Apesar das chuvas, nível dos reservatórios de hidrelétricas do Triângulo Mineiro ainda é baixo
Segundo Operador Nacional do Sistema Elétrico, expectativa é de que os reservatórios tenham alguma recuperação durante o período úmido, que vai até abril. Níveis abaixo do esperado podem refletir na geração de energia e na conta do consumidor.
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Por Mariana Dias, G1 Triângulo e Alto Paranaíba e MG1
05/02/2020
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Usina Hidrelétrica de Nova Ponte — Foto: Reprodução/TV Integração
Em várias regiões de Minas Gerais, o ano começou com chuvas acima da média. Mesmo assim, a situação dos reservatórios das quatro usinas hidrelétricas do Triângulo Mineiro é crítica, com níveis abaixo do esperado – o que acaba refletindo não só na paisagem, mas também na geração de energia.
Emborcação, Marimbondo, Nova Ponte e São Simão fazem parte do subsistema Sudeste e Centro-Oeste, que são as duas regiões responsáveis pela maior parte da geração hidrelétrica do Brasil.
Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que, no comparativo de janeiro de 2019 com janeiro de 2020, os níveis das usinas de Emborcação e Nova Ponte diminuíram, enquanto apenas os de Marimbondo e São Simão aumentaram (veja o gráfico abaixo).
Segundo o ONS, a expectativa é de que os reservatórios tenham alguma recuperação durante o período úmido, que vai até abril. O órgão também explicou que, mesmo que uma represa localizada no Triângulo Mineiro esteja abaixo do volume ideal, o sistema não é prejudicado, pois outros reservatórios com níveis melhores auxiliam na geração de energia.
Fonte: ONS
Emborcação
A Usina Hidrelétrica de Emborcação, que fica em Araguari, é a maior do Triângulo Mineiro e representa 10,76% do subsistema Sudeste e Centro-Oeste. O volume útil do reservatório até o dia 31 de janeiro de 2019 era de 28,88%; neste ano, janeiro terminou com o volume de 15,72%.
Emborcação tem uma potência instalada de 1.192 MegaWatts (MW). Isso significa que a energia elétrica máxima produzida abasteceria duas cidades do tamanho de Uberlândia. Porém, com o nível do reservatório baixo, a potência cai, gerando 160 MW/hora.
Em entrevista ao MG1, o climatologista e professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Luiz Antônio de Oliveira, explicou que situação atual de Emborcação é resultado de um ano marcado pela estiagem prolongada.
"O índice de precipitação em outubro e novembro ficou muito abaixo da média. Associado ao período de estiagem desde maio até praticamente outubro, refletiu diretamente no nível desses reservatórios que estão quase no limite mínimo da média histórica para a região", afirmou.
Marimbondo
A Usina Hidrelétrica de Marimbondo está entre as cidades de Fronteira (MG) e Icém (SP) e representa 2,64% do subsistema Sudeste e Centro-Oeste. A potência instalada é de 1.440 MW. Em janeiro de 2019, o volume útil estava em 29,02%; neste ano, janeiro terminou com o volume de 40,13%.
Nova Ponte
A Usina Hidrelétrica de Nova Ponte está no Rio Araguari e é responsável por 11,17% do subsistema Sudeste e Centro-Oeste. Com volume de 12.792 hm³, é a terceira maior hidrelétrica da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), ficando atrás apenas de Três Marias e de Emborcação. A potência instalada é de 510 MW.
Em janeiro de 2019, o volume útil do reservatório de Nova Ponte estava em 29,02%; neste ano, janeiro terminou com o volume de 19,02%.
"A situação não é tão pessimista porque há previsão de índices pluviométricos bem significativos até abril. Então, se não fosse essa previsão, a situação seria crítica", explicou o climatologista e professor da UFU, Luiz Antônio de Oliveira.
São Simão
Localizada entre Santa Vitória (MG) e São Simão (GO), a Usina Hidrelétrica de São Simão opera com 6 turbinas, que geram 1.710 MW, energia suficiente para abastecer 6 milhões de habitantes. A unidade representa 2,47% do subsistema Sudeste e Centro-Oeste.
Nos últimos dez anos, Usina Hidrelétrica de São Simão já operou abaixo de 10% do reservatório: em 2017, por exemplo, o volume foi de 6,5%. Isso se deve principalmente aos fatores climáticos e também da política operativa realizada no sistema interligado nacional, que é coordenado pelo ONS, para que todas as usinas possam gerar energia no país.
