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Seminário de Museologia Social teve palestra do professor Aristoteles Barcelos Neto

Publicado: Quarta, 17 de Outubro de 2012, 17h02 | Última atualização em Quinta, 20 de Dezembro de 2018, 21h15 | Acessos: 1642

O professor Aristoteles Barcelos Neto

Aristoteles Barcelos Neto, professor da Sainsbury Research Unit e da University of East Anglia (Reino Unido), e colaborador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de São Carlos, foi o palestrante da 3ª edição do Seminário de Museologia Social, no dia 17 de outubro, na Fundaj.

Sob o tema “Formação e Documentação de Coleções Etnográficas: Desafios para a Museologia e a História da Arte Indígena, ele começou a sua palestra questionando o porque de não existir na Bienal de Arte de São Paulo nenhum artista índio. Aristóteles lembrou que em 1988 houve alguns artistas índios que foram levados por curadores para exporem sua arte, mas somente naquele ano. O professor fez uma reflexão: é como se a arte que eles, os índios, fazem não fizesse, ou fosse, parte do mundo contemporâneo, quando na verdade faz parte sim e é arte contemporânea. E o cerne da palestra foi para o espectador refletir se a arte indígena é ou não arte contemporânea. 

O professor Aristóteles Barcelos Neto disse que antropólogos não gostam de arte e que muitos deles não conhecem arte. Segundo o professor, arte é um dos temas mais minoritários, e quando eles usam a arte é como religião. Não utilizam a arte em si, e sim a arte apenas à serviço da religião. E quando aparece a arte, ela aparece como cultura material, mais para a economia. Aristóteles lembrou dos vanguardistas, dos anos 1920 a 1960, como Mário de Andrade e Lígia Clark, que pesquisaram a arte indígena e a utilizaram como inspiração para seus trabalhos, colocando o tema em debate na sociedade do país. E relembrou que desde o século XVI, no mundo, a arte indígena quando foi levada à Europa, causou uma revolução, ou melhor, quando peças e objetos de arte dos índios do México chegou em países da Europa, os europeus disseram que nunca tinham visto nada igual àquilo, e gostaram do que viram, começando, a partir daí, um contato direto e permanente entre os países colonialistas europeus e as suas colônias, na África e nas Américas, havendo intercâmbio e exportação da arte indígena destes continentes para o continente Europeu.

No entanto, o problema para o professor Aristóteles, que apareceu durante as suas pesquisas,  foi o da pouca fé que o antropólogo coloca na religião e não coloca na arte indígena, quando, na verdade, a arte regenera a religião, como na Nigéria, onde existe o Centro de Cultura Oxum, às margens do rio Oxum, que é um exemplo dessa regeneração. No Brasil, para a professor, essa relação da arte com a religião é estudada de forma dissociada dentro da antropologia, e é estudada mais pelos pesquisadores brasileiros que estão fora do Brasil.

Voltando ao assunto das peças e objetos que encantaram os europeus, nas exposições que foram realizadas em museus e galerias de arte dos países do velho mundo, Aristóteles remontou às coleções, que têm formação em cultura material, se perguntando qual o efeito que elas tiveram para a história da arte: as coleções etnográficas. O professor revelou que uma antropologia e uma história da arte indígena dependem da formação e do estudo das coleções, que, praticamente, se “acabaram” na década de 1960. Então, o professor Aristóteles provocou, afirmando que é preciso, no Brasil, reabilitar o lugar do museu na antropologia.

Para Aristóteles o que há é uma antropologia da arte sem história da arte e história da arte sem antropologia. Depois, ele relatou as coleções que ele reuniu, em seus estudos e pesquisas: a do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA (de 1998, com 286 objetos); a do Museu Nacional de Etnologia de Portugal (de 2000, com 627 objetos) e a do Musée du quai Braukly, de Paris (de 2005, com 42 objetos).

Aristoteles Barcelos comentou que, geralmente, os antropólogos e os historiadores da arte rotulam a arte indígena de arte cerâmica, como o artesanato da cerãmica marajoara, no Pará, etc., contudo há entre os índios amazônicos, como os da aldeia do Parque do Xingu, arte feita em plumas, penas de aves, como as encontradas em cocares e máscaras. A partir daí, a exposição do professor se concentrou na experiência dele com os índios do Parque Nacional do Xingu, quando Aristoteles, através de slides, apresentados em power point, mostrou para os presentes à platéia da sua palestra, onde se localiza a região do Xingu, entre a Savana, o Cerrrado e a Floresta, no Centro Oeste do Brasil, e da aldeia dos índios do Xingu, como os Kamaiurá, descobertos pelos irmãos Vilas Boas, próxima ao rio Kuluene. E fez uma observação: "os índios "agora", de 1998 pra cá, mudaram a sua aldeia, indo para as bordas do Parque, para proteger o miolo, e conservar, e fiscalizar, as suas fronteiras".  

“Os índios têm um imenso orgulho ao saberem que as suas peças estão expostas fora do Xingu, em museus e galerias de arte internacionais, como em cidades européias como Viena, na Áustria, e Berlim, na Alemanha, e também nos Estados Unidos, em Washington”, falou Aristoteles. “Estive no Xingu justamente quando a aldeia deles estava de mudança, sendo construída a nova, na borda do Parque, e a antiga, no miolo, estava sendo desocupada”, registrou o professor, para depois comentar: “Por isto, as atividades rituais estavam suspensas. São nestas atividades que as máscaras, principalmente, são usadas. E elas têm um status subjetivo, todas as máscaras têm de ser alimentadas, têm de comer, e fazer parte das danças, que tem aspectos performáticos e acontecem quando algum índio fica doente (com um espírito). Depois de serem utilizadas nesses rituais, as máscaras são descartadas, e quando ficam muito velhas, após anos, são queimadas”.

Porém, mesmo sendo queimadas anos depois de terem uso em algum tipo de ritual, as peças de arte indígena se diferenciam das obras de arte contemporânea dos não índios porque além da matéria elas têm substância, uma subjetividade própria, desta forma, na opinião do professor Aristoteles, os materiais utilizados na arte indígena, retiradas da natureza, como a madeira, têm alma e uma qualidade, substantiva, que vai além do concreto da matéria, pois ela precisa ser sentida, pelo cheiro, odores dos objetos, pelo tato, da textura do seu tecido, etc.. E este é o problema ao tentar se classificar a arte indígena como arte contemporânea, porque a arte dos brancos só se atém ao objeto em si, material, e não aos seus significados, e é, ainda, uma arte de experiência estática com a matéria, enquanto que com a arte indígena se têm uma experiência sensorial.  

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