La Ursa ganha exposição virtual no Muhne nesta segunda (8)
Performance e exposição de fotografias integram produção que celebra o brinquedo popular no litoral pernambucano
Carnaval no Recife sem La Ursa não é Carnaval, concorda? Mas não é só na capitá, pois ela dá o ar da graça ao longo de todo o litoral de Pernambuco. Por aqui, todo mundo conhece a brincadeira. Mas, e sua origem? A fim de contar essa história para lá de cabeluda, o Museu do Homem do Nordeste lança, nesta segunda-feira (8), a exposição virtual La Ursa de Carnaval, que integra a programação do Carnaval de Todos os Tons, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Em uma experiência inédita, a mostra será vinculada ao YouTube da Fundaj e apresentará desde fotografias da antropóloga Katarina Real, do acervo do Centro de Estudos da História Brasileira (Cehibra), até performance.
Curador da mostra e coordenador de expografia do Muhne, Antônio Montenegro comenta a escolha do brinquedo. “A ideia é focar no personagem que, além de interessante, é característico do Nordeste. É diferente do Bumba-meu-boi, que aparece em outras regiões”, justifica. As fotos utilizadas na mostra virtual foram produzidas entre as décadas de 1960 e 1980 e mostram a tradição do brinquedo. O público irá conhecer ursos que já não existem, como o Urso dos Torrões, o Urso Teimoso e o Urso Aliado, além das histórias em torno do personagem misterioso. Para não faltar a brincadeira, o arte educador Cleyton de Melo Nóbrega dá vida à performance ao som de trilha incidental.
Sobre a La Ursa
A brincadeira ganha as ruas e praias de toda a região metropolitana e litoral do Estado. Nos moldes atuais, o brincante vestido de urso dança como criança, seguido de um pequeno cortejo. “A La Ursa quer dinheiro/ Quem não der é pirangueiro”, cantam os arrecadadores que coletam os trocados que ajudam a manter a folia. No entanto, nem sempre foi assim. Antes, a figura do arrecadador era representada por um “domador”, também chamado de “italiano” ou “comandante”, conduzindo um chicote para castigar o animal. Em outros casos, havia até a figura do caçador, acompanhado de uma espingarda velha, atirando sempre que parecia que o urso iria escapar.
As teorias por trás da brincadeira vão do presidente da República Floriano Peixoto, após circular o boato de que seu filho lutaria com um suposto urso. Floriano Peixoto Filho era especialista em luta romana e teria fundado uma academia aos moldes da época no Recife, onde o fuxico ganhou as páginas dos jornais. No entanto, há quem conte que a La Ursa teria origem nos ciganos europeus, que percorriam as cidades com animais, presos numa corrente, dançando em troca de moedas. Hipótese semelhante foi levantada por Odílio Cunha, em 1948, no ensaio “Ursos e Maracatus”. Para ele, o urso veio da Itália, onde eram comuns os números circenses com o animal.
Fato é que a brincadeira ganhou novos contornos e foi reinterpretada pelo povo. Na obra “O folclore no carnaval do Recife”, publicado pela Editora Massangana, em 1990, a antropóloga Katarina Real realizou — talvez — a primeira pesquisa em “A ‘La Ursa’: os ursos de Carnaval do Recife”. No artigo, ela conta de um Recife onde os ursos pegavam fogo. Na rua, os meninos jogavam querosene ou cachaça e fósforos acesos nos brincantes. Em 1965, tentaram até fazer um concurso de ursos, mas, pelos riscos, os mascarados foram proibidos de circular. Naquele ano, apenas 18 ganharam as ruas — após tirarem licença para tal.
Serviço
Exposição La Ursa de Carnaval
Data: 8 de fevereiro
Horário:
YouTube Fundaj Oficial
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