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Paraíba: Nomes do Século - Presidente João Suassuna

Publicado: Sexta, 21 de Junho de 2019, 08h30 | Última atualização em Sexta, 21 de Junho de 2019, 08h30 | Acessos: 7791

Presidente João Suassuna

 

Série Histórica - Vol. 3

 

União Editora

 

Resultado de imagem para Paraíba Nomes do Século João Suassuna

APRESENTAÇÃO

 

            Um repórter imparcial da mídia moderna, trabalhando à luz do pensamento politicamente correto, que fizesse a cobertura completa da vida do ex-presidente do Estado da Paraíba, João Suassuna, não chegaria a conclusão diferente da que chegou Natércia Suassuna, sobrinha do personagem aqui biografado. Trata-se, no presente estudo, de uma dessas comoventes vítimas dos entrechoques do ser humano na sua penosa caminhada em busca de si mesmo. “O inferno é o outro”, dirá Jean Paul Sartre, na mais aproximada definição da condição humana a que chegamos a respeito de nós mesmos.

 

            João Pessoa foi assassinado no Recife no dia 26 de julho de 1930. Menos de três meses depois, no dia nove de outubro, João Suassuna era assassinado no Rio de Janeiro.. No bolso do seu paletó foi encontrada uma carta destinada a sua esposa Ritinha: “...eu sou inocente na morte de João Pessoa (...) se me tirarem a vida, saibam todos os nossos que foi calamitosa injustiça. Não alimentem, apesar disto, idéia ou sentimento de vingança contra ninguém. Recorram para Deus. Para Deus somente. Posso ter errado, mas não pequei ou não delinqüi conscientemente. Seja Deus testemunha destas declarações”.

 

            Em afirmação inserida por Natércia no seu trabalho, o historiador Joacil de Britto Pereira diz: “João Suassuna foi um homem muito injustiçado. Deus o compensou dando-lhe uma família exemplar, pessoas dignas de toda nossa admiração”. Entre os filhos que deixou, destaca-se o escritor Ariano Suassuna, membro da Academia Brasileira de Letras, criador do Movimento Armorial, a recriação em bases modernas (Realismo Mágico) do Regionalismo Nordestino. Um dos seus sobrinhos, Ney Suassuna, é hoje senador da  República.

 

            Ao assumir o governo da Paraíba aos 38 anos, em 1924, João Suassuna foi saudado pela revista “Era Nova”, da qual Augusto dos Anjos fora secretário, com a “vitória dos valores moços, o predomínio da inteligência na política dos nossos tempos”.           Presenteando o público paraibano e brasileiro com esta nova edição da Série Histórica, de A UNIÃO Editora, o governador José Targino Maranhão dá continuidade à obra de resgate dos grandes vultos da nossa história que fazem a Paraíba brilhar no cenário nacional como a terra de um povo livre.

 

Nelson Coelho da Silva

Jornalista e Diretor Técnico de A UNIÃO

 

PRESIDENTE JOÃO SUASSUNA

 

            Fui solicitada pelo jornal A UNIÃO para escrever sobre o ex-presidente JOÃO SUASSUNA, meu tio-avô, irmão da minha avó Adálida.

 

            Não sei se vou conseguir expressar em palavras o que foi o cidadão, o político, o amigo, o ser humano sensível e ligado à família. Não tive o prazer de conhecê-lo, mas nasci ouvindo nossos familiares falarem sobre ele. Para mim é como se tivesse vivido naquela época.

 

            JOÃO SUASSUNA nasceu em Catolé do Rocha, alto sertão da Paraíba, em 19 de janeiro de 1886; filho do proprietário rural Alexandrino Felício Suassuna e de Joana Pessoa de Vasconcelos Suassuna. O nono filho de uma irmandade de dez. Nas propriedades de seu genitor, a Marcelina e a Volta, na Paraíba, e a Fortuna, no Rio Grande do Norte, passou sua infância, onde aprendeu a gostar e a lidar com a vida do campo.

 

            Descende de famílias pernambucanas: Cavalcanti de Albuquerque e Pessoa de Vasconcelos, consangüíneos do Visconde de Suassuna pelo lado paterno e pelo lado materno, primo de Pedro Américo (Daniel Figueiredo, pai de Pedro Américo, era tio legítimo de sua mãe Joana, e ela o chamava “meu tio Daniel”, esta era filha de Dondom - tia do pintor, citada por ele em algumas cartas).

 

            Eram seus avós paternos: Raymundo Francisco de Salles e Mariana Felícia Suassuna; avós maternos: Bevenuto José Pessoa de Vasconcelos e Anna Francisca Xavier de Figueiredo (Dondom).

