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Por que Belo Monte não realiza seu potencial elétrico

Publicado: Quarta, 18 de Dezembro de 2019, 11h14 | Última atualização em Quarta, 18 de Dezembro de 2019, 11h14 | Acessos: 1351

Mesmo com a hidrelétrica em pleno funcionamento, concessionária planeja construir termelétricas para dar conta da demanda. 

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/12/17/Por-que-Belo-Monte-n%C3%A3o-realiza-seu-potencial-el%C3%A9trico 

17/12/2019 

A concessionária Norte Energia, operadora da usina de Belo Monte em Altamira, no Pará, inaugurou a última turbina da hidrelétrica em novembro de 2019, mas já pediu autorização à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para construir usinas térmicas na região a fim de complementar a produção. 

Segundo o jornal O Estado de São Paulo, o pedido se deve ao fato de que a hidrelétrica não está gerando eletricidade suficiente. A Norte Energia nega problemas com o projeto. Diz que “recorrentemente desenvolve estudos de projetos para expansão do setor elétrico, como parte de seu planejamento empresarial”. 

A concessionária admite, porém, que a barragem principal de Belo Monte tem de ficar completamente desligada por um período de cerca de cinco meses, a cada ano, dada a baixa vazão do Rio Xingu. 

A empresa também admite que duas linhas de transmissão elétrica que conectam a produção energética no Pará com a região Sudeste, pertencentes à companhia chinesa State Grid, estão subutilizadas. 

O que o projeto prometia

Mapa com a localização da cidade de Altamira e da barragem principal da usina de Belo Monte, no estado do Pará

Quando foi construída, entre os governos Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), a usina de Belo Monte tinha a promessa de superar tecnologicamente os desafios encontrados por outras hidrelétricas, como a de Balbina, no Amazonas, projeto do governo de José Sarney (1985-1989). 

Balbina alagou o dobro da área alagada pela usina de Itaipu, por exemplo, mas produz apenas 1% da energia da binacional que fica na fronteira entre o estado do Paraná com o Paraguai. 

Além disso, como a floresta de Balbina não foi desmatada antes do alagamento, até hoje a mata apodrecida, imersa em água, emite quantidades de carbono e metano que chegam a dez vezes a quantidade emitida por uma termelétrica a carvão. 

Belo Monte, por sua vez, já contaria com o sistema de fio d’água, que depende muito mais do volume de água disponível do que do relevo da região. Assim, sua área alagada pôde ser bem menor do que o previsto quando os primeiros estudos sobre a viabilidade de uso da bacia do Xingu foram realizados, nos anos 1980. 

O leilão para a construção e o aproveitamento de Belo Monte começou em 2010, ainda no governo Lula, quando o consórcio montado pela Eletrobrás foi o único a apresentar oferta. Em 2015, já sob Dilma, a concessionária conseguiu a Licença de Operação da hidrelétrica. 

Já à época das obras, o Greenpeace realizou campanha fotográfica para alertar sobre o potencial destruidor do empreendimento em relação ao meio ambiente. A organização defendia que os estudos de impactos sociais e ambientais apresentados na construção da hidrelétrica subestimavam os efeitos da obra sobre a vida das comunidades ribeirinhas, que sofriam com remoções sem que lhes fosse oferecida infraestrutura adequada, como sistema de saúde e saneamento. 

Além disso, diversos especialistas, como os do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (organismo científico nacional), também destacavam que as mudanças da temperatura mundial afetariam a vazão do Xingu, comprometendo a vida útil da usina. 

Para Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP e doutor em meteorologia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), o aumento da sazonalidade da vazão dos rios Xingu e Tapajós, com o prolongamento da estação seca, já era esperado, dado o cenário global de mudanças climáticas e o desmatamento local. 

As termelétricas que a concessionária de Belo Monte cogita construir podem ser vistas como complicadoras do problema do aquecimento global, uma vez que, ao queimarem combustíveis fósseis, emitem grande quantidade de gases responsáveis pelo efeito estufa. 

R$ 19 bilhões 

era o orçamento inicial da obra apresentado no leilão em 2010 

R$ 40 bilhões 

foi o valor gasto na obra, em grande parte financiada pelo BNDES 

500 km² 

é aproximadamente a área alagada pelos reservatórios de Belo Monte 

11.233 MW 

é a capacidade de produção anual de Belo Monte, 3ª maior do mundo em capacidade instalada 

4.571 MW 

é a entrega efetiva anual de Belo Monte em razão da vazão do Xingu 

O potencial elétrico da Bacia Amazônica 

O projeto de Belo Monte, no Pará, funcionou como uma espécie de teste para o uso hidrelétrico da bacia Amazônica, até então vista como a grande fronteira energética brasileira. 

