Seminário Nordestes Emergentes exibiu resultados parciais e impressões de fotógrafos e pesquisadores envolvidos
A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) realizou, de 14 a 16 de outubro o Seminário Nordestes Emergentes, em Casa Forte. Aberto ao público, o evento apresentou a pesquisa “Nordestes Emergentes”, que começou a ser desenhada em 2010. A ideia é trazer uma nova representação da Região, longe dos estereótipos que formam o imaginário nacional, que exaltam apenas sofrimento e pobreza.
“Essa pesquisa é um marco. Nos últimos anos as ciências sociais ficaram muito abstratas, distantes da realidade. Uma ciência precisa produzir um conhecimento conversível ao bem-estar dos homens reais. Ciência social tem que beneficiar o seu objeto de estudo. Por isso, os Nordestes Emergentes sinalizam na direção de voltar a fazer ciência social povoada, com gente de carne e osso”, diz Ciema Mello, antropóloga e coordenadora da pesquisa.
A Fundaj convidou Milton Guran como consultor para o projeto Nordestes Emergentes. Jornalista de formação, o fotógrafo e pesquisador carioca conta que com o passar dos anos migrou da escrita para a fotografia. E como elegeu os povos indígenas como tema começou a ler sobre antropologia visual. Acabou fazendo doutorado na França sobre uso da imagem na pesquisa. Hoje, Guran é pesquisador do Laboratório de História Oral e Imagem (Labhoi) da Universidade Federal Fluminense. Ele escolheu os dez fotógrafos que acompanharam os pesquisadores nas expedições pelo Nordeste.
“Fiquei responsável pela proposta de pesquisa, pela metodologia de campo, pela seleção dos profissionais e a edição das imagens. Nossa ideia é trazer uma descrição visual densa do que foi precebido nas cidades”, explicou.
Duplas de pesquisadores e fotógrafos percorreram os nove estados nordestinos para mostrar uma nova representação da região, distante dos estereótipos do passado. Os Nordestes Emergentes (no plural) destaca um território em ebulição, que cresce e cria.
“Estamos falando em revoluções burguesas que acontecem de maneira espontânea. Se reconhece isso pela oposição dos nordestinos aos estereótipos do chapéu de couro, das propagandas das festas juninas com matutos desdentados ou por tentar mostrar a região apenas como um celeiro de manifestações populares”, defende a antropóloga Ciema Mello, coordenadora da pesquisa.
Na avaliação dela, essa revolução burguesa em curso não se dá pelo modelo clássico de acumulação de capitais. “O que está acontecendo é uma acumulação primitiva de ideias, que depois resulta numa mudança da realidade econômica”, complementa.
No Seminário, os pesquisadores apresentaram alguns resultados do trabalho. A abertura oficial foi conduzida pela diretora de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundaj (MECA/Fundaj), Silvana Meireles. Em seguida, Ciema fez uma retrospectiva da pesquisa. Às 10h30, o diretor-adjunto de Redação do JC, Laurindo Ferreira, e Jô Mazzarolo, da Rede Globo, capitanearam o debate: Os Nordestes Emergentes emergiram?
À tarde, a fotógrafa Fernanda Chemale e Ciema apresentaram Vale do Cariri, a nova Califórnia. A programação seguiu com a socióloga Rúbia Lóssio e o fotógrafo Iatã Cannabrava mostrando a “Miamização do Nordeste”, a partir do que viram em Fortaleza. Sobre a Bahia a pesquisa traz o tema “Africanização dos espaços urbanos: tensões e conflitos”, com Renato Athias e André Dusek.
Durante o evento também foi exibido o documentário Nordestes Emergentes, com direção e roteiro de Felipe Botelho. Com 40 minutos, o documentário foi realizado nas cidades de Juazeiro do Norte, Nova Olinda, Santana do Cariri e Crato, no Vale do Cariri (CE).
A pesquisadora Gleise Galiza apresentou os Nordestes Emergentes no Turismo, com o tema “Aluga-se o Nordeste pro weekend”, com foco na cosmopolita Praia de Pipa, no Rio Grande do Norte. Maior pólo de atração de investimentos de Pernambuco, o Complexo de Suape foi descortinado pela pesquisadora Helenilda Cavalcanti, que falou sobre “Uma expedição fotográfica no adorável mundo novo”.
“O seminário é um espaço para discutir os desdobramentos da pesquisa. Um deles será a realização de uma grande exposição fotográfica, que está sendo programada para o início de 2014”, adianta Guran. A pesquisa conta com uma seleção de 1.000 imagens e 300 laudas de textos.
:: GALERIA DE FOTOS DO SEMINÁRIO NORDESTES EMERGENTES
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