 

INFÂNCIA E JUVENTUDE

 

Iniciou os estudos em sua própria casa, com os pais e os irmãos mais velhos. Aos onze anos ingressou no Colégio Sete de Setembro, na cidade de Brejo do Cruz (PB), do professor Antônio Gomes de Arruda Barreto, que veio de Pedra Lavrada (PB), pelas mãos do Sr. Francisco Hermenegildo Maia de Vasconcelos, no ano de 1874; um dos primeiros professores da região, talvez o mais preparado. Com dezessete anos de idade já falava Francês, Espanhol, um pouco de Alemão, tornou-se um latinista. Foi com esse professor que João Suassuna fez os preparatórios. Em 1900, o Colégio Sete de Setembro foi transferido para Mossoró (RN). Nesse mesmo ano o professor Antônio Gomes, viúvo pela segunda vez, contraiu matrimônio com Laura Amélia Suassuna, irmã do ex-presidente, e ela acompanhou o marido na sua nova investida, levando consigo três dos seus irmãos: Antônio, Anacleto e João Suassuna. Entre seus colegas do curso secundário estavam Chateaubriand Maia de Arruda Barreto, filho do professor (este depois veio a ser cunhado de Suassuna, casando-se com sua irmã Adálida) e João Agripino de Vasconcelos Maia.

 

Em 1905, Suassuna seguiu para o Recife onde fez os testes (hoje vestibular) para ingressar na Faculdade de Direito; com ele os dois colegas citados anteriormente. Nessa época as viagens eram muito demoradas, feitas em lombo de animais. De Catolé do Rocha a Campina Grande levavam-se 23 dias. Em Campina tomavam o trem para o Recife.

 

João Suassuna era inteligente e preparado, espírito alegre e brincalhão. Tocava violão e compunha versos, que também cantava, acompanhando-se ao violão.

 

Contava a minha avó Adálida, sua irmã, que Joãozinho (como era chamado carinhosamente pelos familiares) e Chateaubriand Maia de Arruda Barreto, na época seu noivo, depois de aprovados no teste da Faculdade de Direito do Recife, no afamado trote, a que foram submetidos, feito em forma de sabatina, os veteranos faziam perguntas aos novatos sobre vários assuntos. A cada resposta errada eram castigados com um “bolo” de palmatória. Achando, aqueles estudantes, vindo de outras regiões do país, que os paraibanos do alto sertão não tinham cultura e eram despreparados, formularam várias perguntas que foram respondidas com a maior precisão. No final, sem que tivessem tomado nenhum “bolo”, João Suassuna e Chateaubriand sugeriram que as perguntas fossem feitas por eles, seguindo o mesmo critério. O resultado foi que os veteranos tomaram tanto “bolo” que pediram clemência. Nascia aí entre os acadêmicos de toda Faculdade, a amizade, a admiração e a confiança nos sertanejos paraibanos. Foram seus colegas os paraibanos, Chateaubriand e João Agripino, já citados, Júlio Lyra, Camelo Júnior, Severino Pimentel, o alagoano Gilberto Amado. Entre os contemporâneos, Irineu Joffily, Tobias Dantas, João Minervino de Almeida Dutra, João Espínola. João Suassuna bacharelou-se em Direito no ano de 1909.

 

VIDA PROFISSIONAL

 

Foi jornalista; iniciou sua vida profissional como advogado em Mossoró (RN), Juiz de Direito em Umbuzeiro, Campina Grande e em Monteiro na Paraíba; Procurador da Fazenda Nacional na Paraíba. Convidado por Antônio Pessoa para principal Auxiliar da Administração quando esse assumiu o governo do Estado, com a renúncia do Presidente Castro Pinto, em 1915. Respondeu pela Inspetoria do Tesouro Nacional, que corresponde hoje, a Secretaria das Finanças, no governo Sólon de Lucena (1920-1924). Era Deputado Federal quando o elegeram Presidente do Estado da Paraíba (1924-1928), contava apenas 38 anos de idade. Teve como primeiro vice-presidente: Walfredo Guedes Pereira e como segundo vice-presidente, Flávio Ribeiro Coutinho. Em 1930 João Suassuna foi novamente eleito Deputado Federal.

 

CASAMENTO

 

João Suassuna casou em 01 de dezembro de 1913, com Rita de Cássia Dantas Villar, nascida em Desterro, município de Teixeira (PB), a 21 de fevereiro de 1896, filha de Gabriel Villar de Araújo e Dona Afra Dantas de Vasconcelos. Dona Ritinha faleceu no Recife, a 26 de abril de 1990.

 

Diz o advogado e escritor Joacil de Brito Pereira: O Presidente João Suassuna foi um homem muito injustiçado. Deus o compensou dando-lhe uma família exemplar, pessoas dignas de toda nossa admiração.

 

Concordo plenamente com o Dr. Joacil. João Suassuna e Dona Ritinha orientaram os filhos dentro da religião cristã, todos tementes a Deus. Ele era católico e ela evangélica (crente ou protestante, nomes mais usados naquela época), mas havia um espírito mútuo: frequentavam as duas igrejas, deixando também os filhos livres para escolherem a religião que quisessem seguir.