Estima-se que a bacia Amazônica represente mais de 40% do potencial hidrelétrico brasileiro, sendo capaz de oferecer uma produção que equivaleria ao triplo da geração atual da usina de Itaipu. 

Por outro lado, desde a década de 1970, os projetos hidrelétricos da região fracassaram em razão da baixa declividade do terreno, que não apresenta grandes quedas d’água. Com isso, o parque industrial de Manaus ainda depende de termelétricas a óleo, que, além de serem mais poluentes, apresentam baixo custo-benefício, dados os gastos necessários para transporte do óleo. 

Para Carlos Nobre, está claro que o Brasil não precisa instalar hidrelétricas na Amazônia, uma vez que o país já conta com reservatório hidrelétrico suficiente e pode explorar as fontes eólica e solar. Segundo o pesquisador, as matrizes eólica e solar já são mais baratas do que a hidráulica. 

“Não precisamos de grandes hidrelétricas na Amazônia para atender à toda demanda brasileira, mesmo considerando aumento populacional e incremento dos padrões de consumo. Já temos capacidade hidrelétrica instalada, mais os potenciais solar e eólico, que são os maiores do mundo e que já são mais baratos do que a energia hidrelétrica” 

Carlos Nobre 

pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP e doutor em meteorologia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) 

Na hidrelétrica de Balbina, por exemplo, placas fotovoltaicas instaladas no lago da usina testam a possibilidade de geração de energia solar com painéis colocados em lâmina d’água. A ideia é aproveitar a infraestrutura de transformadores e linhas de transmissão já existente ali, bem como dispensar a necessidade de terras para a instalação dos painéis. 

Para os defensores de Belo Monte, nenhum outro projeto seria capaz de produzir energia com a mesma capacidade da usina. Além disso, os avanços tecnológicos, que permitiram alagar área bem menor do que em obras passadas, justificariam o aproveitamento hídrico dos rios da Amazônia. 

Outros problemas de Belo Monte 

REMOÇÕES 

Segundo o ISA (Instituto Socioambiental), a construção da usina e de seus reservatórios envolveu a remoção de 40 mil pessoas, em processos questionados em sua legalidade. 

DESEQUILÍBRIO AMBIENTAL 

As barragens, a alteração do curso fluvial e a inundação de áreas ainda com vegetação provocam alterações na qualidade da água e impactam a fauna e a flora amazônicas. 

INDÍGENAS E RIBEIRINHOS 

Estima-se que a obra tenha diminuído em 80% a vazão de certos pontos do rio Xingu, ricos em biodiversidade e fundamentais para a vida de indígenas e ribeirinhos. Como consequência da diminuição do volume de água, as comunidades locais sofrem com a escassez da pesca, com as dificuldades de navegação e com o aumento de pragas. 

SUSPENSÃO IGNORADA 

Em 2011, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos determinou ao Brasil que suspendesse a obra, mas o governo Dilma ignorou a comissão e suspendeu os pagamentos à OEA (Organização dos Estados Americanos). A obra foi suspensa diversas vezes pela própria Justiça brasileira. 

DESMATAMENTO 

Desde a construção da usina, a região registra aumento do desmate em 78%, que atingiu inclusive terras indígenas. 

VIOLÊNCIA 

O empreendimento provocou um inchaço populacional desorganizado, que ajudou a colocar Altamira em primeiro lugar entre as cidades mais violentas do Brasil, segundo o Atlas da Violência publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2017. 

LAVA JATO 

Inquérito da operação investiga fatos revelados em um acordo de leniência das Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, que integraram o consórcio que construiu Belo Monte. A suspeita é de que as empresas tenham pagado propinas a diversos políticos do PT e do MDB. As investigações ainda não foram concluídas. 

A situação das termelétricas no Brasil 

Segundo o Balanço Energético de 2019 da Empresa de Pesquisa Energética, atualmente as termelétricas a gás são a principal fonte complementar de produção elétrica no Brasil, juntamente com a biomassa. Em 2014 e 2015, durante um período de seca, muitas termelétricas foram ativadas para compensar o deficit das usinas hidrelétricas. 

Como a matriz elétrica brasileira tem alta participação de energias renováveis, cuja disponibilidade oscila ao longo do ano, alguns especialistas em política energética defendem que é importante contar com outras fontes de energia, como as termelétricas, para o caso de variações ambientais comprometerem a produção das usinas de energia renovável, como as hidrelétricas. 

As termelétricas funcionam com combustíveis como gás, carvão ou óleo. A Norte Energia não divulgou que tipo de combustível seria usado em suas termelétricas, nem quais seriam os impactos dos empreendimentos em termos de produção de gases poluentes.

 

Veja também 

impacto ambiental das hidrelétricas da Amazônia

 

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