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GERAÇÃO ELÉTRICA: a situação é delicada

Publicado: Quarta, 13 de Março de 2019, 10h03 | Última atualização em Quarta, 13 de Março de 2019, 10h03 | Acessos: 411

João Suassuna - Eng° Agrônomo e Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco



Já é chegada a hora de começarmos a viabilizar o uso de outras fontes e formas de energia

Estamos no mês de maio, portanto, no início do período seco nas cabeceiras do São Francisco e a represa de Sobradinho começa a esvaziar, cumprindo o seu papel regularizador da vazão do Velho Chico. 

Ao término do período chuvoso 2001/2002, as represas da CHESF existentes na região haviam acumulado um volume médio de apenas 63%, resultado de secas sucessivas havidas em anos anteriores, as quais depreciaram sobremaneira os seus volumes, deixando-as praticamente vazias e, segundo informações do Instituto Nacional de Meteorologia, pela ocorrência do fenômeno El Niño, que se instalou no mês de março/2002 nas costas do Peru, causando pequenos veranicos nos meses de março e abril, com conseqüentes diminuições nas quedas pluviais, que ficaram abaixo da média histórica naqueles meses. 

Na primeira semana do mês de maio, a represa de Sobradinho já apresentava 59,8% de sua capacidade de acumulação, devido às diferenças de entrada e saída de água no seu processo regulatório de vazão. Estavam entrando no reservatório cerca de 1230 m³/s e saindo do mesmo, regularizando o rio, cerca de 1800 m³/s, portanto com um depreciamento volumétrico da ordem de 570 m³/s. Com a permanência desse quadro, a previsão é de que, em novembro de 2002 (início do período chuvoso 2002/2003), a referida represa deva estar com aproximadamente 20% do seu volume útil, ficando o setor elétrico, mais uma vez, na dependência das benesses do apóstolo Pedro, para que não venha a padecer de novos racionamentos. Aliás, já havíamos tratado essas questões no texto "PERSPECTIVAS NA GERAÇÃO ELÉTRICA: aos vencedores as batatas!", editado em 03/04/2002.

Resta-nos agora fazer a indispensável pergunta: quais as perspectivas futuras do setor elétrico nordestino? 

Nesse particular, temos que levar em consideração que o rio São Francisco é uma das principais fontes de geração elétrica do Nordeste brasileiro. A CHESF, ao longo dos últimos 60 anos explorou, com muita competência, praticamente todo o potencial gerador do rio, potencial esse estimado em cerca de 10 mil MW. Essa potência instalada gerou, em 2001, com as deficiências hidrológicas havidas, cerca de 37,1 milhões de MW/h, tendo sido necessária a importação de mais 8,6 milhões de MW/h de outros centro geradores do país, como forma de suprir toda a demanda energética da região naquele ano, totalizando, portanto, um consumo de cerca de 45,7 milhões de MW/h.

A par dessas questões, a região Nordeste vem crescendo a uma taxa de 4,5 a 6% ao ano, significando dizer que, em 12 anos, haverá necessidade de se dobrar a capacidade de oferta de energia na região, ou seja, em 2014 precisa-se ter, no Nordeste, entre 90 a 100 milhões de MW/h, para satisfazer a sua demanda. E onde será gerada essa energia?

Para o equilíbrio do balanço oferta/procura do setor, o governo federal tem acenado com a construção de novas hidrelétricas (a de Lajeado está sendo concluída no rio Tocantins); com a ampliação da rede de transmissão de energia, ligando o Nordeste a outros centros geradores do país; com a efetivação do seguro apagão que irá possibilitar, caso seja necessária, a aquisição e o uso de termelétricas montadas em barcaças, movidas à diesel e óleo combustível e, futuramente, com a operação de térmicas movidas à gás natural, através de programa do governo federal, ora em curso, de 49 unidades espalhadas por todo o país. Todavia, o seguro apagão, juntamente com a construção das térmicas a gás natural, serão alternativas demasiadamente caras para os usuários (o custo do MW/h produzido em uma térmica com potência menor do que 350 MW é de R$ 106,40 e em uma térmica com potência maior do que 350 MW é de R$ 91,06), quando comparadas à geração hidrelétrica (o custo do MW/h em hidrelétricas é de R$ 40,00), envolvendo sacrifícios monetários enormes à população, já bastante sacrificada, além de demandar algum tempo para serem efetivadas, tempo esse de que o Nordeste já não dispõe, pois a região já necessita de energia, hoje.

Além do mais, ao se analisar o caráter emergencial referente ao uso das térmicas, principalmente àquelas movidas a diesel e óleo combustível, é necessário um alerta com relação ao poder poluidor imputado a tais sistemas. Neles, para cada MW/h gerado, estima-se que sejam lançados na atmosfera, cerca de 500 kg de gás carbônico, aliados a emissões de outros componentes nocivos, tais como, óxido de enxofre, óxido de nitrogênio e monóxido de carbono, os quais, efetivamente, vão pôr em risco as vidas das pessoas. Para a minimização desse problema, o uso do gás natural nas térmicas se faz necessário, porquanto trata-se de um combustível que, além da eliminação de fumaça quando inflamado, apresenta queima mais completa quando comparado aos combustíveis derivados do petróleo. 

Finalmente, entendemos que essas questões precisam ser tratadas com o devido cuidado, e que já é chegada a hora de começarmos a viabilizar o uso de outras fontes e formas de energia, a exemplo da energia eólica, solar e da biomassa, dado o seu potencial disponível no Nordeste, em especial na sua região semi-árida, como forma de ampliarmos novas fontes de energia em nossa matriz energética, atualmente calcada praticamente na geração hidrelétrica e garantirmos, com isso, a continuidade do nosso processo de desenvolvimento.

Recife, 09 de maio de 2002.

Texto publicado no encarte Nordeste, da Gazeta Mercantil, do dia 21 de maio de 2002

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