 

Dona Ritinha foi uma heroína. Criou os filhos com rigor e também com muito carinho, mesmo nos momentos mais difíceis de sua vida, depois do assassinato do seu marido, nunca deixou transparecer aos filhos suas aflições. Educou todos com o maior sacrifício, tendo sido recompensada pois só lhe deram motivos para que se orgulhasse deles. Foram nove os filhos do casal: Saulo, o mais velho, quando perdeu o pai tinha apenas 15 anos de idade. Formou-se em medicina, especializando-se em Urologia. Foi professor da Universidade Federal de Pernambuco, faleceu em 1977; João Suassuna Filho, médico Otorrinolaringologista, com consultório no Recife (PE); Lucas, Bacharel em Direito, foi Promotor e Juiz de Direito, professor da Universidade Federal da Paraíba; eleito Deputado Estadual pelo nosso Estado, faleceu em 1986; Selma fez curso de Perito Contador e foi tradutora de Inglês, faleceu em 2004; Marcos, médico Pediatra e professor da Universidade Federal de Pernambuco; Germana tem curso de Perito Contador, formada em Filosofia e professora da Universidade Católica de Pernambuco; Betacoeli, nasceu no Palácio da Redenção quando seu pai era Presidente do Estado, tem curso de Pedagogia; Ariano Suassuna, também nasceu no Palácio da Redenção, mas considera-se taperoaense. Formado em Direito e Filosofia; escritor e teatrólogo; membro da Academia Brasileira de Letras. Magda, funcionária pública. Esta última ficou órfã com apenas um ano de idade.

 

Aqui está a prole de João Suassuna e Ritinha Villar Suassuna, que honra com todas as letras a nossa família. De onde estiver, o Presidente Suassuna com certeza se orgulha e agradece a Deus pela mulher e pelos filhos que Ele lhe deu.

 

FAMÍLIA SUASSUNA E MAIA

 

Comentam-se muito as brigas e inimizades entre as famílias Suassuna e Maia – OS MAIA E OS SUASSUNA MATAM-SE HÁ MEIO SÉCULO, do Jornal do Brasil, em 1985. Esse é um dos títulos de reportagens sobre essas famílias.

 

Em toda cidade do interior existem geralmente duas famílias que se destacam e uma luta com a outra pela liderança, principalmente na política, o que não é diferente em Catolé do Rocha. Acontecem também muitos casamentos entre elas. É o caso dessas duas famílias que vêm se entrelaçando desde o final do século retrasado até os dias de hoje. Da irmandade de João Suassuna, em número de dez, somente três não se casaram na família Maia: Anacleto, casado com Josefa Leite; Laura, casada com Antônio Gomes de Arruda Barreto e o próprio João Suassuna, casado com Rita de Cássia Dantas Villar.

 

Seus outros irmãos foram casados com Maia: Pio, com Dolores Henriques Maia; Cassiana, com Joaquim Laurentino Maia; Maria Alexandrina, com Américo Hermenegildo Maia de Vasconcelos; Cristiano, casado em primeiras núpcias, com Francisca Rodrigues Maia e em segundas núpcias, com Júlia Leite; Antônio, com Áurea Maia Diógenes; Alexandrina, com Cícero Maia e Adálida, com Chateaubriand Maia de Arruda Barreto (dos quais eu descendo).

 

O primeiro desentendimento entre as citadas famílias foi realmente em 1922, por causa de uma simpatia nascida entre Francisco Sérgio Maia e Noemi Leite, cunhada dos irmãos Anacleto e Cristiano Suassuna. Cristiano alegou que o rapaz era rico e que com certeza não teria boas intenções com a moça que era pobre (na reportagem do Jornal do Brasil, diz que era porque o rapaz era tísico).

Ao meu ver, foi um erro de tio Cristiano. Noemi teria feito um ótimo casamento. Chico Sérgio era um homem de bem. Mas o problema talvez tivesse sido contornado, se não se tivesse ajuntado a ele complicações políticas ligadas à disputa pela chefia de Catolé do Rocha.

 

Houve outro acontecimento em 1956, entre Chiquinho Suassuna e Lavoisier Maia que são parentes e eram amigos, sempre organizavam festas juntos. Nesse caso o vilão da história foi a bebida. Estavam meio altos, principalmente Lavoisier.

 

Sobre Jandui Suassuna (Prefeito de Riacho dos Cavalos em duas ocasiões. Suplente de Deputado Estadual, assumindo, por seis meses, em 01 de setembro de 1969), assassinado em 1983, os Maia não têm nenhum envolvimento no episódio. O culpado, indiretamente, foi o genro de Jandui, Aírton, que matou um cearense, e a família por vingança, escolheu um que fizesse muita falta à família.

 

Realmente, Jandui não fez falta somente à sua família, mas também à pobreza, que recebia benefícios dele; e, é bom que se diga, fazia caridade sem interesse político, fazia por ser bom mesmo. Eu o admirava muito.

