (12)
Seria o Recife a capital da fotografia? Ao que parece, sim. E a história atesta. Dos registros amadores ao colecionismo, a arte deixada de fora do manifesto de Ricciotto Canudo encontrou na capital pernambucana público cativo. Conclusão fácil para quem assistiu o bate-papo Retratos e Histórias - fotografias das coleções Francisco Rodrigues e Alexandre Berzin. Promovida nesta quinta-feira (12) pela sessão Villa Coletiva, da Revista Coletiva e Profsocio, a live foi transmitida no canal oficial da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no YouTube. Se você perdeu, acesse o link.
Da Letônia para a ‘Veneza brasileira’, Alexandre Berzin (1903—1979) fotografou mais de 50 anos. Foi um dos primeiros a registrar a folia no Carnaval que tomava ruas, becos e vielas da terra que adotou. Sua história é resumida pela professora Fabiana Bruce, da UFRPE, que publicou o livro O álbum de Berzin (Cepe Editora, 2012) a partir de achados da tese de pós-graduação ‘Caminhando numa cidade de luz e de sombras - a fotografia moderna do Recife na década de 1950’. Esta última, aliás, virou livro pela Editora Massangana, da Fundaj, em 2005.
O acaso ou destino fizeram as honras. Durante a pesquisa, Bruce teve a oportunidade de receber a Coleção Alexandre Berzin, recém doada ao Centro de Documentação e Estudos da História Brasileira (Cehibra), da Casa. A partir dali, o caminho se estreitou pelo ineditismo da coleção. “É de uma fertilidade incrível essa documentação”, comenta. Para a edição mais recente da revista digital Coletiva, ela assina o artigo ‘Adeus, Berzin! Olá, caderno de recordações’. Agora, Fabiana é especialista. Conta fatos curiosos, como Abelardo da Hora tendo aulas com o letão, dentre 600 outros recifenses.
É certo que a fotografia de Berzin causou um boom, despertando em muitos o interesse por dar os próprios cliques. Até então relegada aos instruídos, o artigo era raro e, por isso, excitava colecionadores. A tradição do colecionismo para algumas famílias era tão séria, que as conquistas eram passadas de pai para filho. Foi assim com Francisco Rodrigues (1904—1977). Antes dele, seu pai, Antônio Rodrigues levantou uma galeria de retratos oitocentistas. Por isso, a Coleção Francisco Rodrigues é considerada uma das mais importantes de retratos do Brasil.
Preservada no Cehibra, ela foi adquirida pelo Museu do Açúcar — atual Museu do Homem do Nordeste —, em 1960. Não por acaso, quem falou a seu respeito na live foi a pesquisadora Rita de Cássia Araújo, lotada no Cehibra e uma das organizadoras do título O retrato e o tempo (Editora Massangana, 2014). Ela conta a relação da coleção com a sociedade dos séculos 19 e 20. “A gente acompanha muitas transformações. Dos senhores de engenho aos usineiros, o trabalho urbano, professores, são homens, mulheres, crianças, grupos de amigos”, explica Rita.
Em 2011, a exposição Um retrato da sociedade brasileiro apresentou a Coleção Francisco Rodrigues no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Os detalhes sobre a construção da coleção são revelados pela pesquisadora, que reflete as mudanças do papel da fotografia nas famílias ricas dentre os anos de 1860 e 1920. A live refletiu, ainda, sobre registros famosos, como o da ama de leite escravizada Mônica, do fotógrafo F. Vilela. O encontro contou com a mediação dos pesquisadores da Fundaj e editores da Villa Coletiva, a historiadora Cibele Barbosa e do arquiteto Cristiano Borba.
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