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Horto de Caípe Velho: o jardim botânico de um homem só

Publicado: Quinta, 20 de Fevereiro de 2020, 11h49 | Última atualização em Quinta, 20 de Fevereiro de 2020, 11h49 | Acessos: 477

https://www.lugaresdememoria.com.br/2020/01/horto-de-caipe-velho-o-jardim-botanico.html?m=1 

23/01/2020

Foto Clara Angélica Porto  - Matéria Horto de Cauípe Velho - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

Quando foi comprada, em 1980, a terra que hoje abriga o Horto de Cauípe Velho, na zona rural de São Cristóvão, estado de Sergipe, era exatamente igual às outras propriedades da vizinhança - um sítio de árvores frutíferas - como cajueiros e mangueiras - destinado ao sustento familiar dos proprietários, que continha alguns trechos de Mata Atlântica remanescente. Em apenas quatro décadas, o ex-fotógrafo Marcel Nauer transformou a área em um jardim botânico e a si mesmo em um paisagista autodidata.O horto de Marcel não tem respaldo de nenhuma instituição e não integra a reduzida lista dos jardins botânicos do Brasil. Mais que isso: é apenas um sitio de propriedade particular que não está oficialmente aberto ao público. Para visitá-lo, é preciso contactar seu dono por intermédio de um conhecido comum e agendar a visita, sempre aos domingos, quando ele passa o dia trabalhando no local.

Foto Clara Angélica Porto  - Matéria Horto de Cauípe Velho - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

A visita é gratuita, mesmo se tratando de uma propriedade particular, porque esse esforço de décadas foi feito sem fins lucrativos. Somente de vez em quando é que Marcel vende alguma planta e acaba concluindo que não valeu a pena porque pagam muito pouco.Como a terra não traz lucro, também não pode gerar muita despesa e isso faz com que tudo ali seja econômico e alternativo. A começar pela irrigação, feita com uma mangueira cheia de furos feitos para provocar esguichos de até um metro de altura.O surpreendente é constatar que, apesar de toda essa "informalidade", ele conseguiu construir uma espécie de museu natural a céu aberto, onde se pode observar, ou mesmo estudar, exemplares de todos os continentes, especialmente das regiões tropicais e, com isso, contribuir com a preservação de algumas espécies.

Foto Lucinha Simões  - Matéria Horto de Cauípe Velho - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA 2

Um paraíso que se releva aos poucos

Na chegada, pouco se vê além de uma casa de pau a pique e alguns canteiros de pedra. E tudo parece muito árido. Aos poucos, as maravilhas vão se revelando: palmeiras, cactus, orquídeas.Há plantas de todos o tamanhos e idades, não apenas porque sempre chegam mudas e sementes novas, mas também porque algumas podem levar até dez anos para germinar. Outras germinam rapidamente, mas demoram para crescer. Há casos de baobás que só se tornam adultos depois de um século.

Foto Clara Angélica Porto  - Matéria Horto de Cauípe Velho - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA
A variedade enriquece a paisagem. Enquanto o Jardim de Pedra reúne plantas tão pequenas que parecem feitas para as crianças brincarem de boneca, há árvores que já atingiram 40 metros de altura. Ao lado de palmeiras que se projetam no sentido vertical, plantas aquáticas espalham-se horizontalmente sobre a água.Embora o horto já tenha espécies exóticas do mundo inteiro, Marcel continua querendo mais e segue em busca de novas sementes ou mudas com a mesma empolgação que tinha em 1982, quando mudou-se para Sergipe e começou a plantar. Só que agora, sua terra já não é mais um 'jardim botânico de um homem só". Além da ajuda de Domingos, um nativo da região do Caípe que acompanha seu trabalho há muitos anos, Marcel conta com a colaboração do próprio ecossistema e garante que muitas arvores do horto germinaram a partir de sementes trazidas por morcegos.

Foto Clara Angélica Porto  - Matéria Horto de Cauípe Velho - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

O compartilhamento da construção é apenas um dos lados da história. Marcel também está longe de ser o único espectador das maravilhas que cultivou. Além dos amigos e das pessoas que conseguem chegar até ele com a ajuda de conhecidos comuns, o sítio recebe também visitas de pesquisadores e de alunos universitários. Isso sem contar no contato e intercâmbio que mantêm com profissionais de outros parques.A busca do conhecimento foi, desde o início desse trabalho, uma das grandes preocupações de Marcel, que abre mão de quase tudo para conseguir comprar livros de Botânica e, talvez por isso, tenha conseguido ir tão longe, mesmo sendo estrangeiro.

Um jardim de sonhos 

Hoje Marcel Nauer é naturalizado brasileiro, mas quando tudo começou, ele era apenas um suíço apaixonado por uma brasileira, que tinha dois sonhos: viver em um país tropical e trabalhar com plantas. A paixão era por Neusa de Souza Bonfim, uma sergipana que ele conheceu na Bahia, em 1972. Durante quatro anos, Marcel visitou Sergipe para vê-la, até que conseguiu casar-se com ela e leva-la para a Europa, onde tiveram sua única filha, Christine, mas a sergipana não se acostumou com a nova vida e acabaram voltando. A essa altura, 1983, já eram donos do sítio, que ele comprou sem ver, por intermédio dos parentes de Neusa.

Foto Lucinha Simões  - Matéria Horto de Cauípe Velho - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA 2  

Mas a história do horto começa muito antes. Em sua infância, na Suiça, Marcel gostava de acompanhar o avô que era paisagista e trabalhava em um castelo alemão. Junto com ele, visitou vários jardins botânicos. Na adolescência, veio encantamento pelos trópicos e o desejo de viver em um país tropical. 

Foto Lucinha Simões  - Matéria Horto de Cauípe Velho - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA 2  

Antes de conhecer Neusa e se mudar para o Brasil, formou-se em uma escola de artes e trabalhou em gráfica fazendo retoques artísticos, mas, ainda em Zurich, mudou seu foco para a área da fotografia,.e foi esse seu primeiro trabalho no Brasil - fotógrafo do Centro de Criatividade de Aracaju. Depois que o sítio já estava estruturado, Marcel sentiu falta da atividade artística e começou a fazer tapeçaria.Aparentemente, a formação de Marcel e sua nova atividade de tapeceiro não têm qualquer relação com o trabalho de Botânica, mas quem visita o Horto - ou Jardim Botânico, como preferem alguns - de Caípe Velho, percebe que não se trata apenas de um aglomerado de plantas, ordenados pela lógica da botânica, mas de uma 'pintura' natural comparável ao trabalho dos mais famosos paisagistas.

Fotos Lucinha Simões  - Matéria Horto de Cauípe Velho - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

 

Fotos Clara Angélica Porto  - Matéria Horto de Cauípe Velho - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

Horto de Cauípe Velho - São Cristóvão - Sergipe - Brasil - América do Sul  

Texto: Sylvia Leite 

Jornalista - MTB: 335 DRT-SE / Linkedin / Lattes 


Fotos:  

 (1,2,4,5 e 9) Clara Angélica Porto(3,6,7 e 8)  Lucinha Simôes

Participação especial: Ruth Oliveira

 

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