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INFLUÊNCIA DA COMPETIÇÃO DO SABIAZEIRO (Mimosa Caesalpiniifolia Benth.) NO DESENVOLVIMENTO DE ESSÊNCIAS FLORESTAIS NA ZONA DA MATA DE PERNAMBUCO

Publicado: Segunda, 22 de Abril de 2019, 12h19 | Última atualização em Segunda, 22 de Abril de 2019, 12h19 | Acessos: 608

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João Suassuna – Engenheiro Agrônomo e Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco

Manta ou serrapilheira em ecossistema florestal: fonte de matéria prima para a reciclagem de nutrientes no solo.

 

INTRODUÇÃOUm dos pontos mais negativos no desenvolvimento silvícola da região Nordeste é a demora do crescimento de suas essências florestais ditas de lei, das quais se dispõe de pouca informação. São espécies que exigem condições ecológicas semelhantes às proporcionadas pela natureza para se desenvolverem, isto é, necessitam de sombra, têm pequena tolerância às variações de temperatura e umidade, não suportam ventos fortes e precisam de solos com boa estrutura e ricos em matéria orgânica. Sem estes requisitos, é pouco provável que se consiga implantá-las economicamente (Carvalho, 1970).Sabemos que áreas desflorestadas, intensamente cultivadas e posteriormente abandonadas, são revestidas por uma vegetação pouco exigente, de rápido crescimento que, após um longo processo de sucessão, atinge o clímax da vegetação local. As plantas menos exigentes vão dando condições ao meio ambiente para que surjam aquelas mais exigentes Weaver & Clements (1938), Woodbury (1954), Clark (1954), Andrade Lima (1971), Amabis (1975).Um exemplo comum desse fato ocorre na zona da mata de Pernambuco, em canaviais abandonados, onde já se nota o aparecimento e o acentuado desenvolvimento da Embaúba (Cecropia spp.), do Sambaquim (Didymopanax morototoni) e de tantas outras que são consideradas pioneiras. À sombra e sob a proteção dessas espécies, pouco a pouco, espécies mais exigentes como o Amarelo (Plathymenia foliolosa), o Visgueiro (Parkia pendula), a Sucupira (Bowdichia vigilioides), vão surgindo (Carvalho, 1970).Baseado em tais fatos, Romildo Ferreira de Carvalho, Agrônomo Chefe da Estação Florestal de Experimentação - EFLEX de Saltinho (PE), pertencente ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - IBDF, atual IBAMA, levantou a hipótese de que o plantio associado de pioneiras com essências florestais de lei aceleraria o desenvolvimento destas, o que o levou a implantar experimentos com essências diversas, para comprovação ou não de sua hipótese. Nesses experimentos, instalados em meados de 1975, através do Convênio SUDENE/IBDF e desenvolvido pelo autor, então vinculado ao IBDF procurou-se reproduzir as condições oferecidas pela natureza às plantas.OBJETIVO

O objetivo da pesquisa, embasada na hipótese levantada por Dr. Romildo, foi o de determinar, por métodos comparativos, o comportamento de duas essências florestais de lei quando associadas e não associadas a uma espécie pioneira, através de mensurações das alturas e dos diâmetros, em ambos os tratamentos, e posterior determinação das diferenças havidas.MATERIAL E MÉTODOSOs ensaios foram levados a campo obedecendo a técnicas experimentais, desde os primeiros cuidados na escolha das árvores matrizes, até sua implantação definitiva.

Para o estudo, foram implantadas as seguintes essências:
- Sabiazeiro (Mimosa caesalpiniifolia), como pioneira.
- Jacarandá da Bahia (Dalbergia nigra) e Peroba (Tabebuia stenocalyx), como essências de lei.

A escolha obedeceu aos critérios preservacionistas e adaptativos, como também aos econômicos.
O experimento foi instalado em julho de 1975, no Posto Agropecuário pertencente ao Ministério da Agricultura, localizado na cidade de Igarassu (PE). Foram feitos levantamentos dos solos, através dos mapas de reconhecimento de solos elaborados pela equipe de pedologia da SUDENE, levantamentos meteorológicos com dados de temperatura e pluviosidade, como também uma análise de fertilidade de solo. Estes dados tiveram importância relevante no controle da pesquisa.

