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Delmiro Gouveia

Publicado: Quarta, 12 de Junho de 2019, 12h34 | Última atualização em Quarta, 12 de Junho de 2019, 12h34 | Acessos: 434

Lúcia Gaspar
Carlos Ramos
Veronilda Babosa
Bibliotecários da Fundação Joaquim Nabuco 

APRESENTAÇÃO,
Rita de Cassia Barbosa de Araújo

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia foi um homem do Império. Nascido em 1863, no interior do Ceará, sua trajetória pessoal de vida — sem menosprezar o traço subjetivo e sua influência na História — pode ser interpretada como uma expressão particularizada e muito especial do momento histórico que se introduziu na sociedade brasileira a partir de 1850, período que os estudiosos costumam definir como o do “início da modernização do Brasil” e que se prolongou até 1914.

Originário de família pobre, destituída de bens materiais e de educação formal, sem nem mesmo gozar de laços de família, de compadrio e de amizade com pessoas de projeção que poderiam assegurar uma boa posição na sociedade, Delmiro Gouveia ascendeu socialmente de um modo que apenas uma sociedade moderna ou em vias de modernização possibilitaria, tornando-se comerciante e industrial de grande projeção no Brasil, entre as décadas finais do século XIX e as iniciais do XX.

Dedicou-se inicialmente ao comércio de exportação de couro e pele de cabras e ovelhas. Sensível às mudanças culturais e comportamentais de seu tempo, montou estabelecimentos comerciais voltados para a promoção de divertimentos públicos urbanos, para o recreio, o descanso e o convívio em grupo, a exemplo da Sociedade Anônima Derby Club de Pernambuco, um dos três primeiros hipódromos surgidos no Recife, em 1888; e da Pensão Derby. Dissolvida a Sociedade em 1897, instalou o mercado Coelho Cintra no local onde fora o Derby Club, empreendimento inovador com que pretendia sanar o grave problema do abastecimento alimentar do Recife e que veio a ser inteiramente destruído por um incêndio em janeiro de 1900. Esteve também à frente da usina Beltrão, de refino e embalagem de açúcar, situada na Tacaruna, ponto de ligação entre Olinda e o Recife.

Exemplo de homem de espírito moderno e empreendedor, Delmiro Gouveia acreditava no progresso humano, no desenvolvimento tecnológico e industrial alcançado com base em princípios racionais e científicos. Investiu na nascente e promissora indústria têxtil e implantou nas terras áridas do sertão, na então vila da Pedra, hoje, município de Delmiro Gouveia, no ano de 1914, a Companhia Agrofabril Mercantil, fábrica produtora das famosas linhas de algodão Estrela. Antes, porém, em 1913, Delmiro Gouveia inaugurou Angiquinho, a primeira usina hidrelétrica da atual região Nordeste e a segunda do Brasil, com água captada na cachoeira de Paulo Afonso, utilizando tecnologia suíça e alemã e capital norte-americano.

Em 10 de outubro de 1917, foi assassinado a bala na varanda de sua segunda residência, localizada nos arredores da vila de Pedra.

Em sua décima edição, a Semana Delmiro Gouveia que ora se inaugura, organizada pela Fundação Delmiro Gouveia, marca a passagem dos noventas anos de sua morte. E a Fundação Joaquim Nabuco, através da Diretoria de Documentação, associa-se às celebrações, pelo simbolismo que elas encerram — ao recuperar a memória do espírito empreendedor de Delmiro Gouveia e, ao evocá-la, valorizar a paisagem e a cultura sertanejas e destacar as potencialidades econômicas e sociais passadas, presentes e futuras da região; como também pela contribuição real que a Semana traz para a formação e o aprimoramento educativo e cultural de crianças, jovens e adultos do município e da microrregião do Baixo São Francisco, Pólo Xingó, concorrendo assim, de uma maneira geral, para a melhoria das condições de vida das populações locais.

Ao longo de mais de quatro décadas, a começar pelas pesquisas e estudos realizados pelo geógrafo e ex-diretor da instituição, Mauro Mota, a Fundação Joaquim Nabuco tem voltado sua atenção para o Médio e o Baixo São Francisco. No transcurso dos anos, desenvolveu e acumulou um conhecimento significativo sobre a região, oriundo de pesquisas de caráter científico, a exemplo das investigações históricas de Frederico Pernambucano de Mello sobre o cangaço e sobre Delmiro Gouveia; e das voltadas para identificar e avaliar os impactos socioeconômicos e ambientais provocados pela implantação das barragens de Sobradinho e Itaparica e, mais recentemente, pelo projeto de transposição das águas do São Francisco, tema de predileção do pesquisador João Suassuna.

Desde 2005, quando participou do Festival EcoCultural da Revitalização do São Francisco na cidade de Piranhas, a Diretoria de Documentação se faz sistematicamente presente na região. Por entender o Baixo São Francisco como uma das chaves para a compreensão da formação histórica da sociedade brasileira e, de modo especial, do povoamento, da ocupação e da modernização do sertão nordestino, foi concebido e se encontra em plena execução o projeto O Baixo São Francisco: Memória e Vida. O Projeto desenvolve duas linhas básicas de ação: 1) pesquisa histórico-antropológica dos sete municípios alagoanos e sergipanos do Pólo Xingó, e inventário, registro e preservação dos bens culturais materiais e principalmente  imateriais; 2) promoção de cursos de capacitação e oficinas de leitura, de arte e cultura, de expografia e de educação patrimonial, de elaboração de projetos para fins culturais e de conservação preventiva de acervos.

O catálogo A presença de Delmiro Gouveia no acervo de Joaquim Nabuco, elaborado pelos bibliotecários Lúcia Gaspar, Carlos Ramos e Veronilda Barbosa, da Biblioteca Central Blanche Knopf e do Centro de Documentação e Estudos da História Brasileira – Cehibra, da Diretoria de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco, atende a um duplo chamado: rememorar a visão empreendedora de Delmiro Gouveia e as novas perspectivas por ele abertas para o sertão; e contribuir para a preservação e a valorização dos bens imateriais da região disponibilizando ao público esse importante instrumento de trabalho.

Constam inventariados no catálogo um total de 251 documentos, sendo 215 textuais, 35 iconográficos e um filme. A pesquisa possibilitou a descoberta de documentos importantes, como uma carta de Delmiro Gouveia, publicada no dia 5 de janeiro de 1900, no Diario de Pernambuco, no Recife, após o incêndio do Mercado Coelho Cintra (item 35); assim como o seu  testamento  (item 80), publicado no mesmo jornal, no dia 14 de outubro de 1917. O catálogo está organizado por categoria documental — textual, iconográfica e audiovisual — e, no interior de cada categoria, por ordem cronológica. Após as referências, foi colocado o código de acesso do documento no acervo e, para facilitar a pesquisa, foi elaborado um índice, disponível no final do trabalho.

Cumpre assim a Diretoria de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco uma das funções sociais reservadas às bibliotecas e aos centros de documentação: levantar e inventariar fontes de pesquisa com o propósito de trazer à luz documentos raros e desconhecidos do público e de facilitar o desenvolvimento de pesquisas e estudos temáticos. Como todo catálogo, inventário ou guia de fontes, este não esgota o tema, mas constitui, sem dúvida, instrumento de trabalho fundamental para aqueles interessados na história do Baixo São Francisco, da modernização do Brasil e de Delmiro Gouveia, que o leitor e o partícipe da X Semana Delmiro Gouveia saberão reconhecer e apreciar.

Recife, 03 de outubro de 2007

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