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Palestra do presidente da Fundaj na Academia Pernambucana de Letras

Publicado: Segunda, 26 de Março de 2012, 09h02 | Última atualização em Quinta, 20 de Dezembro de 2018, 21h16 | Acessos: 2047

A Academia Pernambucana de Letras (APL) promoveu palestra com o presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Fernando Freire, sob o título Os Desafios da Educação no Novo Brasil. O evento ocorreu no dia 26 de março, das 16 às 18 horas, na sede da APL, na avenida Rui Barbosa, 1596, no bairro das Graças, no Recife. 

Na apresentação que fez do presidente da Fundação, antes de sua palestra, a presidente da APL, a escritora e antropóloga Fátima Quintas, ao dizer que Fernando Freire era engenheiro agrônomo, professor da UFRPE, com mestrado, doutorado e pós-doutorado, em solos, pela Universidade Federal de Viçosa (MG), fez questão de ressaltar que gostou quando ele assumiu a presidência da Fundaj, porque ele é um homem que cuida das coisas da natureza como cuida das coisas da cultura, e tem sensibilidade especial para as questões da sociedade, do homem”. E destacou: “Ele é um humanista”. 

Na sua fala, Fernando Freyre lembrou que aquela sua palestra era um pouco do que ele já tinha apresentado no mês de setembro de 2011, na Universidade de Columbia, em New York (USA), quando enveredou pelo mesmo tema: Os Desafios da Educação no Novo Brasil. E fez uma revelação de uma história que simboliza em que nível está a educação no país, neste momento de transformação: lembro que a empregada do irmão do ex-ministro da Educação, Cristovam Buarque, pediu aumento para colocar o filho numa escola particular, porque a professora dele havia dito que ele era um aluno muito bom para estar numa escola pública. E lembro de outro fato, representativo do processo de mudança que está ocorrendo neste período com a educação e que aconteceu aqui em Pernambuco, no Recife, no bairro de Apipucos, mais exatamente numa escola de referência do governo estadual, a Cândido Duarte, que entre seus professores ensinam pesquisadores da Fundaj e professores da UFRPE, porque há uma parceria entre o estado e a Universidade lá. Então, porque ela tornou-se um modelo de educação, mesmo sendo pública, os pais de alunos que estudavam em escola particular, sendo muito desses pais servidores e professores da UFRPE, de classe média, sabedores que essa escola era boa, começaram a colocar os seus filhos para estudarem lá, retirando vagas que seriam de estudantes da própria comunidade de Apipucos e adjacências. Essa é uma história que simboliza o que está ocorrendo no país nesta fase de transição da educação no Brasil. 

Depois, Freire discorreu sobre os problemas que ainda persistem, neste processo de melhoria da educação por que passa o país nos últimos dez anos. Contou que a Provinha Brasil, um teste para quem está terminado o fundamental I, que são crianças de até 9, 10 anos de idade, está apresentando dados preocupantes, porque os meninos e as meninas não conseguem fazer as contas de matemática direito (quando deveriam saber fazer) e não sabem escrever corretamente a língua portuguesa para o seu nível escolar, ou seja, não conhecem a gramática. E isto, sendo reflexo, dos dados econômicos das famílias a que as crianças fazem parte, que são muito significativos, uma geração com dados muito preocupantes neste sentido, e que é preciso realizar alguma coisa urgente. Discursou: “a gente não tem uma política forte, determinada para a educação. Estamos brigando pelos 10% do PIB para a educação, enquanto o governo quer nos dar apenas 7% do PIB. Todas as propostas, as 20 metas do Plano nacional de Educação, o PNE, não serão atendidas se 10% do PIB não forem colocados para a educação. Não há política muito forte para a educação, apesar do esforço da presidente Dilma”. 

Com relação ao ensino médio, adolescentes dos 15, 17, 18 anos, Freire disse que o exame nacional do ensino médio (o ENEM) também tem dados preocupantes em relação às escolas públicas: “se perde mais no ensino médio do que no fundamental. A garotada mais jovem consegue ficar na escola. Porém, no ensino médio, a economia da família não permite que o adolescente fique na escola. Alunos que estão no ensino fundamental são quase 100%. No ensino médio esse percentual diminui. A meta do PNE para até 2020 é que 50% das crianças de de 0 a 3 anos de idade estejam nas escolas. No 9º ano, 100% das crianças já estão no ensino fundamental. Quando chegam ao ensino médio, os estudantes precisam contribuir com a renda familiar e deixam a escola – evasão no ensino médio - e isto é muito ruim em um país que está crescendo. Precisa ter educação forte, de qualidade”.

