Silêncio ao Redor: Morreu o Cineasta da "Velha Geração" do filme pernambucano
O cineasta e jornalista Fernando Spencer morreu na madrugada desta segunda-feira (17), aos 87 anos, vítima de um câncer no pulmão. Ele estava hospitalizado desde quarta-feira (12), com um quadro de infecção.
Spencer tem uma longa cinematografia em Pernambuco e foi um dos cineastas mais atuantes do Super 8, na década de 1970, no Recife. Ele também foi conhecido como cineasta das três bitolas porque, além do Super 8, filmou 16 mm e 35 mm. Entre suas produções, estão Bajado – um artista de Olinda (1975), Estrelas de celulóide (1987) e O último bolero no Recife (1987). Por vinte anos, dirigiu a cinemateca da Fundação Joaquim Nabuco. E, como jornalista, atuou por mais de 40 anos como crítico de cinema, no jornal Diário de Pernambuco. Desde 2007, era Patrimônio Vivo de Pernambuco.
O velório ocorre no cemitério de Santo Amaro, na região central do Recife, onde o corpo de Fernando Spencer será sepultado, às 17 horas. Ele deixa seis filhos, oito netos e 13 bisnetos.
Spencer nasceu no dia 17 de janeiro de 1927, no Recife. Aos 87 anos, as imagens da história do cinema guardadas em fotografias e os pôsteres, pendurados na parede do terraço de sua casa, estão entre as cenas que ainda lhe inspiraram a prosa. Autor de mais de trinta filmes e documentários, sua ligação com o cinema começou na década de 1960.
Homenagem da Fundaj
Há dez anos, em 19 de fevereiro de 2004, a Fundaj rendeu um tributo a Fernando Spencer, exibindo três filmes, ampliados para 35 mm, do mais fértil realizador pernambucano.
Foi em mais uma etapa do projeto Documentário em Pauta - Trajetória do Documentário Pernambucano, que o Instituto de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco e a Massangana Multimídia, esfera audiovisual da instituição, exibiu na sala João Cardoso Ayres (na Fundaj do Derby), três de seus filmes - Santa do Maracatu, Adão Foi Feito de Barro e Estrelas de Celulóide - , com acesso franqueado ao público, essa homenagem a Spencer, “um realizador prolífico (com mais de 35 títulos no currículo) e atuante na preservação da memória cinematografica pernambucana”, disse, na época, a também cineasta e então diretora de cultura da Fundação, Isabela Cribari.
Os três filmes que foram exibidos foram produzidos entre os anos 70 e 80 - Adão Foi Feito de Barro em 1978, Santa em 1980 e Estrelas de Celulóide em 1986. Santa do Maracatu fala da Dona Santa, figura-chave da história das manifestações populares pernambucanas. " Este último, ganhou dois prêmios nacionais, assim como Estrelas de Celulóide, sobre as pessoas que fizeram o Ciclo do Recife dos anos 20, que ganhou o Candango de prêmio especial da crítica no Festival de Brasília", disse o próprio cineasta, que se voltou para o tema dos pioneiros do cinema local em outros curtas, como Jota Soares: Um Pioneiro do Cinema e Almeri e Ari: Ciclo do Recife e da Vida.
Para Spencer, a iniciativa da Fundaj serviu também para apresentar "à nova geração" o que se fez no passado. "A juventude de hoje não conhece nada do Super 8, por exemplo, só sabe de nome", lamentou. "É preciso preservar esses filmes, arrumar dinheiro para passá-los para DVD. Esses três que vão ser exibidos hoje foram feitos em 16 mm e chegaram a ser ampliados para 35 mm por conta de um prêmio do Conselho Nacional de Cinema, mas outros filmes meus permanecem em 16 mm", acrescentou o já saudoso cineasta.
Ao completar 80 anos, em janeiro de 2007, Fernando Spencer foi homenageado com o lançamento do DVD Paixão de cinema, sobre sua trajetória, com depoimentos de amigos que acompanharam sua carreira, recuperada pelo jornalista Marcílio Brandão, um dos sócios da empresa Página 21, idealizadora e executora do projeto. Surpreso com a homenagem, disse o cineasta: "Eu não esperava um trabalho sobre a minha vida. Não imaginava que eu fazendo cinema, um dia pudesse ser o protagonista da obra".
Biografia
Entre outras atividades, presidiu a Associação Brasileira de Documentaristas, além de ocupar o cargo de diretor da Divisão de Teatro e Cinema da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura do Recife, na década de 1970. Em 1980, assumiu a coordenação da cinemateca da Fundaj, onde trabalhou até o ano 2000, quando se aposentou.