 

Houve outras divergências entre as duas famílias, como uma de Zezito com Ney, por causa de política. Nesse caso, nem sequer houve discussão. Apenas Zezito se recusou a subir no palanque onde Ney se encontrava. Hoje, Ney é Senador da República, e Zezito é Prefeito de Catolé do Rocha.

 

Entre Romero Suassuna e Zezito Maia, os desentendimentos ocorrem geralmente por motivos banais. Nunca chegaram a ter problemas mais graves.

 

Estou citando esses casos para melhor esclarecimento dos que não conhecem bem de perto as famílias catoleenses. E concluindo digo que todos são parentes entre si: Américo Suassuna era filho de Pio Suassuna e Dolores Maia; Chiquinho Suassuna, filho de Sílvio (que também era Maia); Ney e Jandui Suassuna, netos de Pio Suassuna e Dolores Maia; Romero, filho de Sílvio Suassuna e Lália Maia. Eu também pertenço às duas famílias, pois sou Maia e Suassuna, neta de Chateaubriand Maia e Adálida Suassuna, e me dou muito bem com todos das duas famílias, sem exceção.

 

Então indago: de quem vem o ranço? Dos Suassuna ou dos Maia? Difícil é responder, porque os sangues estão misturados. O importante é que nunca chegaram às vias de fato, contradizendo o comentário do jornal, que “há cinqüenta anos os Maia e os Suassuna se matam”.

 

De todos esses episódios, o único que João Suassuna acompanhou foi o de 1922.

 

O PRESIDENTE

 

João Suassuna foi escolhido candidato ao governo do Estado da Paraíba na convenção de julho de 1924, indicado pelo então Presidente Sólon de Lucena.

 

O pleito realizou-se em 1924. Foram sufragados 18.746 votos para João Suassuna. Tomou posse em outubro do mesmo ano.

 

O colégio eleitoral era insignificante devido a pequena população do Estado, bem como o impedimento do direito de votar e ser votado, às mulheres e aos analfabetos. Registre-se ainda que o voto não era secreto.

 

Foram auxiliares imediatos no seu governo: Dr. Demócrito de Almeida – Secretário de Estado; Tenente-Coronel Elysio Sobreira – Comandante Geral da Polícia; Dr. Júlio Lira – Chefe de Polícia; Severino de Lucena – Oficial de Gabinete; Monsenhor João Milanez – Diretor de Instrução Pública; Dr. João Maurício de Medeiros – Prefeito da Capital; Capitão Primo Cavalcanti – Ajudante de Ordens; Dr. João Espínola – Inspetor do Tesouro.

 

Transcrito da revista ERA NOVA – Ano IV, número 62, de 15 de maio de 1924:...sentimo-nos à vontade para louvar a indicação do ilustre conterrâneo principalmente porque ela representa a vitória dos valores moços, o predomínio da inteligência na política dos nossos tempos...O Sr. João Suassuna é da falange dos modernos espíritos, da mentalidade moça do nosso país. A sua candidatura não apresenta, como a maioria das candidaturas presidenciais, mero interesse de clãs partidários, mas sim a aspiração da juventude que descortina à Parahyba novos horizontes e novos destinos.

 

Suassuna começou seu governo pelo sertão, uma região muito importante, incentivando a agricultura e a pecuária por ser terra muito boa para a criação de gado. Pensava evitar a vinda de pessoas do interior para as cidades grandes onde geralmente ficam desempregadas. Aumentou a produção algodoeira, fez silos para guardar cereais, forragens para o gado, habitações para funcionários públicos e zelou pela ordem pública em todo o Estado.

 

Governou a Paraíba numa época em que a situação do país era muito difícil, principalmente no Nordeste. O Presidente Suassuna recebeu pouca ajuda do governo da União. Era, nessa época, Presidente da República, Arthur Bernardes que desativou todas as obras públicas iniciadas por Epitácio Pessoa, no combate aos efeitos das secas no Nordeste. Esse fato esfriou a economia regional. Houve uma queda no comércio, muitos estabelecimentos pediam concordata e outros foram à falência, situação bem parecida com a dos dias de hoje. Também enfrentou grandes dificuldades no combate ao cangaço. O Presidente não media esforços nem despesas na defesa dos paraibanos, principalmente contra os cangaceiros. Distribuiu reforço policial em todo o Estado, com maior intensidade nas fronteiras do sertão e do brejo, onde havia mais ataques: adquiriu fuzis e munição; premiava a quem desse informações importantes no cerco aos bandidos.

 

Enfrentou a Coluna Prestes, em 1926. O Presidente tomou conhecimento da composição por um boletim que tinha chegado às suas mãos; os prestistas estavam reunidos com o plano de cercar o Palácio do Governo, derrubar com dinamite o muro, e depor o Presidente Suassuna. Ele, juntamente com seu amigo José Pereira Lima e o Coronel Manoel Benício, se colocou à frente da polícia e foi contra os rebeldes. Venceu a batalha, prendendo dois tenentes da Coluna, Aristides de Souza Dantas e Seroa da Mota.

