Museu do Homem do Nordeste promove VI Theória
No dia 4 de novembro, às 19 horas, foi iniciado, na sala Calouste Gulbenkian da Fundaj/Casa Forte (avenida 17 de agosto, 2187), o VI Theória - seminário sobre fotografia e antropologia promovido e organizado pelo Museu do Homem do Nordeste. Museu, aliás, que é de antropologia, como bem afirmou a antropóloga Ciema Melo, no início do evento, talvez para demarcar bem o território, plural, que compõe a exposição permanente do MUHNE. O evento estende a sua programação, com oficinas e palestras, até a sexta-feira, dia 8 de novembro.
Sob o tema “Brasil: Imagens Nômades Perspectivas sobre uma terra em trânsito”, a apresentação do VI Theória teve, além da palavra de Ciema Melo em sua abertura, palavras da pesquisadora Rita de Cássia Barbosa, coordenadora do Cehinra da Fundaj, representando o presidente da Fundaj, Fernando Freire, e a diretora do MECA, Silvana Meireles, e da museóloga Silvia Brasileiro, representando o coordenador-geral de Museus da Fundaj, Maurício Antunes.
Os organizadores do evento explicam que o Theória é uma mobilização anual do olhar em torno desse conjunto complexo de fenômenos sócio-antropológicos algo arbitrariamente reunido sob o nome de um ponto cardeal, o Nordeste: 53 milhões de pessoas, de um país, um Brasil insubtraível do Brasil.
Pois logo em sua conferência inicial, às 20horas, o Theória trouxe para fazer sua exposição, uma conferência, uma pesquisadora de São Paulo, Fraya Frehse (USP), para falar sobre as imagens da cidade São Paulo, feitas pelo artista carioca Militão Augusto de Azevedo.
Não foi contraditório, nem o convite à pesquisadora, nem o tema da conferência,"Desvendando os silêncios da Fotografia de rua do Brasil oitocentista", pois a própria expositora tratou de afirmar ser o paulista um caipira, um sertanejo também. E bem logo agora, no momento em que a região de lá sofre também com a seca, como a de cá.
Interessante, e curioso, é que as imagens que a pesquisadora trouxe para mostrar, do seu trabalho, foram imagens que mostravam o crescimento da capital paulista, de 1860 a 1900 (por conta da expansão do ciclo econômico do café, da imigração européia, e da industrialização nascente), justamente no período em que o Nordeste caiu, politica e financeiramente.
Desenvolvimento paulista em detrimento do decesso econômico nordestino. Comparativamente ao Sudeste, de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, a Região Nordeste perdeu terreno e foi essa a época em que se agigantaram as desigualdades regionais, que estão refletidas em muitas imagens (de foto, cinema e vídeo). A literatura regionalista de 1930 vai evidenciar, no modernismo, essas disparidades, que a Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922, apresentou em imagens de um outro Brasil, que antropofagisticamente progrediu e se modernizou.
Homenagem
O evento teve também uma homenagem ao fotógrafo Alexandre Severo, morto no mesmo acidente de avião que vitimou fatalmente o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, feito pelo professor da UFPE, José Afonso Júnior, num discurso emocionado, que pediu, ao final, não um minuto de silêncio, mas um minuto de aplausos a Alexandre Severo.
Conferência
O professor adjunto do Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, Paulo Marcondes Soares proferiu a primeira da série de conferências programadas para a semana de realização do Theória.
Intitulada Exílio e Diáspora nas personagens de ficção Paulo Martins, do filme Terra em Transe, de Glauber Rocha (1967) e Paco, do filme Terra Estrangeira, de Walter Sales e Daniela Thomas (1996), a conferência de Paulo Marcondes é parte de um ensaio, publicado por ele, recentemente, na Revista Civitas de Ciências Sociais.