O interesse pelo cinema começou ainda criança, quando seu pai o levava para assistir O Gordo e o Magro e Carlitos. Na adolescência, passou a freqüentar o cinema Ellite, no bairro de Casa Forte, onde fez amizade com o zelador e conseguia ver os filmes de graça, mas, em troca, ele tinha que limpar o cinema após as sessões. Conhecido como o “cineasta das três bitolas” (16mm, 35mm e super 8), foi com os filmes em super 8 que ganhou destaque, presenteando Pernambuco com um acervo de imagens, muitas delas certamente únicas, sobre o cotidiano, o imaginário, a memória e a cultura do Estado. Foi Spencer, por exemplo, que revisitou o Ciclo do Recife em cinco filmes, entre eles Memorando Ciclo do Recife (1982).
Spencer também se interessou pela cultura popular, filmando Toré, a Nossa Senhora das Montanhas (1976). Esta produção mostra a dança dos índios Xucurus na vila de Cimbres, no município de Pequeira (PE). Também se dedicou à adaptação de obras literárias para o cinema. Reconhecido não somente como roteirista e diretor, mas, especialmente, como pesquisador do cinema pernambucano, Fernando Spencer foi agraciado com o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, em 2007.
Filmografia
Caboclinhos do Recife (Super-8, 10m), melhor filme do I Festival Brasileiro de Cinema Super 8, Curitiba, PR, 1974.
Valente é o galo (Super-8, 10 m),, melhor filme da III Jornada Brasileira de Curta Metragem da Bahia, 1974;
Bajado – um artista de Olinda (Super-8, col., 10 m), 1975;
O teu cabelo não nega (Super-8, col., 10 m), 1975;
Domingo de fé (Super-8, col., 10 m., 1976),
Quem matou Marilyn, melhor montagem do IV Festival de Cinema Nacional de Sergipe, 1976;
Toré a Nossa Senhora das Montanhas (Super-8, col., 10 m), melhor fotografia do IV Festival de Cinema Nacional de Sergipe, 1976;
Farinhada (Super-8, col., 10 m), 1977;
A eleição do Diabo e a posse de Lampião no Inferno (Super-8, col., 10 m), 1977;
Frei Damião: um santo no Nordeste? (Super-8, col., 10 m), 1977;
Adão foi feito de barro (16 mm., col., 13 m), 1978. Ampliado para 35 mmpor haver sido selecionado pelo Conselho Nacional de Cinema – CONCINE,
RH positivo, melhor direção do Festival de Cinema do departamento Cultural do Centro Médico Cearense;
As corocas se divertem, melhor filme de comunicação e 2º melhor filme do VI Festival Nacional de Cinema de Sergipe, 1978;
Noza - santeiro do Carirí (16 mm., col., 10 m.), selecionado pelo CONCINE, Prêmio: Argumento, FUNARTE, 1979;
Cinema Glória, 3º lugar no VII Festival Nacional de Sergipe, 1979 (em parceria com Feliz Filho);
Eróticos Corbinianos, melhor filme na V Jornada de Cinema do Maranhão, 1981;
Santa do Maracatu (16 mm., col., 10 m), melhor filme e melhor montagem do IX Festival de Cinema Nacional de Sergipe, 1981;
Memorando Ciclo do Recife, melhor filme do concurso da TV Tropical, Recife, 1982;
Estrelas de celulóide, prêmio especial do Júri (Candango de Ouro) no XX Festival Brasileiro de Cinema de Brasília, 1987;
O último bolero no Recife, prêmio da Fundação de Cultura do Recife no I Concurso de Roteiro de Cinemas e Vídeo, 1987;
Trajetória do frevo (35 mm., col., 9 m), prêmio da Fundação de Cultura do Recife no I Concurso de Roteiro de Cinema e Vídeo, 1987;
Evocações Nelson Ferreira, melhor filme na Jornada Latino-Americana de Cinema e Vídeo, Maranhão, 1987. Melhor filme do III Festival de
Cinema dos Países de Língua Portuguesa, Aveiro, Portugal, 1988 (em parceria com Flávio Rodrigues);
A arte de ser profano (vídeo, 14 m), sobre os pastoris profanos de Pernambuco, 1999.
Almery, a estrela (vídeo digital), com o apoio da Diretoria de Cultura, da Fundação Joaquim Nabuco, lançado no Recife, em abril de
2007.
Fontes: JC On Line, Wikipédia, Diário de Pernambuco e o link Pesquisa Escolar/Fundaj.
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