 

Deu continuidade às obras de esgoto e ampliação do serviço d´água da Capital, concluindo em janeiro de 1926 (a ampliação foi iniciada em 1922, e concluído em dezembro de 1922, no governo Sólon de Lucena. O serviço d´água foi feito no governo João Machado, em 1912); restabeleceu os assentamentos de hidrômetros e construiu chafarizes nas ruas da Capital. Implantou em Campina Grande o serviço d´água canalizada das barragens que construíra, Puxinanã e Grota Funda, ligadas entre si; construiu vários chafarizes. Fez gabinetes sanitários nas repartições públicas dessas duas cidades.

 

Reativou três Fazendas de Sementes aproveitando os prédios já construídos. Na Fazenda de Sementes de Espírito Santo, incentivou o cultivo do algodão; comprou um trator para preparar a terra, conseguiu um descaroçador, construiu um pavilhão para o seu funcionamento e ainda, sala de prensa e pequenos armazéns para guardar, separadamente, o algodão beneficiado. Consertou as casas da colônia de operários e os edifícios da administração. Essa Fazenda beneficiou os agricultores dos municípios de Guarabira, Pilar, Itabaiana, Sapé, Ingá, Santa Rita, Caiçara e Serraria.

 

Na Fazenda de sementes de Pendência, restabeleceu as cercas, a linha telefônica, conservou a estrada que liga a Fazenda à cidade de Soledade; construiu uma cisterna para água potável.

 

Na Fazenda de Sementes de Pombal, fez a conservação nos edifícios da administração e nos pavilhões de máquinas; construiu a estrada que liga a Fazenda à cidade de Pombal e da Fazenda às margens do rio Piranhas onde estavam as culturas; fez encanação com bombas para levar água do rio ao reservatório que abastecia a Fazenda; colocou uma linha telefônica para Pombal; fez oficinas de mecânica e carpintaria. Essa Fazenda foi visitada e elogiada pelo então Senador Washington Luiz, que posteriormente foi Presidente da República.

 

No ano de 1925 foram exportados pelo Porto de Cabedelo, principalmente para a Inglaterra, também para outros Estados do nosso país: sementes, tecidos de algodão e o óleo extraído das sementes do mesmo produto. O movimento do Porto de Cabedelo no primeiro ano de governo Suassuna superou os dos anos anteriores.

 

João Suassuna durante os quatro anos do seu governo trabalhou muito pelo desenvolvimento do nosso Estado.

 

Construiu estradas (carroçáveis) ligando Pilões a Cuité; Sousa a Coremas, Campina Grande a Areia, indo por Alagoa Nova; de Barra a Natuba; de São Bento a Serra Negra; de Teixeira a Imaculada; de Taperoá a Livramento e a Desterro; de Desterro a Riacho Fundo, em Cabaceiras. Fez melhoramentos nas estradas que ligam Jericó a Pombal; São Bento a Brejo do Cruz. Para as estradas de difícil acesso, principalmente nos meses invernosos, comprou uma Caterpillar para rebocar carroções com algodão, gasolina, cimento e outras mercadorias de grande porte, da Capital para o interior do Estado. Essa máquina foi a primeira a chegar à Paraíba.

 

Fundou a Escola do Saneamento, com aula primária para os operários.

Construiu Grupos Escolares em Princesa, Ingá, Itabaiana, Campina Grande, Umbuzeiro, o Dom Pedro II na Capital e o Antônio Gomes em Catolé do Rocha, inaugurado a 15 de outubro de 1928. Esse último, após sua morte recebeu o nome de Grupo Escolar João Suassuna, e Antônio Gomes deu nome ao Grupo na cidade de Brejo do Cruz (PB).

 

Fez o açude de Condado com capacidade de 9 milhões de m³ d´água; concluiu o açude de Barra de Santa Rosa, em Picuí, com capacidade para 260.000 m³. Este foi iniciado pelo ex-presidente Sólon de Lucena.

 

Abriu poços em Alagoinha, Guarabira, Bananeiras, Areia e Soledade.

 

Construiu pontes em Alagoa do Monteiro, com 44 metros de extensão; em Taperoá com 64 metros, em São José dos Cordeiros com 21 metros, em Mata da Vara e em Itapecirica (Mamanguape). Todas em cimento armado.

 

Organizou a Associação dos Escoteiros na Paraíba; ajudou aos agricultores, concedendo-lhes empréstimos no Banco da Parahyba (fundado em 05 de junho de 1924, no governo Solon de Lucena).

Em 1925, inaugurou a luz elétrica de Esperança e de Taperoá; em 1926, na cidade de Patos, e no ano de 1928, em Pombal. Naquela época a energia era gerada por motores a óleo Diesel.

