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Melanie Smith expõe na Galeria Vicente do Rego Monteiro

Publicado: Quinta, 27 de Setembro de 2012, 09h34 | Última atualização em Quinta, 20 de Dezembro de 2018, 21h15 | Acessos: 2453

O Projeto Política da Arte, da Coordenação de Artes Visuais da Fundação Joaquim Nabuco,  traz ao Recife, a partir de 1º de Outubro de 2012, a exposição da artista inglesa Melanie Smith, que ficará em cartaz até 18 de novembro na Galeria Vicente do Rego Monteiro, na Fundaj Derby.  

Melanie Smith se mudou para a Cidade do México em 1989, recém-formada em artes visuais na Inglaterra. O que era um lugar onde planejava passar poucos meses se tornou território de vida, onde há mais de duas décadas desenvolve obra que é fruto da atração e do embate com a cidade que escolheu para residir. Assim como outros artistas estrangeiros que também se fixaram na capital mexicana no mesmo período, o que seduziu e continua a fascinar Melanie Smith ali são os paradoxos de viver em uma megalópole intensa e caótica, vital e impossível, experiência em tudo diversa da que tivera anteriormente em seu lugar de origem. Os trabalhos apresentados nesta exposição são todos frutos da continuada tentativa da artista de apreender, de vários modos, a dinâmica urbana de uma cidade que jamais deixa acercar-se por inteiro. Trabalhos que, talvez por reconhecerem a impossibilidade de seu intento, se aproximam muito de seu objeto tanto quanto dele se afastam; o mostram por inteiro e também de modo partido; o descortinam e simultaneamente o velam.

Lugar de fluxos intensos de mercadorias e serviços, alguns oficiais e outros à margem de qualquer regulação, a Cidade do México, como muitas outras cidades latino-americanas, abriga diversos mercados de rua itinerantes, que lá são chamados de tianguis. Percorrendo com uma câmara, de perto e em movimentos menos ou mais acelerados, as estruturas enfileiradas feitas de madeira e cobertas com plásticos coloridos que servem como estandes para expor produtos, Melanie Smith as exibe e ao mesmo tempo as esconde, por vezes abstraindo a funcionalidade das construções e dando mais a ver sua composição geométrica e exuberância cromática. Ao apresentar as cenas captadas em dois monitores adjacentes, alternando imagens em cores vibrantes e, simultaneamente, em seco preto e branco, a artista anuncia, em Tianguis II (2003), a ambigüidade urbana que a fascina e que busca apreender de maneiras variadas. Às cenas do mercado que deslizam frente aos olhos, adiciona ainda sons próprios da rua (de vozes, motores, sirenes) que, ao final, se transformam para evocar a batida orgânica e vital que vem de dentro de corpos, cujas imagens não cabem, contudo, na moldura do trabalho, estando ali apenas implicadas.

Diferentemente dessa perspectiva terrestre e detalhada da cidade, em que a câmara-olho quase roça os mercados que se espraiam pelas ruas, o vídeo Spiral City (2003) assume o ponto de vista desde o alto e macroscópico, distanciando-se cada vez mais, em movimentos circulares e gradualmente mais amplos, daquilo que são elementos reconhecíveis de modos de habitar o espaço. À medida que a câmara sobe e amplia o alcance de seu registro ótico, revela a imensa malha urbana ortogonal de que é feita a maior parte dessa cidade tão densa e extensa. Nesse processo de afastamento do chão, abstrai características do tecido urbano até que tudo o que é particular se torna vago, mero conjunto de blocos construídos em grade. Assim como em Tianguis II, também aqui não cabe, desta vez por conta da distância crescente que a câmara toma da cidade, o registro individual dos corpos que atravessam as ruas e que vivem e trabalham nas edificações que o vídeo exibe. Contrastando as formas retas e homogêneas filmadas e o movimento circular e ascendente da câmera que as anota de cima, Melanie Smith afirma, uma vez mais, a impossibilidade de plena captura simbólica do território onde vive, desmanchando detalhes da cidade e transformando-os em manchas cinzentas cavadas por linhas.