 Explicou que o Reuni serve para que pelo menos 90% dos alunos que entram na universidade saiam dela formados. A vaga ociosa é cara para a universidade, é um problema seriíssimo.

 E fez uma declaração: “faço certa crítica ao Enem que vê mais pela nota do candidato/aluno para entrar na Universidade, do que pela vocação. Para ele, não só a nota deve ser o critério, pois dessa forma, um estudante só consegue nota para entrar e vai fazer engenharia florestal na universidade, quando sua vocação, o que ele queria ser era médico. A nota dele não deu, e ele só conseguiu ser engenheiro florestal, foi para uma área completamente diferente. Temos que rever isto”.

 Freire informou que é uma coisa que a universidade se preocupa demais, e que é um problema sério: o da assistência estudantil, a renda pequena demais das pessoas, e como a família vai manter o estudante com uma renda tão pequena ? Acaba que a evasão na universidade, em alguns cursos, chega a 50%, 40%, 30% . Não pode ficar nesses números, tá muito baixo. Está certo que não saiam graduados 100% dos alunos que entrem, mas metade disso, 50%, ou menos, é muito baixo.

 A solução, para Freire, é a de abrir novos cursos e abrir mais vagas, mais alunos nas universidades, incluindo as cotas, na proporção de 18 para 1 (relação professor/aluno). Em Pernambuco um grande exemplo disso, colocou o presidente da Fundaj, é que não tinha educação superior fora do litoral, da capital, Recife, até 2004. De 2005 para cá, abrimos quatro unidades acadêmicas fora desse eixo, duas da UFPE e duas da UFRPE em outra área territorial do estado, nas cidades de Garanhuns e de Serra Talhada, que fica há cerca de 500 Km do Recife, e, no meio do mato, 126 professores, 80% deles doutores, são as pessoas que vão mudar a face daquela região, de gente que vive entranhada naquelas serras. Isto porque, se formos ver, abriu a Univasf, em Petrolina (PE), mas este município vem crescendo como ninguém no país, já existe toda uma economia em desenvolvimento, enquanto em Serra Talhada, por exemplo, praticamente no meio do estado, numa região que envolve Salqueiro e Arcoverde , ainda é muito difícil o desenvolvimento. O reitor da UFRPE, Valmar Corrêa, segurou isso, essa idéia e colocou a universidade lá e eu era pró-reitor de pesquisa e pós graduação da Rural., à época. As outras duas unidades da UFPE são em Caruaru, com cursos de Design e de Engenharia Civil, e em Vitória de Santo Antão. Essa é a proposta do Reuni, a reestruturação da Universidade, com incrementos de forma positiva à educação superior. A UPE também está forte neste projeto e outras 13 autarquias educacionais, na formação de professores.

 O Ensino superior melhorou bastante e o ensino médio fundamental também, mas e a educação básica, com baixos Índices de Desenvolvimento da Educação? O chamado IDEB ? perguntou Freire.

 Estamos ganhando alguma coisa neste sentido, por enquanto, respondeu o presidente da Fundaj, mas para ele, ainda é um índice muito baixo. Desta forma, Freire pensou num jeito de, associado aos programas Mais Educação e de Educação em Tempo Integral, com aulas, em horário integral,e, nos finais de semana, comprar dois ônibus para fazer o transporte de alunos das escolas para a Fundaj, para conhecer os espaços educativos/culturais de lá. Nossa idéia é, através de um recorte, para crianças e adolescentes dos 9 aos 14 anos, alunos do ensino fundamental II, porque pesquisamos e o resultado é que existem escolas em que o IDEB delas é entre 1 e 2,9, então vimos quais as escolas da Região Metropolitana do Recife (RMR) que tem entre 1 e 2,9 e encontramos 263 escolas com o ensino fundamental II com esse IDEB baixo.

Estamos recebendo do Ministério do Desenvolvimento Social e do Combate a Fome (o MDS) um outro recorte de estudo, que dessas 263 escolas que tem índice baixo quais delas são do Programa Bolsa Família (PBF), ou seja, que tem entre 50% mais 1 aluno com a família que recebe tem o PBF. E são todas elas, as 263. Então, com esse recorte de IDEB baixo, e porque a família tem uma renda muito baixa, é por isso que queremos esse projeto de levar as crianças aos espaços sócio/educativos culturais da RMR e para isso precisamos de parcerias. E porque queremos fazer isso, conversamos com a Fátima Quintas, para, com a APL, com outras instituições/entidades, como a Fundação Gilberto Freyre, fazermos isso, levar os jovens dessas escolas ao Cinema, aos Museus, aos engenhos, num circuito desses pré-adolescentes na faixa dos 9 aos 14 anos, que têm renda familiar muito baixa. Levar eles para esses espaços, como o Engenho Massangana, para a APL para que eles possam entender o quanto é importante a educação e que a educação não é uma coisa para privilegiados. Vamos começar isto ainda em abril deste ano.