Foi adotado, no caso, o método comparativo do comportamento das essências de lei quando plantadas a céu aberto, isto é, sem pioneiras, para servir como testemunhas, e o seu comportamento quando plantadas sob a influência de uma pioneira. Como pioneira trabalhou-se com o Sabiazeiro (Mimosa caesalpiniifolia), leguminosa que apresenta um excelente desenvolvimento, grande fornecedora de estacas e de material umidificador do solo, proveniente da caída de suas folhas (serrapilheira), e o que é importante, portadora de nódulos nitrificantes em suas raízes, proporcionando a incorporação de nitrogênio livre ao solo. Dobereiner (1977), Stewart (1967).

Tanto o experimento sem associação como o associado foram instalados em blocos ao acaso com 2 tratamentos e 5 repetições, obedecendo ao seguinte esquema:

Tratamento sem associação

Número de parcelas - 10

Área útil da parcela - 100 m²

Número de plantas por área útil - 25

Área útil total - 1000 m²

Número de plantas por tratamento - 125

Espaçamento - 2m x 2m

Número de blocos - 5

Associado

Número de parcelas - 10

Área útil da parcela - 100 m²

Número de plantas por área útil - 25

Área útil total - 1000 m²

Número de plantas por tratamento - 125

Espaçamento - 2m x 2m, com uma pioneira plantada no meio desse intervalo.

Número de blocos - 5

OBS - O plantio das pioneiras foi feito com um ano de antecedência, a fim de já se ter ambiente propício para o desenvolvimento das essências de lei, ou seja, com acúmulo de matéria orgânica no solo, diminuição da incidência dos raios luminosos e da temperatura, aumento da umidade ambiente, etc.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quatro anos após ter sido instalado o experimento, foram mensurados os diâmetros e as alturas de 421 plantas correspondentes aos dois tratamentos em questão (associado e não associado ao Sabiazeiro), sendo 221 de jacarandá e 200 de peroba. As médias globais foram calculadas juntamente com o crescimento anual das essências (Tabelas 1 e 2).
Tabela 1 - Alturas (m)

{ B L O C O S }

Espécie Tratamento I II III IV V Média Cres. an.
Jacarandá Associado 3,6333 5,0692 4,0448 3,9440 2,6504 121 3,8683 0,9671
Jacarandá ñ/associado 2,5588 2,1288 2,0850 3,0000 3,2000 100 2,5945 0,6486
Peroba Associada 5,4058 5,8704 5,2838 5,5444 4,9636 104 5,3956 1,3489
Peroba ñ/associada 3,9420 3,9568 5,2050 4,6717 4,2760 96 4,4103 1,1026


Tabela 2 - Diâmetros (cm)

{ B L O C O S }

Espécie Tratamento I II III IV V Média Cres. an.
Jacarandá Associado 2,4381 3,3360 3,0240 2,8240 2,2000 121 2,7644 0,6911
Jacarandá ñ/associado 2,9000 2,0292 2,2900 2,8100 3,2682 100 2,6595 0,6649
Peroba Associada 3,1417 4,2520 3,8250 3,8680 3,8636 104 3,7901 0,9475
Peroba ñ/associada 3,2800 3,5474 5,2583 4,6217 3,8300 96 4,1075 1,0269


Carvalho (1971), em experimento semelhante na EFLEX de Saltinho (PE), encontrou um crescimento anual nas alturas de Peroba de 0,65 m, quando associada e 0,48 m, quando não associada ao Sabiazeiro. Essa mensuração foi feita quando o experimento apresentava 2 anos de idade, não sendo medidos os diâmetros em virtude de as plantas serem ainda muito jovens.

Nas tabelas citadas (1 e 2), já se nota uma certa superioridade das essências, principalmente em altura, quando associadas ao Sabiazeiro.

A precisão dos dados do experimento foi levada em consideração através do cálculo do coeficiente de variação (Gomes, 1970). A tabela 3 mostra os coeficientes de variação de todos os tratamentos. É bom frisar que, com um coeficiente de variação de até 20% a precisão dos dados é considerada boa.

Tabela 3 - Coeficiente de variação dos tratamentos

Espécie Tratamento Parâmetro Coeficiente de Variação (%)
Peroba Associada Altura (m) 6,06
Peroba Associada Diâmetro (cm) 10,61
Peroba Não associada Altura (m) 12,12
Peroba Não associada Diâmetro (cm) 19,87
Jacarandá Associado Altura (m) 22,45
Jacarandá Associado Diâmetro (cm) 16,40
Jacarandá Não associado Altura (m) 19,36
Jacarandá Não associado Diâmetro (cm) 18,66


Outro ponto referido no estudo tratou da distribuição de freqüência das médias das alturas e dos diâmetros, através do uso de histogramas, servindo para uma visualização mais detalhada dos intervalos das médias juntamente com o número de indivíduos portadores daqueles intervalos (Spiegel, 1976). Anexo a este texto encontram-se os histogramas referentes a essas variáveis.


