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Nordeste – uma grande seca se aproxima, artigo de Manoel Bomfim Ribeiro

Publicado: Quarta, 12 de Junho de 2019, 15h29 | Última atualização em Quarta, 12 de Junho de 2019, 15h29 | Acessos: 317

Salvador - 2004

 

Estamos entrando no período de uma seca tirana e avassaladora a ocorrer de 2005 a 2011 – 6 anos, com pico no ano de 2007. É um fenômeno mesológico que acontece no Nordeste desde o período neolítico. No século 18 a região sofreu 36 anos de secas. No século 19 foram 27 e no século findo foram 37. Em um terço de cada século o Semi-árido é envolvido pelos tentáculos deste grande flagelo.

            A ciclicidade deste fenômeno ocorre de maneira fortemente probabilística a cada 26 anos de acordo a curva senoidal de Fourier.

 

            Os prognósticos do tempo a longo prazo sobre as secas foram, cientificamente, pesquisados desde 1975 pela Divisão de Ciências Atmosféricas do Centro Técnico Aeroespacial de São José dos Campos. Em Relatório Confidencial à SUDENE e ao DNOCS em 1978 o CTA mostra a probabilidade de uma grande seca de 1979 a 1984, 6 anos cruciais cujas previsões foram sobejamente comprovadas. O El Niño interferiu também aumentando mais ainda o rigor do período estival.

 

            Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”, um clássico da língua portuguesa, diz textualmente: “Os aparecimentos das secas do século 18 e no atual se defrontam em paralelismo singular de incógnitas que se desvendam, sucedendo-se de maneira a permitir previsões seguras sobre a sua irrupção...a seca é o terror máximo para os rudes patrícios da região”.

 

            Os efeitos das secas não têm limites, blaterava no Congresso o deputado e escritor José de Alencar sobre o flagelo de 1877/81. Epitácio Pessoa pintava em cores negras a desolação e o desespero daquela terrível seca. Mais tarde, 30 anos depois, como presidente da República (1920 – 23) o mesmo fez grandes realizações no Nordeste brasileiro.

 

            As secas históricas, aquelas que provocam hecatombes na hinterlândia do Semi-árido ocorreram nos anos 1583, 1614, 1690/93, 1720/25, 1824/25, 1877/81, 1915, 1932, 1958, e 1979/84, todas encaixadas na senóide de Fourier. A periodicidade das grandes secas no ciclo de 26 anos impressiona pela exatidão, só com ligeiras discrepâncias quando causadas por mudanças na trama atmosférica. Quando prolongamos a senóide no sentido inverso, isto é, em regressão, chegamos ao século do Descobrimento, coincidindo a curva com as principais secas que ocorreram no passado. No sentido ascendente a previsão, além de 2005/11, é anotada também para 2031/37, 2057/63, 2083/89, 2109/11 e assim por diante em ciclos de 26 anos. Quem for vivo verá.

 

            À medida que os anos passam registrando os acontecimentos meteorológicos, os dados estatísticos oferecem previsões mais seguras quão exatas são, hoje, as previsões do tempo no Velho Continente europeu com suas observações milenares.

 

            Observa-se também, em levantamentos estatísticos, que as ocorrências das grandes secas, são precedidas de chuvas copiosas. Lembremo-nos que em 1978 tivemos águas mil quando em março de 79 o São Francisco atingiu a máxima de toda sua história, com 19.000 m³/s. Logo após veio a terrível seca de 79/84. É o caso das chuvas caídas no Nordeste na primeira quadra deste ano prenunciando que as águas do Céu se esgotam para os anos seguintes. É a fatídica periodicidade do fenômeno que sempre ocorre com fatalidade apocalíptica.

 

            As secas intercaladas entre os ciclos de 26 anos tendem a ser  mais freqüentes em razão das ações antrópicas exercidas na ambiência do Semi-árido. A desertificação em marcha, na região, é uma tragédia ecológica com profundos reflexos ao meio. A agricultura de subsistência é, ainda, o núcleo central da economia regional na razão direta das precipitações pluviais. São 700 bilhões de metros cúbicos de água que anualmente desabam sobre o Nordeste e cerca de 90%, em média, seevaporam logo após as precipitações, criando as condições propícias para a desertificação e o conseqüente malogro das plantações de subsistência.

 

            Na terrível seca de 79/84, a SUDENE, com suas frentes de trabalho, comandou e se ufanou de ter desmatado e destocado 1,5 milhão de hectares de nossa caatinga (equivalente a 71% do estado de Sergipe), desnudando e calcinando vasta área do Semi-árido, uma das razões porque 12% da superfície nordestina já se encontra em franco processo de desertificação.

 

            As secas, como as guerras, só serão vencidas com planejamento, tática, trabalho, recursos e muita fraternidade.

 

Ao comentar os prognósticos de 2005/2011, pretendemos, como técnico, tão somente alertar a sociedade e o Governo para os fatos sombrios que se aproximam.

 

Manoel Bomfim Ribeiro, eng. civil

Ex-diretor regional do DNOCS, da CODEVASF e Consultor da SRH/MMA

 

 

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