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Austro-Costa: 110 anos em revista

Publicado: Quinta, 22 de Março de 2012, 14h17 | Última atualização em Quinta, 16 de Janeiro de 2020, 13h45 | Acessos: 3834

Rita de Cássia Barbosa de Araújo
Historiadora e Diretora de Documentaçãoda Fundação Joaquim Nabuco

APRESENTAÇÃO

Austro-Costa, nascido Austriclínio Ferreira Quirino, em 1899, no município de Limoeiro situado no Agreste pernambucano, distante 77 Km do Recife, traz na biografia uma das marcas sociais de sua geração: a dos que, nascidos em cidade e vilarejos interioranos do país, entre a segunda metade do século XIX e primeira do século XX, migravam para os grandes centros urbanos, para o Recife, por exemplo, como o fez Austro-Costa ainda jovem, em busca de maiores oportunidades de estudo, trabalho e ascensão social. Como traço particular — que mais tarde revelaria ser sua verdadeira vocação profissional e seria responsável por sua memória não se desvanecer no tempo —, manifestou desde criança o gosto pela escrita, o veio poético, a capacidade de observar o mundo cotidiano e de traduzi-lo em crônicas a que deram vida os inúmeros jornais e revistas publicados em Pernambuco entre 1910 e 1950. Embora situado na periferia do sistema econômico capitalista mundial, o Recife se destacava nos cenários nacional e regional como centro hegemônico do então chamado Norte Agrário ou região açucareira do Norte do Brasil. Terceira maior cidade do país, era mais que uma grande praça do comércio de exportação e importação, tendo no açúcar e no algodão seus dois principais produtos no comércio exterior. Além da indústria açucareira, havia outras não necessariamente vinculadas àquela: indústrias de tecido, fundação a vapor, gelos e bebidas, serrarias, prensas de algodão, cervejaria, biscoitos, massas alimentícias, doces, óleos, sabão, anil, cigarros, vidros, dentre outras. A presença das indústrias significava a existência não apenas de uma classe dominante formada por industriais — a par dos grandes proprietários de terra e comerciantes —, mas também de uma classe trabalhadora urbana que não tardou em se organizar em sindicatos: em 1919, o operariado do Recife organizou a primeira greve geral da história local. À crescente complexidade da estrutura social urbana correspondia também o aumento de uma classe média que buscava se afirmar para além dos esquemas de compadrio e dependência dos grandes chefes políticos e oligarcas.

Culturalmente, a década 1920 — que assistiu ao desabrochar do jornalista e poeta Austro-Costa no mundo social e intelectual local —, foi marcada por conflitos e tensões entre o velho e o novo, entre a tradição e a modernidade. As grandes tendências culturais, estéticas, políticas, científicas e filosóficas, que agitavam o mundo das artes, da cultura e das ciências nos âmbitos nacional e internacional, traduziram-se então, num surto inovador, em Regionalismo e Modernismo. Austro-Costa, poeta, esteve mais próximo do Modernismo, movimento que encontrou em Joaquim Inojosa seu maior propagador na atual região Nordeste do Brasil; enquanto Gilberto Freyre sobressaiu como o grande idealizador e difusor do Regionalismo, a seu modo modernista, como costumava dizer. A imprensa era o principal veículo de circulação de ideias e intelectuais, escritores e poetas que se quisessem fazer notar e, quiçá, respeitar, haviam de, necessariamente, possuir vínculos com os órgãos de imprensa ou colaborar nos periódicos. Austro-Costa não fugiu à regra. Escreveu para diversos periódicos pernambucanos, desde os da grande imprensa de circulação diária aos órgãos de grupos carnavalescos e de humor, passando pela Revista do Norte, símbolo maior do movimento cultural inovador de matriz pernambucana: Jornal do Recife, Diario de Pernambuco, A Pilhéria, Pra Você, e tantos outros. Destacou-se como um dos grandes cronistas da vida social mundana do Recife e de Olinda. Sob os pseudônimos de Afêquirino, Alcedo Tryste, Chrispim Fialho, Fra-Diávolo, João da Rua Nova, João Queremista, João-do-Moka, Silvio d‘Almeida, Tybaldo d‘Alcazão, Tritão e X, registrou comportamentos e atitudes coletivos, o mundo da moda e da sociabilidade burguesas então emergentes no Recife dos anos 1920 e 1930: as elegantes da Rua Nova, os flirts nas praias e retretas de Olinda, o footing em Boa Viagem, os pastoris e bumbas-meu-boi do Pina, as moças alegres do Carnaval. Escritos dispersos, espalhados entre dezenas de periódicos, escondidos sob pseudônimos, impossíveis de serem identificados em sua autoria por leitores pósteros e mesmo por pesquisadores da história social e cultural, por antropólogos, sociólogos, psicólogos, que encontram nas crônicas jornalísticas fontes inestimáveis de pesquisa para a apreensão e o conhecimento de uma dada realidade histórica e social. Ao identificarem e reunirem nesta bibliografia Austro-Costa: 110 anos em revista, suas organizadoras Lúcia Gaspar e Virgínia Barbosa — com o estudo introdutório de Paulo Gustavo, que contextualiza a produção poética de Austro-Costa em seu tempo e lugar — oferecem, mais que traços da biografia de um intelectual nascido e atuante em região periférica do capitalismo, um autêntico guia de pesquisa àqueles interessados em conhecer fatos cotidianos e melindres que preencheram os dias e as horas de homens e mulheres que viveram entre as décadas de 1920, 1930 e 1940, no Recife e alhures.

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