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Hidrelétricas e Aquecimento Global -11: Vieses nas estimativas de emissões

Publicado: Terça, 04 de Setembro de 2018, 09h57 | Última atualização em Quinta, 20 de Dezembro de 2018, 21h31 | Acessos: 419


30/08/2018
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Barragem de Belo Monte - Altamira
A disponibilidade muito maior de dados relevantes às emissões da superfície dos reservatórios, em comparação com as emissões da água que passa pelas turbinas e pelos vertedouros, faz com que estimativas que tentam generalizar para barragens amazônicas em geral tendem a considerar apenas as emissões da superfície dos reservatórios (e.g., [1, 2]). Isto subestima o impacto das barragens (e.g., [3, 4]).

 

No primeiro inventário do Brasil de gases de efeito estufa, as emissões de hidrelétricas foram calculadas para nove barragens, mas os resultados foram confinados a uma caixa de texto e não foram incluidas no total das emissões do país ([5], p. 152-153).
No segundo e terceiro inventários nacionais ([6], [7], p. 47), as emissões de hidrelétricas foram omitidas completamente como emissores de CH4 e N2O, embora o carbono nas árvores inundadas fosse contado como uma emissão de CO2. Em muitas discussões do papel das barragens no aquecimento global o impacto da liberação de CO2 das árvores mortas pela inundação do reservatório é uma grande omissão.
O exagero da emissão pré-barragem é outra maneira que as emissões líquidas de barragens podem ser subestimadas. Como já mencionado, as emissões naturais das áreas úmidas são importantes fontes de metano, e isto tem sido usado para argumentar que a paisagem inundada por uma represa teria emitido grandes quantidades de metano de qualquer maneira se não tivesse sido construída a barragem. Por exemplo, a Associação Internacional de Energia Hidrelétrica (IHA), que representa a indústria hidrelétrica mundial, considerou as emissões de hidrelétricas sendo uma questão de “soma zero”, porque essas não excederiam as emissões pré-barragem [8].
No estudo de impacto ambiental (EIA) para a represa de Belo Monte, a área que estava para ser inundada foi presumida estar emitindo 48 mg CH4 m-2 dia-1 antes da criação do reservatório, com base em dois conjuntos de medições de emissão da superfície do rio e solo em locais próximos à margem do rio ([9], Apêndice 7.1.3-1; Ver [10]).
A maior parte das medições de emissão do solo na estação chuvosa foi nas áreas alagadas que recentemente tinham sido expostas pelo abaixamento do nível da água ([9], Apêndice 7.1.3-1, p. 72), resultando em alta emissão de CH4 e influenciando fortemente a média usada para toda a área terrestre que estava para ser inundada pelo reservatório de Belo Monte. No entanto, hidrelétricas normalmente são construídas em locais com solos bem drenados, sendo escolhidos locais com corredeiras e cachoeiras, ao invés de locais planos das zonas úmidas.
Isso ocorre porque a topografia íngreme resulta em maior geração de energia. Os solos sazonalmente inundados ao longo do rio não podem ser generalizados para uma área de reservatório, que, na Amazônia, é a floresta de terra firme. O solo sob a floresta de terra firme é, geralmente, considerado um sumidouro de metano, em vez de uma fonte [11, 12]. Uma estimativa irrealisticamente alta da emissão pré-barragem conduz a uma subestimativa do impacto líquido. No caso do EIA de Belo Monte, as 48 mg CH4 m-2 dia-1 é subtraído da estimativa do EIA de 70,7 mg CH4 m-2 dia-1 para emissão no reservatório, um valor subestimado por várias razões, incluindo o uso como metade da estimativa de um conjunto de medições na hidrelétrica de Xingó, no semi-árido da região nordeste brasileira, onde as emissões seriam inferiores àquelas de uma represa da Amazônia, deixando apenas 70,7 – 48,0 = 22,7 mg CH4 m-2 dia-1como a emissão líquida oficialmente estimada para Belo Monte [14].

Notas

[1] de Faria, F. A. M.; Jaramillo, P.; Sawakuchi, H. O.; Richey, J. E.; Barros, N. 2015. Estimating greenhouse gas emissions from future Amazonian hydroelectric reservoirs Environmental Research Letters, v. 10, n. 12, art. 124019.
[2] Vilela, T.; Reid, J. 2017. Improving hydropower choices via an online and open access toolPLoS ONE, v. 12, n. 6, art. e0179393.
[3] Fearnside, P. M. 2016. Greenhouse gas emissions from Brazil’s Amazonian hydroelectric damsEnvironmental Research Letters, v. 11, n. 1, art. 011002.
[4] Kemenes, A.; Forsberg, B. R.; Melack, J. M. 2016. Downstream emissions of CH4and CO2 from hydroelectric reservoirs (Tucuruí, Samuel, and Curuá-Una) in the Amazon basin. Inland Waters, v. 6, p. 295-302.
[5] Brasil, MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia). 2004. Comunicação Nacional Inicial do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Brasília, DF: MCT, 276 p.
[6] Brasil, MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia). 2010Segunda Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Brasília, DF MCT, 2 Vols. 520 pp.
[7] Brasil, MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação). 2015. Terceiro Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa: Relatório de Referência — Emissões no Setor Uso da Terra, Mudança do Uso da Terra e Florestas. Brasília, DF: MCTI, 342 p.
[8] Gagnon, L. 2002. The International Rivers Network statement on GHG emissions from reservoirs, a case of misleading science. Sutton, Surrey, Reino Unido: International Hydropower Association (IHA), 9 p.
[9] Brasil, ELETROBRAS. 2009. Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte: Estudo de Impacto Ambiental. Fevereiro de 2009. Rio de Janeiro, RJ: Centrais Elétricas Brasileiras (ELETROBRAS), 36 vols.
[10] Fearnside, P. M. 2011. Gases de efeito estufa no EIA-RIMA da hidrelétrica de Belo MonteNovos Cadernos NAEA, v. 14, n. 1, p. 5-19.
[11] Keller, M.; Jacob, D. J.; Wofsy, S. C.; Harriss, R. C. 1991. Effects of tropical deforestation on global and regional atmospheric chemistryClimatic Change, v. 19, n. 1-2, p. 139-158.
[12] Potter, C. S.; Davidson, E. A.; Verchot, L. V. 1996. Estimation of global biogeochemical controls and seasonality on soil methane consumptionChemosphere, v. 32, p. 2219-2246.
[13] Fearnside, P. M. 2016. Greenhouse gas emissions from hydroelectric dams in tropical forests. In: Lehr, J.; Keeley, J. (eds.) Alternative Energy and Shale Gas Encyclopedia. New York, E.U.A.: Wiley, p. 428-438.
[14] As pesquisas do autor são finaciadas exclusivamente por fontes acadêmicas: Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq: proc. 305880/2007-1; 5-575853/2008 304020/2010-9; 573810/2008-7), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM: proc. 708565) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA: PRJ15.125). Esta é uma tradução parcial atualizada de Fearnside [13]. Futuramente, um livro do Museu Paraense Emílio Goeldi terá um capítulo reunindo essas informações.
A foto que ilustra este artigo é da barragem de Belo Monte. no Rio Xingu, Altamira.
(Foto: Fábio Nascimento/Greenpeace)

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