Em janeiro de 2019, o volume útil estava em 40,54%; neste ano, o volume da usina aumentou e janeiro terminou com o volume de quase 45%. Mesmo assim, o nível continua baixo do esperado (veja abaixo na reportagem do MG1).
Nível dos reservatórios é o menor desde 2015
Em janeiro deste ano, o G1 mostrou que os reservatórios de hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste registraram o mais baixo armazenamento de água para esta época do ano desde 2015, segundo dados do ONS.
Em 14 de janeiro, os reservatórios registravam armazenamento médio de 21,05%. Em janeiro de 2015, neste mesmo dia, eles estavam com 18,94%, na média.
Já em janeiro de 2019, no mesmo dia, o nível médio nessas hidrelétricas era de 28,52%.
Fonte: ONS
Menos água nos reservatórios das hidrelétricas significa mais acionamento de térmicas e energia mais cara. Segundo o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, a preocupação atual é com o custo que pode acabar na conta dos consumidores.
Desde 2015, os consumidores pagam mensalmente quando a geração de energia fica mais cara por causa do baixo nível dos reservatórios. O pagamento é feito via sistema de bandeiras tarifárias.
Mesmo com o ano começando com reservatórios mais cheios, em 2019 os consumidores pagaram mais de R$ 3,5 bilhões em bandeiras tarifárias, que só foram acionadas a partir de maio. Já em 2020, o ano começou com bandeira amarela acionada, o que significa uma cobrança extra de R$ 1,34 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) de energia consumida.
"Estamos vivendo uma situação atípica de bandeira amarela, tanto no mês de dezembro quanto no mês de janeiro. Isso tem uma repercussão em preço porque estamos acionando um grupo térmico, no entanto não existe a menor dúvida quanto à segurança de abastecimento do sistema. O sistema está estável e temos energia para atender a carga", afirmou Pepitone.
Em dezembro de 2019, por exemplo, o acionamento a produção de energia por térmicas foi o dobro da produção em dezembro de 2018. Segundo dados do ONS, a média da geração em dezembro de 2018 foi de 5.362 MW médio por dia, já em dezembro de 2019 essa geração subiu para 10.272 MW médio por dia. Nos primeiros dias de janeiro deste ano, a geração térmica se mantém em mais de 10 mil MW médio por dia.
Segundo Pepitone, o baixo nível dos reservatórios não representa risco para o abastecimento de energia do país, mesmo diante de uma previsão de crescimento maior da economia em 2020.
A expectativa tanto do ONS e quanto da Aneel é de que as chuvas vão melhorar ao longo de janeiro, o que ajudará a recuperar o nível dos reservatórios.
Apesar de mais baixo que em anos anteriores, o armazenamento atual já é um pouco melhor que o verificado ao final de dezembro de 2019, quando os reservatórios estavam com 20,11%, em média, o pior nível para aquele mês desde 2014.
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Usina Hidrelétrica de Emborcação em Araguari — Foto: Reprodução/TV Integração
Grandes usinas
O diretor-geral do ONS, Luiz Barata, disse que o órgão conta com as usinas da região Norte para preservar os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste.
Até o final de janeiro, cerca de 14 mil MW dos mais de 18 mil MW que serão gerados pelas usinas do rio Madeira (Jirau e Santo Antônio), por Belo Monte e por Tucuruí, terão como destino o abastecimento do Sudeste e Centro-Oeste.
Esses 14 mil MW são suficientes para abastecer, por exemplo, um país como a Argentina.
"As usinas do Madeira estão no máximo de produção e estamos trazendo toda essa energia para o Sudeste. Tucuruí e Belo Monte ainda não aconteceu porque as chuvas estão começando, mas estão subindo e ainda em janeiro vamos poder utilizar na plenitude das usinas de Tucuruí e Belo Monte", disse Barata.
Será a primeira vez que o ONS vai contar com toda a energia gerada pelas grandes hidrelétricas do Norte do país para abastecer as outras regiões e ajudar a recuperar os reservatórios.
Os diretores da Aneel e do ONS acreditam que o período chuvoso foi deslocado e que a tendência agora é de mais chuvas e de melhora no nível dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste.
Barata apontou que a expectativa é que os reservatórios das duas regiões cheguem ao final do período úmido com armazenamento médio entre 33% e 55%.

Usina Hidrelétrica de Emborcação em Araguari — Foto: Reprodução/TV Integração
Sobre o assunto
Situação dos Principais Reservatórios do Brasil – 07/02/2020
http://www.suassuna.net.br/2020/02/situacaodos-principais-reservatorios-do.html
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