 

Reconstruiu com uma grande reforma o Quartel da Polícia, na Praça Pedro Américo, que estava muito depreciado. Construiu o prédio do Quartel da Força Policial em Patos, inaugurado em 10 de outubro de 1928; fez um prédio para a Mesa de Rendas de Campina Grande. Melhorou as oficinas gráficas do Estado e da revista Era Nova (que tencionava editar como publicação oficial). Fez Posto Fiscal em Aroeiras e em Boa Vista; restabeleceu as linhas telefônicas de Juazeirinho (município de Soledade) a Patos.

 

Emancipou em 1925, as cidades de Sapé e Esperança.

 

Conseguiu o Serviço de Classificação Oficial de Cereais, instalado em 04 de outubro de 1926, na Capital, que teve como primeiro Diretor o Dr. Lupércio de Souza Branco; em fevereiro de 1927 foi instalado também em Campina Grande.

 

Construiu o Hospital Colônia Juliano Moreira, inaugurado em 23 de junho de 1928, que teve como primeiro diretor o Dr. Newton Lacerda.

 

Essas são algumas obras feitas pelo Presidente Suassuna durante o seu governo. E, do ponto de vista da cultura, além de apoiar o Movimento Regionalista, foi ele quem, pela imprensa d´A UNIÃO, mandou publicar a BAGACEIRA de José Américo de Almeida, obra que, saudada entusiasticamente por Alceu Amoroso Lima, obteve repercussão nacional e iniciou o ciclo dos ROMANCES DE 30.

Foi eleito em 1926, por unanimidade, Chefe do Partido Republicano na Parahyba.

 

As mensagens do Presidente João Suassuna à Assembléia Legislativa, dos atos administrativos do seu governo, eram considerados pelos deputados importantes documentos públicos. Não têm a feição comum dos relatórios oficiais. Eram publicadas no jornal A UNIÃO a cada aniversário do seu governo, no mês de outubro.

 

Algumas mensagens recebidas pelo Presidente João Suassuna no segundo aniversário do seu governo, publicadas no jornal A UNIÃO, de 22 de outubro de 1926:

 

Confio em absoluto na inteligência e no patriotismo de João Suassuna, e espero que, como eu, os meus conterrâneos saibam compreende-lo. Lamento sinceramente a crise atual que nos assoberba, muito especialmente a minha terra, e que a depreciação do seu principal produto tenha-o compelido a entravar o seu patriótico programa administrativo. EPITÁCIO PESSOA – Senador.

 

O governador João Suassuna é uma afirmação de inteligência lúcida, vontade firme, energia inquebrantável e ação esclarecida – traço do governo de um povo jovem por um homem novo, com ânsias de um grande porvir, através de provações e dificuldades, em um dos mais notáveis movimentos da história. MANUEL TAVARES CAVALCANTI - Deputado Federal.

 

O governo João Suassuna é uma vontade forte impulsionada pelo desejo ardente de servir a Parahyba. CARLOS PESSOA – Deputado Federal.

 

OS CANGACEIROS

 

Diziam os opositores que o Presidente João Suassuna protegia os cangaceiros, o que não é verdade. Ao contrário, ele os perseguia e a prova disso é a entrevista de Lampião ao jornal O CEARÁ, em 1926. Dizia Lampião: A polícia da Paraíba é insolente e covarde. Isto porque a força policial tinha-lhe dado uma carreira orientada por Suassuna e diretamente por José Pereira. Diz o jornalista cearense: Os Estados que se destacavam no combate ao cangaço, eram a Paraíba e Pernambuco, o governado por Suassuna (Paraíba) que tem José Pereira como comandante e chefe da luta contra Lampião.

 

José Pereira Lima era Deputado Estadual, amigo fraterno e fiel em quem o Presidente depositava toda confiança. Ele também foi chamado de cangaceiro. Como, se ele foi o braço direito do Presidente Suassuna na luta contra o cangaço no nosso Estado? Eu pessoalmente sou admiradora do Coronel Zé Pereira, o grande chefe de Princesa, homem valente, inteligente e trabalhador, como também admiro o seu filho Aloysio Pereira, nosso particular amigo.

 

Quase todos os fazendeiros procuravam fazer amizade com os cangaceiros na intenção de proteger seu patrimônio e suas famílias. Não era o caso do Presidente Suassuna, não digo que ele não admirasse a coragem e valentia dos cangaceiros, tanto que pôs em três cavalos de sua propriedade os nomes de cangaceiros: Passarinho, Medalha e Bom-Deveras mas dar-lhes apoio, nunca.

 

REVOLUÇÃO DE 30

 

O Presidente João Suassuna nada tinha com os desentendimentos entre João Pessoa e João Dantas. As desavenças eram pessoais. João Pessoa perseguiu muito João Dantas, tentando humilhá-lo de toda maneira, perseguindo a família Dantas, difamando publicamente o advogado que era um homem honrado e de brio. Foi provocado pelo então Presidente da Paraíba, chegando ao máximo com a publicação e exposição de correspondências íntimas de João Dantas.

