As represas de Três Marias e Sobradinho poderão atingir volumes mortos no mês de novembro, por João Suassuna
14/08/2017
Francisco de Assis Pereira, membro do Movimento Carta de Morrinhos, postou gráficos nas redes sociais, mostrando as projeções dos níveis das represas de Sobradinho e Três Marias, de alcance de seus volumes mortos no mês de novembro do corrente, caso as medidas que estão sendo adotadas pelo Poder Público, não surtam os efeitos esperados. Isso que está acontecendo na bacia do Rio São Francisco, podemos considerar como um “desastre anunciado”. Estamos envolvidos com essas questões sanfranciscanas, faz tempo, o que nos dá margem para continuarmos, sem mudar uma vírgula sequer, a nossa luta em sua defesa. Tenho recebido algumas críticas da academia, enxergando no meu trabalho, certo teor de catastrofismo, e ausência de alternativas viáveis ao projeto da transposição, que venham a resolver, em definitivo, a questão do abastecimento das populações. Ora, não temos feito outra coisa nessas últimas duas décadas. No nosso modo de entender, faltou aqueles que nos criticam, um aprofundamento maior nas discussões técnicas havidas e divulgadas em rede, que têm abalizado toda essa discussão e, inclusive, com enfoque no esclarecimento da situação de penúria hídrica vivenciada em toda a bacia do Rio São Francisco. Em relação às alternativas ao projeto, listamos abaixo algumas que, insistentemente, temos ponderado como sendo aquelas que, uma vez aceitas e implantadas, amenizariam a situação de desespero daqueles que passam por momentos difíceis de acesso à água. São elas:
- A bacia do Rio São Francisco tem que ser considerada como unidade de planejamento;
- A visão sistêmica do uso da água do rio, a exemplo do que vem sendo discutida e adotada pelo Movimento Carta de Morrinhos, tem que ser priorizada. É importante entender que a gota de esgoto que cai nas águas do Velho Chico, polui o Mar do Japão;
- A busca das águas interiores existentes nas represas nordestinas, tinha que ser igualmente priorizada. Afinal, são cerca de 37 bilhões de m³ de água, espalhados em cerca de 70 mil represas, que atualmente estão sendo superutilizados, levando as represas à exaustão, por mera falta de gestão adequada desses recursos;
- Em se tratando de gestão do recurso hídrico, é indispensável se observar o uso correto dos volumes de regularização das represas nordestinas, 100% garantidos, aos quais vêm se fechando os olhos para as boas e necessárias práticas, muitas vezes dando-se prioridade ao seu uso pelo grande capital. A irrigação pesada e os usos industriais estão sendo priorizados, em detrimento do abastecimento das pessoas. Temos que inverter isso!
- É importante se estabelecer critérios para os usos adequados das águas subterrâneas, principalmente em regiões sobre os principais aquíferos do Rio São Francisco (Urucuia entre outros), a fim de que não haja prejuízos ou mesmo interferências danosas nas vazões de base do rio. Atualmente, com a estiagem prolongada em curso, somada aos usos intensos e indevidos dessas águas, principalmente com equipamentos de irrigação (pivôs centrais), contumazes consumidores de água, isso tem levado à interrupção desses fluxos de base, com reflexos negativos ao regime hidrológico do rio.
- O Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano, da Agência Nacional de Águas (ANA), seria outra alternativa mais viável ao projeto da Transposição, em razão de se estar utilizando as águas interiores da região setentrional, com algumas vantagens adicionais: a proximidade do local de consumo, custar a metade do que foi orçado na transposição, e de ter abrangência social muito maior. A Transposição visa o abastecimento de cerca de 12 milhões de pessoas, apenas. O Atlas Nordeste, de cerca de 34 milhões de pessoas, em municípios de até 5 mil habitantes.
Finalmente, é importante que seja aqui mencionado o agravamento da situação hídrica dos nordestinos, principalmente daqueles que dependem das águas do Velho Chico para sobrevivência. O poder público nos parece estar dando provas de que anda meu perdido no cenário atual, com o abastecimento de Campina Grande e de 18 municípios de seu entorno. As idas e vidas das autoridades no trato com as águas da Transposição, nos parece estar dando provas de empirismo exacerbado, podendo resultar em desconfortos no dia a dia da população, a qual já anda tão sacrificada. Saídas mágicas para a solução dessa grave crise hídrica não existem. É de se esperar a próxima quadra chuvosa, com boas caídas de chuvas, como aquela ocorrida em 2004, para, com os reservatórios com seus níveis recuperados, se proceder aos planejamentos devidos. Não vejo outra saída para se regularizar o abastecimento do nosso querido Nordeste seco!

Represa de Sobradinho chega ao volume morto em meados de novembro enquanto a represa de Três Marias em janeiro, mantidas as atuais condições de afluências e defluências. Tem que chover até outubro!
Fonte: Francisco de Assis Pereira – Movimento Carta de Morrinhos - 14/08/2017
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