 Conversei com a Fátima, da APL, vamos conversar com o Alexandre Santos, da UBE, e estivemos conversando com o Frederico – do IPHAN - lá no engenho onde nasceu o Manuel Correia de Andrade, o Jundiá, em Vicência (PE). Vimos o Engenho Poço Comprido recuperado, o único de tombamento federal, que está numa condição muito precária, isto é, reformado mas abandonado, por outro lado, isolado. O Poço Comprido, da Usina Laranjeiras, do grupo Monteiro, precisa de custeio, de alguém para tomar conta dele. E é isto, vamos levar as escolas do Recife para os engenho da Região Metropolitana do Recife e da Zona da Mata, através da Fundaj e parceiros.

 Outra questão apontada por Fernando freire foi a de que as regiões Norte e Nordeste do Brasil são as que apresentam um IDEB mais baixo e isso é mais preocupante quando vemos que as universidades dividem o Brasil. Em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os privilegiados, a coisa é diferente, e aí se pega o Nordeste e estados como o Maranhão, o Espírito Santo e o Mato Groso do Sul, onde é que vamos encontrar Bolsistas de produtividade, que é um projeto do MEC, para fortalecer o ensino, a educação. Numa série de índices que avaliamos, encontramos um percentual de que 65% desses investimentos em pesquisadores, dos bolsistas de produtividades, estão eles, em sua maioria, mais no Sudeste. Essa diferença nos maltrata muito. Como diminuir essas diferenças regionais ? É outro questionamento que faço, mas para o qual não tenho respostas ainda. Mas, estamos trabalhando para diminuir essas desigualdades, com o exemplo da nordestinação da própria Fundação.

 O que emperra um pouco é a burocracia, admitiu Freire. “Só agora, em 20 de março, conseguimos o novo estatuto e isso me preocupava, porque há lá, no novo estatuto, a criação de uma diretoria, de formação, e a Fundaj precisa fazer um pouco de formação também. Não é a que a Universidade faz, não precisamos repetir. A UFPE e a UFRPE fazem muito bem isto já, de outra maneira, na maneira convencional dos cursos de graduação e pós, de strictu sensu. Na minha casa original, a UFRPE, minha principal atividade era ensino e pesquisa, mas tem também a extensão, e vemos nos relatórios pesquisas, que funcionan projetos de pesquisas de extensão, que não ficam tão brilhantes, porque falta mais um pouco da prioridade na extensão nas universidades.

Então, o que fazer ? se pergunta Freire, para logo após responder: Que o principal da Fundaj é a pesquisa, tudo bem, mas precisa difundir a pesquisa, e para difundir temos a editora, a produtora, e tudo isto é extensão, muito bem feita pela Fundaj, muito mais do que pelas universidades. Mas o que faltava era que essa difusão seja materializada nas pessoas. Formar as pessoas, com cursos de especialização e de mestrados profissionais.

 Depois, Freire narrou: “Hoje fiquei feliz, desde que tomei posse na Fundaj, em 11 de abril de 2011, porque estamos inaugurando um curso de especialização de gestores culturais, ás 19 horas, na Fundaj/Derby, um curso itinerante, que é uma parceria UFRPE, Fundaj e MINC, em que o MINC deu quase 1 milhão de reais e as secretarias de educação dos 7 estados do Nordeste também contribuíram (só dois estados não participaram, Maranhão e Sergipe). Nós tivemos entre 7 e 9 alunos indicados, de cada destes sete estados, para fazer uma turma de 50 alunos desse curso itinerante. Coloquei 30% de recursos da Fundaj e com isso estamos tirando a Fundaj de Pernambuco para o Nordeste. Ela está se alastrando, e é um gargalo muito grande, ainda.

 Freire comentou que, em 2013, quer fazer um mestrado profissional no Nordeste, também em gestão cultural. Na sua opinião, “a gestão cultural é muito difícil , um negócio muito diferenciado, e estamos dando contribuição a esse sistema, o Sistema Nacional de Cultura (SNC). O presidente da Fundaj anunciou também que haverá um Curso de estatística social, junto a UFRPE, a UFPE e a Fundaj, com a expertise que as universidades já têm e podem oferecer a Fundaj, de como fazer pesquisa social neste curso de estatística social, que terá apoio do IBGE.

