Entrevista: João Câmara Filho, artista
Por Juliana Costa
João Câmara Filho é paraibano, do ano de 1944. Cursou artes plásticas na Escola de Belas Artes da UFPE e desde seus 16 anos não parou de pintar. Premiado nacional e internacionalmente, é admirado por críticos como Ferreira Gullar e Frederico Morais e já participou de dezenas de salões de arte, bienais e exposições individuais pelo país e no
exterior. Sua série temática mais conhecida, Cenas da Vida Brasileira, trata da vida política no Brasil nas décadas de 30 a 50.
No dia 28/03, vem à Fundação Joaquim Nabuco para o 398º Seminário de Tropicologia, no qual irá apresentar suas impressões sobre outro artista-amigo, Francisco Brennand. Às 9h, na sala Gilberto Freyre, da Fundaj – Casa Forte, pretende levantar considerações sobre a herança cultural do artista na sua palestra “Francisco Brennand – Locus Solus”.
Para nos possibilitar entender mais das motivações e pensamentos do paraibano (agora instalado em Olinda, Pernambuco), ele concedeu-nos uma entrevista, que se segue:
O senhor se considera um “multi-artista”. O que isso quer dizer?
Não sei se disse alguma vez ser multi-artista. Provavelmente quer se dizer com isso que alguém pinta, grava, faz arte em diversos meios. Eu pinto e gravo, faço alguma arte digital, escrevo...
Quem são suas principais inspirações?
É o fator humano que se particulariza em alguns modelos de escolha.
O que o senhor diria ser a principal característica dos seus trabalhos? O que lhe diferencia dos demais?
Sou, essencialmente, um pintor de figuras, coisas e animais. Isto me aproxima, mais do que diferencia, de outros artistas.
O que o senhor tenta passar com sua arte?
O desejo de estar no mundo, vivo como ele.
Algumas de suas obras têm cunho político. É uma preferência sua?
Pintar figuras exibe a condição política do que é representado. Mas, nunca fui eleito nem me candidatei à política.
O que lhe é mais satisfatório em todo o processo de desenvolvimento das suas obras?
O trabalho do pintor é em grande parte tarefa física. Fico feliz quando o trabalho de construção mental acompanha com fôlego esses passos.
O senhor pretende realizar mais trabalhos no futuro?
Estou na ativa, penso.
O que levou ao interesse de estudar e falar sobre Brennand? Você foi discípulo dele?
Quando comecei a pintar , Francisco Brennand era "o artista mais velho". O tempo nivelou nossas idades: agora somos velhos pintores e ainda amigos.
Alguma obra de que você se arrepende ou exposição que você gostaria de ter feito diferente?
A biografia critica de um artista deveria descrever o que ele deixou de fazer. Ao invés, valoriza-se o que ele produziu. Vou esperar uma anti-biografia para avaliar os arrependimentos.
Especificamente sobre a palestra que o senhor irá ministrar na Fundaj, qual é a história por trás do título “Locus Solus”? O que significa? O que quer passar?
Locus Solus, lugar solitário, é uma novela fantasiosa do escritor Raymond Roussel em que ele descreve inventos prodigiosos e singulares. A oficina de Brennand é um desses locus solus subequatoriais em que a imaginação se exila. Nessa palestra, tenta-se uma aproximação dos espaços solitários de Martial Canterel, personagem de Raymond Roussel, e a fábrica singular de Francisco Brennand, ambos espaços originais e exilados do comum. O tema do exílio interno também perpassa essas considerações, levando em conta a herança cultural do artista, de clássico cânone europeu que transitará aos loci subequatoriais do regionalismo.
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