A ideia deste ensaio surgiu de reflexões do autor sobre questões de identidade manifestas nas produções cinematográficas do Brasil e de outros países das Américas Central e do Sul, nos anos 1960, e que denominei, noutro momento de “um cinema à margem”.
O estudo centra-se em aspectos das personagens Paulo Martins e Paco relativamente às dimensões identitárias, políticas e de contextualidade vividas por essas personagens na sociedade interna dos filmes.
Não se trata de traçar um perfil psicológico das personagens, mas de refletir o que as leva, e em que circunstâncias, a assumir determinadas atitudes frente ao impasse em que se encontram e de como suas atitudes, apesar de estarem relacionadas a situações históricas distintas, são construções ficcionais que se ligam a processos identitários que remetem a um sentido de lugar.
Ao passo que Paulo Martins se volta para o enfrentamento em defesa de um projeto político de nação, Paco parte para o exílio, lançado numa diáspora, sem quaisquer projetos políticos e sem o vislumbre de um lugar.
Ante a possibilidade de ser confinado a um exílio interno, Paulo Martins se lança numa rota suicida de enfrentamento. Por sua vez, Paco se vê lançado num exílio externo e numa situação à deriva, mas em busca de suas origens ancestrais. Numa situação, a personagem é compelida ao enfrentamento. Na outra, à fuga.
Cariri- As imagens de um Sertão e de um Nordeste sem seca, ou melhor, convivendo com as seca, foram mostradas nas conferências da jornalista cearense Raquel Paris e do escritor mineiro Pedro Jardim.
Raquel trouxe a baila fotos de cidades da Região do Cariri. Juazeiro do Norte, Barbalha e Nova Olinda são exemplos de cidades em que estratégias de convivência do homem com o semi-árido trouxeram benefícios para toda a sociedade. Dessa forma eles exploraram, através da arte, um filão que vem atraindo olhares dos estrangeiros para aquela região da Chapada do Araripe – entre Pernambuco, Ceará e Piauí, por causa das invenções que ali se constroem por moradores pouco comuns. O Coletivo Angu com Gelo é um dos grupos alternativos da região que Raquel fotografou. Eles são performáticos e trabalham com moda, fotografia, artes cênicas e cinema, entre outras artes.
Já o fotógrafo e escritor Pedro Jardim trouxe em sua exposição fotos dos seus livros que retratam as viagens que ele fez e faz, como na expedição ao Vale do Jequitinhonha, região de Minas fronteira com o Nordeste, que está sendo explorada pela indústria Suzano de papel e celulose, que plantou eucaliptos em extensas áreas do vale, tornando o local mais verde.
O QUE É O Theória ?
"Vale lembrar que para os gregos THEÓRIA era o ato de ver, olhar, observar, contemplar, examinar, assistir a uma festa, ou a própria festa. Ou seja, para os gregos, THEÓRIA era o ato inicial da compreensão. Olhar é compreender.
Contudo nem todo olhar possui a intenção de compreender. Há o olhar acidental, frívolo, indiferente que olha mas, a rigor, não vê. O olhar “teórico” é o olhar antecipadamente mobilizado para compreender.
O THEÓRIA é uma mobilização anual do olhar em torno desse conjunto complexo de fenômenos sócio-antropológicos algo arbitrariamente reunido sob o nome de um ponto cardeal. Nordeste: 53 milhões de pessoas. Um país, um Brasil insubtraível do Brasil.
Com o tempo o THEÓRIA aprendeu. O olhar aprende. E das primeiras imagens densas mas, apenas, panorâmicas foi descobrindo recursos para investigar o que havia sob a superfície sociológica acidentada da região e pela primeira vez, esse ano tem a intenção de apresentar algo comparável a uma endoscopia (afinal nossa ferramenta de prospecção social é a Imagem) de um dos Nordestes mais mostrados e menos compreendidos: o Sertão.
Vamos conseguir? Não sabemos.
Depende dos “olhares” inscritos".
PROGRAMAÇÃO DO SEMINÁRIO:


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