Desigualdades Regionais foram o mote das palestras de Fernando Freire e de Sérgio Rezende durante programação da Segunda Reunião Cuba Brasil no Século XXI
As desigualdades regionais na área da ciência e da tecnologia foram o mote das palestras do presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Fernando Freire, e do professor e físico Sérgio Rezende, ex-ministro da Ciência e Tecnologia no governo Lula (de 2005 a 2010), dentro da programação da Segunda Reunião Cuba e Brasil no Século XXI (2ª CBS21), no dia 31 de julho, das 10h às 12h, no auditório Benício Dias, do Museu do Homem do Nordeste, da Fundaj.

Fernando Freire foi o primeiro a expor o problema das desigualdades entre os estados do Norte e Nordeste comparados aos estados do centro-sul do Brasil. O Norte e o Nordeste ocupam uma área territorial bem maior do que os outros estados da federação, a população dessas duas regiões estão crescendo e a economia também, porém o investimento em ciência e tecnologia é bem maior no Sudeste, Sul e Centro Oeste do país, comentou o presidente da Fundaj. Freire expôs alguns dados que demonstram a desigualdade entre as regiões, referentes a investimentos nos setores da educação, da ciência e da tecnologia, e apresentou aos participantes do evento - sessenta pesquisadores de Cuba e do Brasil, das Academias de Ciência dos seus respectivos países – a história e o que faz a Fundação Joaquim Nabuco. E, ao falar da história da Fundaj, Fernando Freire contou que ela foi criada em 1949 pelo cientista social Gilberto Freyre justamente para desenvolver estudos e pesquisas na região Nordeste, para tentar diminuir as desigualdades sociais e econômicas dessa área do país. E mostrou que a Fundaj, além das pesquisas, agora também está desenvolvendo a formação, com cursos de pós-graduação em ciências sociais e em educação.
Sérgio Rezende falou sob o tema “Ciência e Tecnologia no Brasil: Alguns Desafios para o Brasil e Cuba”, iniciando a sua exposição com a história da educação e da ciência e tecnologia no Brasil. Rezende lembrou que o país só começou a se desenvolver industrialmente a partir do Governo de Juscelino Kubitschek e que os anos 1950 foram o ponta-pé na criação das primeiras instituições que investiram em ciência e tecnologia, como os órgãos de fomento à pesquisa, CNPq e Capes, em 1951, e a Petrobrás e a Embraer, ambas em 1950, estatais que começaram a exploração da energia e do combustível – petróleo e gás – e a construção de aeronaves.

O físico e professor relembrou que somente a partir dos governos do período da ditadura militar, entre 1964 e 1985, foi que houve um avanço na estruturação de bases mais sólidas para construção no país de um modelo de educação nacional institucional na graduação e na pós-graduação, a partir da Reforma Universitária, de 1968, que possibilitou o investimento, por exemplo, do BNDES nas pesquisa das pós-graduações, e a criação dos cargos em tempo integral para as carreiras de professor nas universidades. “O saber acadêmico passou a ser valorizado e a aproximação entre a academia e as empresas foi estimulada, com a criação da Embrapa, em 1972, e as pesquisas que vieram a dar no Proálcool, em 1975”, historiou Sérgio Rezende . Contudo, para o ex-ministro, com todos esses avanços, ainda há uma distância muito grande entre o que o Brasil realizou e o que ele pode fazer mais em ciência, educação e tecnologia. Somos a 6ª ou 7ª economia do mundo, porém, na pesquisa em pós-graduação somos apenas o 13º. “Em compensação, somos o 5º do mundo em pesquisa nas ciências agrícolas e biológicas”, disse Rezende. Para o físico e professor, faltam mais recursos em programas como o de energia solar, que é caro, mas que resolveria muitos problemas energéticos do país, sem causar impactos ambientais e ainda contribuindo para o ambiente limpo e renovável ecologicamente.
Rezende ainda elogiou bastante os governos de FHC e principalmente o de Lula, que foi na sua opinião, os que mais investiram em ciência e tecnologia, somente nos institutos nacionais de C & T, 609 milhões, pelo governo Lula, e em gestão, o período de FHC foi profícuo no estímulo a entidades geradoras de recursos, como a criação dos fundos setoriais de C&T, com novo formato de investimento, e no desenvolvimento de estudos que deram, a partir do ano 2000, no modelo flex-fuel de energia, atualmente o combustível utilizado pela maioria dos consumidores, porque 90% dos automóveis são flex, e o uso do etanol está igual ao da gasolina.

Todavia, Rezende falou que falta continuidade nas políticas de C&T, e tocou no assunto da diminuição de verbas para o Ministério da Ciência e Tecnologia, no atual governo, sem querer responsabilizar e/ou criticar Dilma Roussef: “Não vou falar a respeito do governo”, quando inquirido a comentar sobre a desigualdade no tratamento dos investimentos de pesquisa na Amazônia, fato provocado por uma pesquisadora do Rio Grande do Sul, durante debate, ou mesmo da contradição entre o crescimento do PIB no Nordeste e em Pernambuco, por causa do Pólo de Suape, sem o acompanhamento do crescimento nos investimentos em educação na região, fato despertado por um pesquisador cubano da Universidade de Havana.
Rezende anunciou, ao final da sua palestra, que, para evitar uma desigualdade maior entre os países do Norte e os países em desenvolvimento, como Cuba e o Brasil, um programa foi anunciado pela presidente Dilma, para conceder 100 mil bolsas, até 2015, de pesquisa para estudantes de pós-graduação, para estudos no exterior e para visitantes. E que as possíveis áreas de colaboração Cuba Brasil serão a biotecnologia, a nanotecnologia, muitas formas de energia solar, incluídos aí os biocombustíveis.
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