Não é somente por meio da imagem em movimento, contudo, que a artista pesquisa e exercita seu fascínio com o misto de arranjo construtivo e desordem constitutiva que marca a experiência urbana na Cidade do México. A pintura é também instrumento fundamental da investigação dos ritmos e dos arranjos, tanto os simples como os complexos, que estruturam a vida naquele lugar. Agrupando imagens pintadas de tamanhos variados, mas quase sempre em escala doméstica, Melanie Smith mistura, em cores baixas e aparência enevoada, representações de paisagens, de vistas aéreas da cidade, de pássaros e de corpos dos quais quase somente se distinguem seus contornos. De tão tênues que são as imagens que oferecem de seus referentes, várias das pinturas, aqui reunidas como fossem uma pequena coleção, situam-se, de fato, à beira da abstração. Menos do que constituir inventário, ainda que evidentemente incompleto, do que seria familiar a quem vive ali, o que lhe interessa é capturar o caráter fragmentado e múltiplo dos estímulos visuais que informam a vivência na cidade. Não se trata, portanto, de fixar partes da vida urbana em pinturas bem acabadas, mas sim de atestar, por meio de registros frágeis de pedaços ordinários dela, a paradoxal impossibilidade de representá-la.

Na série de filmes que tomam seus nomes do vilarejo onde foram realizados, nas cercanias da Cidade do México – Parres I, II e III (2004-2006) –, a artista exercita, como se estivesse a criar trechos de narrativas das quais é preciso imaginar seus inícios e términos, a relação próxima de sua obra com a ideia de opacidade. Faz com que imagens de situações de vida cotidiana (casas e corpos comuns) sejam confrontadas com a prática da pintura, que, em vez de representá-las, gradualmente as encobre com um monocromo (Parres I), do mesmo modo que a dissolução da superfície integralmente velada por uma cor aos poucos revela a cidade no que ela tem de mais ordinário, ainda que mantendo sua limitada visibilidade (Parres III). No outro filme que completa a trilogia, contudo (Parres II), é a própria natureza ficcionalizada que desempenha a função da pintura, escondendo e depois parcialmente revelando gente e paisagem. Melanie Smith parece valer-se dos meios que usa – imagem em movimento, pintura – não para registrar fielmente o lugar que elegeu para trabalhar e viver, mas para mostrar que somente ao tornar opacas as imagens que cria dele é que pode de fato traduzi-lo em sua complexidade.

Integram a exposição Melanie Smith, os seguintes trabalhos:

Tiaguis II (2003) [em colaboração com Rafael Ortega]

Vídeo, 5’15”

Spiral Sity (2002) [em colaboração com Rafael Ortega]

Vídeo, 5’50”

Parres I (2004) [em colaboração com Rafael Ortega]

Filme 35mm transferido para vídeo, 4’20”

Parres II (2005) [em colaboração com Rafael Ortega]

Filme 35mm transferido para vídeo, 3’42”

Parres III (2006) [em colaboração com Rafael Ortega]

Filme 35mm transferido para vídeo, 4’25”

Sem título, 2012

Conjunto de 12 pinturas em dimensões variadas sobre tela, cartão ou madeira.

 

:: Saiba mais sobre a artista

Melanie Smith nasceu em 1965, em Poole, Reino Unido, e radicou-se na Cidade do México, México. Participou da 54ª Bienal de Veneza, Itália (2011); da 8ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, Brasil (2011); e da 8ª Bienal de Havana, Cuba (2003). Entre as exposições coletivas de que participou recentemente estão: Another victory over the sun, no Museum of Contemporary Art Denver, Estados Unidos (2011); Die Nase des Michelangelo, na Galerie Peter Kilchmann, em Zurique, Suíça (2010); The twentieth century, na Tate Liverpool, Reino Unido (2009); e ¡Viva la muerte!, CAAM – Centro Atlántico de Arte Moderno, em Las Palmas de Gran Canaria, Espanha (2008). Além de mostras individuais na Galerie Peter Kilchmann, em Zurique, Suíça (2012); Bulto, no Museo de Arte de Lima, Peru (2011); e Xilitla, na El Eco, na Cidade do México, México (2010). Esta é a primeira exposição individual de Melanie Smith em uma instituição brasileira.

 

:: Saiba mais sobre o projeto Política da Arte

Desenvolvido pela Coordenação de Artes Visuais da Diretoria de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco, teve início em 2009. O projeto compreende a realização de mostras e ações reflexivas, articulando dimensões distintas, mas igualmente importantes, das atividades da Fundação Joaquim Nabuco. O projeto Política da Arte tem como pressuposto a noção de que mais do que dar visibilidade a imagens, textos e ideias criados em outras partes, a arte é capaz de, a partir dela mesma, desafiar os consensos e acordos que organizam e apaziguam a vida. Ao embaralhar os temas e as atitudes que a cada lugar e momento cabem no campo do possível, a arte aponta para a possibilidade do novo e tece a sua própria política.

 

:: Serviço

Abertura da exposição de Melanie Smith em 1º de outubro, das 19h às 22h.
Visitação de 2 de outubro a 18 de novembro, de terça a domingo, das 15h às 20h. 
Galeria Vicente do Rego Monteiro - Rua Henrique Dias, 609 - Fundaj Derby.

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