Como se tratou com estimativas das médias, foi preciso estabelecer quais os limites, ou em que intervalos, a verdadeira média estava contida. Para isso calculou-se o erro padrão da média, conforme explicitado na tabela 4 (Gomes, 1970).

Tabela 4 - Erro padrão da média

Espécie Tratamento Parâmetro Erro Padrão da Média
Peroba Associada Altura (m) 5,3956 ± 0,4067
Peroba Associada Diâmetro (cm) 3,7901 ± 0,4998
Peroba Não associada Altura (m) 4,4103 ± 0,6647
Peroba Não associada Diâmetro (cm) 4,1075 ± 1,0147
Jacarandá Associado Altura (m) 3,8683 ± 1,0798
Jacarandá Associado Diâmetro (cm) 2,7644 ± 0,5638
Jacarandá Não associado Altura (m) 2,5945 ± 0,6244
Jacarandá Não associado Diâmetro 2,6595 ± 0,6169



Finalmente, foi feita a análise da variância dos experimentos para determinar se houve diferença significativa entre os tratamentos dos experimentos associados ou não ao Sabiazeiro (Tabelas 5a, 5b, 5c e 5d).

Análise da Variância

Tabela 5a - Peroba associada e não associada ao Sabiazeiro - Alturas (m)

Coef. variação Grau de Liberdade S . Q Q. M F
Blocos 4 0,5499 0,1375 0,5386
Tratamento 1 2,4270 2,4270 9,5065 *
Resíduo 4 1,0212 0,2553  
Total 9 3,9981 G.L { 1 1% - 21,20 { 4 5% - 7,71



Tabela 5b - Peroba associada e não associada ao Sabiazeiro - Diâmetros (cm)

Coef. variação Grau de Liberdade S . Q Q. M F
Blocos 4 1,9930 0,4982 1,5180
Tratamento 1 0,2519 0,2519 0,7675 NS
Resíduo 4 1,3126 0,3282  
Total 9 3,5575    



Tabela 5c - Jacarandá associado e não associado ao Sabiazeiro - Alturas (m)

Coef. variação Grau de Liberdade S . Q Q. M F
Blocos 4 0,6656 0,1664 0,1980
Tratamento 1 4,0566 4,0566 4,8281 NS
Resíduo 4 3,3606 0,8402  
Total 9 8,0828    


Tabela 5d - Jacarandá associado e não associado ao Sabiazeiro - Diâmetros (cm)

Coef. variação Grau de Liberdade S . Q Q. M F
Blocos 4 0,3926 0,0982 0,1088
Tratamento 1 3,6533 3,6533 4,0484 NS
Resíduo 4 3,6097 0,9024  
Total 9 7,6556    


Aos 4 anos de idade, o experimento apresentou diferença significativa entre as alturas das perobas com resultados positivos em favor das associadas ao Sabiazeiro (tabela 5a). Os demais tratamentos não apresentaram resultados significativos, tanto para alturas como para diâmetros.

Fazendo um retrospecto do assunto, pode-se afirmar que a associação com o Sabiazeiro tende a desenvolver mais as essências de lei, principalmente na variável altura. A constante busca da luz faz com que essas essências, no tratamento associado, se desenvolvam mais, quando comparadas às do tratamento não associado. Aliado a esse fator, o acumulo maior de matéria orgânica no tratamento associado, advindo da caída das folhas da essência pioneira, diminui a temperatura ambiente, promove uma maior reciclagem de nutrientes no solo, retém mais umidade e, consequentemente, melhora a nutrição das plantas. Se não fosse assim, o vegetal tenderia a definhar e posteriormente morrer pela intensa competição, abafamento, etc..

Aproveitando as informações dessa pesquisa, o nosso estudo de tese foi orientado para avaliar com mais detalhes os fatores que estão contribuindo para proporcionar esta diferença no comportamento do Jacarandá e da Peroba.

Outra preocupação nossa foi a de conhecer melhor as características da essência pioneira testada no experimento, no caso o Sabiazeiro, como produtora de material lenhoso, como fornecedora de forragem para os animais e como recicladora de nutrientes no solo.