 Outro anúncio de Freire foi o do curso de especialização em educação infantil, que começará em agosto, feito pela Coordenadoria Geral de Estudos Educacionais (CGEE), da Diretoria de Pesquisa Social da Fundaj. Eram essas as contribuições que queremos dar até 2020, explicou Fernando Freire, que estão alinhadas, dentro, mesmo, do Plano Nacional de Educação (PNE), no momento. Ele citou que, “reestruturamos a Editora Massangana, sendo o poeta, escritor e mestre em literatura pela UFPE, Paulo Gustavo, o seu novo editor. E relembrou: Em 11 de abril se reunirá o Conselho Editorial da Editora Massangana, composto, entre outros, pelos professores José Batista (Neto), Paulo Henrique Martins e Anco Márcio Tenório, da UFPE, e já Temos 7 ou 8 propostas de publicações para serem publicadas, apresentaremos as obras e qual a política editorial que a editora terá e as novas séries editorias da Massangana. Freire tratou de adiantar que Paulo Gustavo está muito entusiasmado na Massangana e que todo um processo de mudança, publicação, renovação e reciclagem de nossa estrutura, na Fundação, de juntar, por exemplo, a cultura com a memória numa Diretoria única não tem sido fácil, mas que outras mudanças virão, como um novo rumo para o Cehibra.

 O edifício Dolores Salgado, do Cehibra, da Fundaj, é um exemplo disto. Fizemos propostas ao FINEP, a Chesf, uma parceria é o que precisamos para fazer ali, empreender uma proposta certa, de um Centro Avançado nesta área. É a minha missão de estar lá, à frente da Fundaj, pelo menos, até 2014, finalizou.

 Ao final, no horário dos debates, que seguiram a palestra de Fernando Freire, houve comentários de Fátima Quintas, sobre a palestra e sobre Freire: “Ele é esse empreendedor extraordinário, com esse recorte de humanista e nossa parceria com o museu da Fundaj já está acertada, não só com o museu, mas com outras áreas da Fundaj, para parcerias, inclusive com seminários. A escritora e antropóloga recordou que trabalhou na Fundaj por 37 anos, como pesquisadora, e, falando em nome dos acadêmicos da APL, que ela preside, registrou para Freire: "nós depositamos  em você essa enorme esperança. Na minha opinião, A Fundaj esmorecia e com você na presidência dela, eu vejo esse sol, esse alvorecer na Fundação em que trabalhei". 

O acadêmico, escritor Lucilo Varejão Neto se disse cético quanto à melhoria da educação no país, mas comentou: “Vejo no senhor uma confiança imensa. Alguém muito engajado com a educação”. E outro membro da APL, o ex-deputado, e escritor, Antônio Corrêa teceu o seguinte comentário: “quem teve o prazer de ouvi-lo ficou mais otimista”.    

O escritor e pesquisador Frederico Pernambucano de Mello, membro da APL, se dirigiu ao palestrante, comentando saber, ser, a instituição presidida por Freire, a Fundaj, difícil de ser compreendida pela sua complexidade. Explanou: “passei 15 anos ao lado de Gilberto Freyre na Fundaj, senti a mesma angústia que vosmicê deve sentir, para explicar o que é Fundaj, como quando fui a Brasília despachar com o ministro do MEC, na época, porque faltou alguém mais veterano que eu, na Fundação, para ir até lá, e eu fui, ainda novo, discutir problemas da instituição com o ministro Hugo Napoleão.

Ao chegar lá, ele me deu cinco minutos para explicar o que era a Fundação. Ele disse assim mesmo: eu lhe dou cinco minutos para explicar o que é a Fundaj. Eu considerei: o senhor é Piauiense e eu pernambucano, porém somos nordestinos, então me permita a franqueza, na região Nordeste, como o senhor conhece, funciona algo muito comum a uma fábrica, que é um engenho. Então, neste engenho, comparando com a Fundação, vamos dizer que existem três unidades de produção. A primeira unidade de produção, a porta de entrada é a o fato social – a pesquisa - que é examinado(a) a partir de uma outra unidade de produção da fábrica, a sua documentação - fontes para a pesquisa-, e daí, quando o produto é construído/fabricado, ele retorna à sociedade pela terceira unidade de produção do engenho, em forma de um produto cultural, chegando à população na forma de um produto atraente, seja através de livros, vídeos, exposições, kits educativos/culturais, etc. . Tive essa experiência em 1980, quando da criação da então Diretoria de Cultura, que criou a base da formação na Fundaj – a antiga Escola de Governo.

 :: Veja Galeria de Fotos do evento.

         

 

 

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