 

João Suassuna foi acusado de cúmplice no assassinato de João Pessoa. Isso foi esclarecido mais tarde e a prova maior de sua inocência é a carta que havia feito para sua mulher Dona Ritinha, na véspera de ser assassinado, encontrada no bolso de seu paletó.

 

Aqui escrevo, na íntegra, o teor da carta que está no livro UMA ESTIRPE SERTANEJA – GENEALOGIA DA FAMÍLIA SUASSUNA, nas páginas 219 a 225, de autoria de Raimundo Suassuna, do qual, eu e minha mãe Adília Suassuna Dutra, somos co-autoras.

 

Rio, 8 de outubro de 1930.

 

Ritinha

 

Saudades infindas!

 

Recebi ontem sua cartinha de 01 do corrente, na qual você me dava tristes notícias do Catolé (surras em nossos amigos), de que já tinha mais ou menos conhecimento por um telegrama de Antônio, meu irmão, e no Teixeira onde não sei o que terão feito a esta hora, depois dos acontecimentos daí. Falava-me você, minha querida mulher, no descanso relativo que ia fruindo, sem imaginar que maiores aflições estivessem tão perto de nos flagelar. Meu Deus, quanto horror, a ser verdade tudo o que nos consta de ontem para cá, e de que ainda não temos certeza! A tortura e morte trágica de João Dantas e Augusto Caldas, massacrados em plena rua, martirizados e queimados depois de mortos. O sacrifício do General Lavanere Wanderley e outros oficiais legalistas, pensando eu logo no Major Júlio Cousseiro, Capitão Delmiro de Andrade, os filhos do doutor José Rodrigues e de d. Maristela Pedrosa e outros que nos foram tão dedicados. Os cuidados meus em Júlio Lira, Pedro Firmino, Jurema Filho, Duarte Lima e outros aí no Recife, foragidos, pelo ódio e perseguição implacáveis, filhos da paixão política! As aflições mortais por você, nossos queridos filhos. Cristiano, meu irmão e filhos em Goiana! Ah! Minha querida mulher, só Deus sabe como tenho sofrido mortalmente nestes dias de incertezas e apreensões terríveis, a par da injustiça de que sou vítima, e de que quero dar, mais uma vez, testemunho sereno perante o Senhor de todas as cousas, para, se eu desaparecer também e não nos virmos mais neste mundo de tristeza e dores pungentes, poder você assegurar aos nossos adorados filhos que eu sou inocente na morte do Presidente J. Pessoa; dela não tive nem conhecimento, nem poderia mesmo desconfiar que João Dantas pudesse mais praticá-la naquele dia, uma vez que ele já me apareceu muito tarde, como lhe tenho dito, e eu supunha, pelos termos da notícia da “União”, que o Presidente, a vítima, àquela hora já estivesse de regresso à Parahyba. A notícia do crime, portanto, foi para mim, transtornante surpresa, como poderá atestar Júlio Lira, primeira pessoa que ma comunicou e sofre igualmente dolorosa e injusta acusação. Ele nem esteve com João Dantas, no momento em que este veio trazer-me o artigo para eu ler, como só esteve comigo naquela tarde aziaga, depois da tragédia.

 

Não sei que destino nos esteja afinal reservado, nesta fase extrema e gravíssima da vida nacional; posso também desaparecer na voragem, sem vê-la mais, aos filhos, minha mãe, irmãos, cunhados, sobrinhos e amigos; disto tenho verdadeiro pressentimento. Como você não ignora, nunca me despedi de você, Ariano, Betinha e Saulo, a bordo, como de Neves e dos outros filhos em Paulista, com tanta saudade...Ah! Que esforço fiz para não chorar e demonstrar a você como me ficava o coração naquele abraço, talvez, o último neste mundo, em que os deixo ou deixarei pobres e expostos a verdadeiros martírios, numa época em que é incerto e negro o próprio futuro da Pátria brasileira. Confio muito em Deus em vê-los ainda, beijá-los e abraçá-los, mas como também posso não ser digno de tamanha graça, resolvi escrever estas declarações e deixá-las, com outros documentos da minha defesa, em mãos de um amigo, para seu conhecimento e dos meus – filhos, irmãos, sobrinhos e cunhados. Se me tirarem a vida os parentes do Presidente J. Pessoa, saibam todos os nossos que foi clamorosa a injustiça – eu não sou responsável, de qualquer forma, pela sua morte, nem de pessoa alguma neste mundo. Não alimentem, apesar disto, idéia ou sentimento de vingança contra ninguém. Recorram para Deus, para Deus somente. Não se façam criminosos por minha causa! Pode também escrever a todas as pessoas que nos são caras, que são sem fundamento as acusações à minha honestidade, feitas por inimigos políticos e particulares – são destituídas de qualquer fundamento. O pouco, a migalha que lhes deixo, é fruto do nosso trabalho, economia e renúncia ao luxo e ao próprio conforto de ordinário mantido por famílias das nossas posses. Você é testemunha disto, tanto ajudou-me na vida e pode dizer aos nossos filhos que eles tiveram por pai um homem de bem, digno do modelo de virtudes que é a sua consorte.