Pretendemos fazer uma abordagem sobre a reciclagem de nutrientes no solo advinda da caída das folhas das essências em estudo, mais especificamente de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K). Sobre esse assunto, Poggiani (1976) trabalhando com Eucalyptus saligna em Piracicaba (SP), constatou que a caída de folhas alcançou nos anos de 1974 e 1976 uma média de 5,5 ton/ha/ano. Esse material forneceu 51 kg de N, 3 kg de P e 11 kg de K ao solo. Golley (1978) cita que a caída das folhas em floresta tropical úmida no Panamá chega a 6,2 ton/ha/ano e esse material incorpora ao solo 8,6 kg de P e 129 kg de K. Nunes (1980) trabalhando na Mata de Dois Irmãos em Recife (remanescente da Mata Atlântica), obteve 11285 kg/ha/ano de massa vegetal caída, sendo 55,00% de folhas, 29,13% de galhos, 14,20% de ramos, 1,31% de frutos e 0,36% de inflorescências.

CONCLUSÃO

Pelos dados obtidos até o presente momento, já se pode afirmar a veracidade da hipótese do Dr. Romildo Ferreira de Carvalho. Realmente, a associação com o Sabiazeiro, apesar da pequena idade do experimento, tende a beneficiar o desenvolvimento das essências florestais de lei, notadamente na variável altura.

Essa confirmação só é válida para a zona da mata de Pernambuco, onde o Sabiazeiro mostrou-se a essência pioneira mais promissora. Para outras regiões, só a pesquisa poderá avaliar o comportamento dessa associação, em que poderão ser testadas outras pioneiras.

OBS - Tema apresentado aos alunos do Mestrado de Botânica da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, em 16 de maio de 1979.

BIBLIOGRAFIA

AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. & MIZUGUCHI, Y. - Biologia, genética, evolução e ecologia, São Paulo, Ed. Moderna Ltda, 1975, p. 292.

ANDRADE LIMA, D. Um pouco de ecologia para o Nordeste, Recife, Centro de Ensino do Nordeste, 1971, p. 76.

ANDRADE, D. X. - Lições de silvicultura, Boletim técnico da Escola de Agronomia do Nordeste, Areia PB, 1ª parte, 1956, p. 105.

CARVALHO, R. F. - Problemas de reflorestamento do Nordeste. In: Vasconcelos Sobrinho, J. As Regiões Naturais do Nordeste, o Meio e a Civilização, Recife,
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________________ - Desenvolvimento de algumas das espécies florestais, nativas e exóticas, plantadas na Estação Florestal de Experimentação de Saltinho, Brasil
Florestal n° 34, abr/jul, 1978, Brasília DF, p. 51/6.

CLARK, G. L. - Elements of ecology, New York, John Wiley & Sons, Inc., 1954, p. 534.

DOBEREINER, J. - Importance of legumes and their contribution to tropical agriculture, In: A Treatise on Dinitrogen Fixation, EMBRAPA, Rio de Janeiro, Brasil, 1977, p. 191/220.

GOLFARI, L. - Zoneamento ecológico da região Nordeste para experimentação florestal, Belo Horizonte, PRODEPEF, 1977, p. 116.

GOLLEY, F. B. et al. - Ciclagem de nutrientes em um ecossistema de floresta tropical úmida, Universidade de São Paulo, 1978, p. 256.

GOMES, F. P. - Curso de estatística experimental, 4ª ed., Universidade de São Paulo, 1970, p. 430.

NUNES, K. S. - Ciclagem de Nutrientes na Mata de Dois Irmãos - Recife, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Mestrado de Botânica, , Tese, Recife (PE), 1980, p 108.

POGGIANI, F. - Ciclo de nutrientes e produtividade de floresta implantada, In: Silvicultura, Nov./Dez., 1976, São Paulo, p. 45/8.

SPIEGEL, M. R. - Estatística, Coleção Schaum, Ed. Mc Graw, Hilldo Brasil Ltda., São Paulo, 1976, p. 580.

STEWART, W. D. P. - Nitrogen fixing plants, In: Science, Vol. n° 158, 1967, p. 1426/32.

WEAVER, J. E. & CLEMENTS, F. F. - Plant ecology, New York, Mc GRAW Hill Book Co., 1938, p. 601.

WOODBURY, A. M. - Principles of general ecology, New York, the Blakiston Company Inc., 1954, p. 503.

ANEXOS

Os histogramas estão no artigo em formato MS Word

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