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O apagão voltou! artigo de João Suassuna

Publicado: Quarta, 12 de Junho de 2019, 16h28 | Última atualização em Quarta, 12 de Junho de 2019, 16h28 | Acessos: 397

29/09/2012
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Foi o segundo apagão de grande monta, em cerca de um mês, no Nordeste brasileiro. No sábado, 22/09, parte do Nordeste apagou e, ontem, 25/10, os 9 estados da região apagaram, além de parte da região Norte, Distrito Federal, Centro-Oeste, e Minas Gerais.

 

Estamos insistindo nas questões da geração de energia no país há cerca de 18 anos! Aliás, elas fazem parte de nosso discurso contrário à implantação do projeto da transposição do rio São Francisco para o Nordeste setentrional.

 

No governo FHC, envolveram questões celestiais para justificar os apagões da época. São Pedro foi o maior culpado pela falta de chuvas e, portanto, insuficiência do preenchimento dos reservatórios das hidrelétricas brasileiras. Lula comunicou à Nação que os apagões eram páginas viradas na história do Brasil. Houve apagões em seu governo. Lula foi mais eclético nas justificativas para a ocorrência dos apagões: culpou raios trelosos e até operações de funcionários, os quais, inadvertidamente, haviam desligado disjuntores!

 

No governo Dilma, a culpa está recaindo nos curtos-circuitos. Ora estamos tratando de um dos sistemas de geração elétrica mais seguros do mundo! Nesse quesito, não se pode subestimar a inteligência do povo brasileiro.

 

O fato é que ninguém faz uma avaliação mais criteriosa das causas reais dos apagões, partindo-se das fontes geradoras da energia, no caso a situação em que se encontram os reservatórios das hidrelétricas.

 

Em 2001, por exemplo, época do mais intenso racionamento de energia ocorrido no nosso país, a represa de Sobradinho, que atende todo o sistema Chesf, havia acumulado apenas e tão somente, 5% de seu volume útil. Atualmente, Sobradinho encontra-se com cerca de 24,8%.

 

Recentemente, participamos da elaboração do livro Conservação da Natureza: e eu com isso?, no qual ficamos responsáveis pelo Capítulo intitulado: “Coronelismo hídrico nas águas da transposição do rio São Francisco”. Nele, fizemos alguns comentários sobre os problemas que ocorrem na geração de energia, em reservatórios que apresentam níveis baixos de acumulação volumétrica. O texto abaixo é a íntegra do que escrevemos:

As questões da geração de energia no Nordeste são de deixar qualquer pessoa que tenha o mínimo de bom-senso em verdadeiro estado de pânico. Como se sabe, o rio São Francisco é responsável por cerca de 95% da energia que é gerada na região. Com relação a esse aspecto, criou-se uma situação inédita no país, que ainda não foi suficientemente dimensionada pela opinião pública nacional. Em tempos de paz, nenhum governo do mundo jamais colocou o seu país sob risco tão alto como o que se verificou no Brasil na época dos racionamentos de energia. Naquele período, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) fez previsões de acumulações volumétricas nos reservatórios das hidrelétricas no Nordeste, para o mês de novembro de 2001 (período mais crítico do racionamento de energia), de um percentual de apenas 10% preenchidos (naquele ano foi registrado para Sobradinho, um volume útil de apenas 5%). Naquela ocasião, afirmou a ONS, a normalização de todo o sistema de acumulação estaria na dependência de verdadeiros dilúvios bíblicos na bacia, fato pouco provável nas nascentes do São Francisco, nos meses de agosto, setembro e outubro. Do mês de julho até o início de agosto de 2001, operou-se com cerca de 18% do preenchimento dos reservatórios. Talvez as autoridades de então não soubessem do risco que esse fato poderia acarretar para o funcionamento do sistema gerador de energia do Nordeste pois, se os percentuais tivessem atingido os 10% dos volumes, conforme previstos pela ONS, teria acontecido um desastre de proporções incalculáveis. As turbinas instaladas no Brasil são programadas para gerar energia em 60 hertz, ou seja, com 60 ciclos por segundo, e só podem fazê-lo nessa frequência, pois todas as máquinas, equipamentos e eletrodomésticos instalados no país estão ajustados a ela. Isso exige que as turbinas mantenham, com estabili­dade, uma certa velocidade de rotação. Quando a coluna d’água diminui devido ao esvaziamento dos reservatórios, o peso da água também diminui e o fluxo se torna menos estável, exigindo que as turbinas façam mais es­forço para manter a rotação programada. Se o esforço for excessivo, os sistemas de proteção entram em ação au­tomaticamente, interrompendo a geração. Essas condições predispõem o sistema para os apagões, ou seja, ocorrem quedas súbitas e descontroladas de energia, que podem ser sequenciais, por sobrecarga. Foi o que ocorreu em toda a região sudeste do País em princípios de 1999. Se o nível de 10% dos reservatórios tivesse sido atingido naquele ano, o sistema elétrico brasileiro, que já foi referência mundial, não teria mais confiabilidade operacional. Em vez de reconhecer a gravidade da crise e trabalhar para enfrentar o pior cenário, o governo federal, na época, resolveu apostar nas providências celestiais. São Pedro foi o primeiro a ser culpado pela crise energética que desestabilizou a vida de todos os brasileiros. Aos poucos, especialistas verificaram que, de fato, a baixa pluviometria havia se acentuado, mas comprova­ram, também, que apenas a falta de chuvas, não podia ser responsabilizada pelo risco e pelo custo social e econômico do apagão. Em meio ao embate político e jurídico, rastreou-se também a culpa da queda dos investimentos na gera­ção e nas linhas de transmissão de energia, no modelo de privatização das companhias geradoras, e da dependência da produção nacional de energia, na sua grande maioria, de fontes hidrelétricas (no Brasil, mais de 80% da energia elétrica gerada são provenientes de hidrelétricas). Em resumo, o que se presenciou naquela ocasião foi a ausência quase que completa de “planejamento” e de “gestão” do setor elétrico”.

 

Concluímos o capítulo do livro com a seguinte expressão:

Diante de todo esse relato, entendemos que a vontade política não pode estar acima das possibilidades técnicas de se promover o desenvolvimento do nosso país, sob pena de continuarmos seguindo firmes na rota da escuridão”.

 

Continuaremos a nossa jornada de denúncias, sobre essa situação lamentável em que se encontra o nosso País e, em especial, o povo nordestino.

 

ACORDA BRASIL!

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