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Memória e obras de Malangatana na Fundaj

Publicado: Segunda, 14 de Fevereiro de 2011, 16h15 | Última atualização em Quinta, 20 de Dezembro de 2018, 21h16 | Acessos: 15208

Um painel mural de 2,40m x 4,80m e um quadro pintado na madeira. Foi essa a herança deixada na Fundaj pelo pintor, poeta, escultor e músico moçambicano Malangatana Valente Ngwenya (crocodilo, no dialeto africano changana), falecido no último dia 05/01, em Portugal, vítima de uma doença crônica. Em novembro de 1998, enquanto esteve no Recife, ele expôs obras, realizou palestra, fez amigos e produziu um mural especialmente para a Fundaj, em pré-comemoração aos 50 anos da instituição.

Nomeado Artista da Paz pela UNESCO em 1997, Malangatana ficou famoso no mundo pelos retratos que fez da guerra colonial em seu país. Sua obra é marcada pelas pinceladas fortes, de cores vibrantes, que retratam os moçambicanos com expressividade e sentimento. Numa fase em que os artistas insistiam em expressar suas visões pessoais e intimistas, Malangatana se destacava no contrafluxo, fazendo referências ao legado político e cultural do povo africano. Outro ponto de destaque no trabalho do artista está na dimensão física de suas obras. Herdeiro do muralismo chegou a realizar painéis de seis metros de largura.



Os retratos de rostos sofridos pela opressão colonial e pela guerra de libertação percorreram o mundo. Um pouco desse legado pode ser encontrado nas dependências da Fundação Joaquim Nabuco. Enquanto esteve no Recife, numa iniciativa da Fundação Luso-Brasileira com a Fundaj, Malangatana realizou uma exposição com 12 grandes obras e cinco desenhos e ministrou uma palestra com o tema Antropologia Cultural como base da Pintura e Escultura Africana. Um grande quadro pintado na madeira, atualmente localizado no Campus Ulisses Pernambuco, no Derby, foi deixado como presente pelo artista.

No mural pintado no edifício Paulo Guerra, no bairro de Casa Forte, podem ser identificados elementos que sintetizam bem a personalidade do artista.

“Poder de sonho e de transfiguração, um figurativismo expressionista ou um surrealismo mediado pela cultura africana. Neste mural habitam lendas, contos, fábulas e mistérios”, diz o escritor e servidor da Fundaj, Paulo Gustavo, que mesmo ponderando o fato de não ser crítico de arte, justifica: “Pelo que ouvi do próprio artista, sua infância foi decisiva e inspiradora. Sua pintura nos espreita do mundo dos sonhos e da oralidade, refratária a qualquer naturalismo”.

Na ocasião, esteve no Recife, participando da inauguração da obra, a então embaixadora de Moçambique no Brasil, Felizarda Isaura Monteiro, além de artistas locais e personalidades conhecidas da sociedade pernambucana, como o escritor Ariano Suassuna, que na época ocupava o cargo de Secretário de Cultura de Pernambuco pelo governo de Miguel Arraes. “Ele fez questão de conhecer os artistas pernambucanos. Visitamos Francisco Brennand e fomos recebidos com muito respeito”, lembra Sevy Madureira, então pesquisadora do Departamento de Sociologia da Fundaj, que chegou a conviver com Malangatana em Moçambique. “Era uma pessoa muito humilde, festiva e inteligente. Circulava nas classes mais altas de Moçambique, mas não deixava de conviver com o povo e suas origens”, acrescentou Sevy.

Depois da independência de Moçambique, foi eleito deputado em 1990, pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). Em 1998, foi eleito para a Assembleia Municipal de Maputo e reeleito em 2003. Participou em ações de alfabetização e na organização das aldeias comunais na Província de Nampula. Foi um dos fundadores do Movimento Moçambicano pela Paz e fez parte dos Artistas do Mundo contra o Apartheid. Um exemplo do seu engajamento com as questões políticas e sociais pode ser verificado quando se recusou a expor suas obras na África do Sul, no período em que Nelson Mandela havia sido preso, em 1963.

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