 

Deus há de velar por eles, como recompensa ao respeito que eu e você sempre tivemos às Suas leis e em que educamos os frutos do nosso feliz consórcio, para servirem a Ele e a Pátria. Continue a educá-los no trabalho, na modéstia de vida e na religião cristã, que é o refúgio seguro de todos os desgraçados e náufragos desta vida cada vez mais tormentosa.

 

A todos os nossos, parentes e amigos leais e verdadeiros, deve você dar conhecimento destas minhas declarações, caso venha a desaparecer de momento, como é possível, para que nenhum tenha a mais ligeira sombra de dúvida sobre a minha inocência no fato doloroso do Recife, da minha honestidade como homem público e particular e da pureza das minhas idéias, como cidadão, pai de família, parente e amigo, isto é, em todas as relações da vida terrestre.

 

Deixo todos os meus interesses em ordem, de sorte que você terá, por este lado, poucos aperreios, completando as notas aqui as notas que aí lhe deixei em mão.

 

Meu pensamento é hoje fixar-me no Sul, mas não sei se, sem minha pessoa você poderá fazer tão grave mudança de vida, com tamanha família e com os filhos ainda tão pequenos. Se a paz voltar à nossa grande Pátria, ora sacrificada e ameaçada, farei tudo para deixá-los onde não fiquem tão expostos ao ódio e à perseguição política. Parece que a gente que nos vota má vontade, não conhece e não sabe o que é perdoar.

 

Você sabe como fui infenso a essa política de lutas e ofensas, sofrendo calado toda espécie de agravos, para não revidar, porque estava prevendo a que extremos perigosos ia chegar a exaltação reinante. Refiro-me à luta política, porque fiz tudo para evitar a armada, tendo afinal opinado pela separação política do partido a que servi por quinze anos, com toda a dedicação e desinteresse, porque já estávamos humilhados demais. Conhece, porém, você, como hesitei diante da impaciência e pareceres pelo rompimento recebidos de tantos amigos. Só quero que me façam justiça e me carreguem a culpa que, de fato, me cabe. Posso ter errado, mas não pequei ou delinqui conscientemente. Seja Deus testemunha destas declarações.

 

Ass.

 

JOÃO SUASSUNA

 

 

O Presidente Suassuna tinha ido ao Rio de Janeiro para dar uma satisfação a seus pares na Câmara dos Deputados. Queria ele provar a sua inocência na morte do presidente da Paraíba. Foi covardemente assassinado sem antes ter feito sua defesa. Muitos deputados, colegas seus aqui da Paraíba, foram perseguidos, recebiam cartas anônimas, tentativas de invasão às suas residências para incendiá-las. Um deles foi Flávio Ribeiro Coutinho, que para se defender dos seus inimigos, escondeu-se no canavial da Várzea do Paraíba, principalmente para proteger seus familiares diante de tantos absurdos praticados em todo o Estado. João Suassuna foi aconselhado por Dr. Flávio, que o convidou para seguí-lo, mas Suassuna não aceitou; preferiu expor-se aos seus inimigos inescrupulosos pensando ele que o atacariam de frente. Mas eis que um covarde o matou, atirando nas suas costas.

 

Ninguém melhor que o grande orador, juiz e político paraibano, Alcides Carneiro, para falar sobre esse fato, dizendo o seguinte: 09 de outubro de 1930...na Rua Riachuelo, na Capital da República (Rio), era assassinado covardemente esse íntegro homem público. Caiu alvejado pelas costas. Não culpo o assassino pela covardia com que agiu. Atacar Suassuna de frente não era empresa para covardes. Tombou mortalmente ferido, de revolver em punho. Ai dos seus matadores se a pontaria tivesse falhado.

 

DEPOIMENTOS

 

Foram muitos os amigos da família que deram depoimentos a respeito do Presidente Suassuna. Cito alguns:

 

Escritora cearense, membro da Academia Brasileira de Letras, Rachel de Queiroz: Cavalheiro sem medo e sem mancha das tradições sertanejas.

 

Médico e escritor paraibano Humberto Nóbrega: Suassuna possuía talento, cultura, memória invejável, veia poética, oratória imaginosa, coragem leonina, conversa amabilíssima. Éramos capazes de passar horas esquecidas a ouvi-lo interessadamente. Telúrico, quando discorria a cerca de seu amado Catolé do Rocha, Malhada da Onça, Acauã, ou de fatos e pessoas ligadas àqueles rincões, fazia-o com vivacidade e entusiasmo.

 

Ministro Fernando Nóbrega: Suassuna era um homem autenticamente forte e temperamental. No ambiente da família, difícil era distingui-lo dos filhos. Era uma criança no meio das crianças. Tinha um bom humor permanente. E a boemia saudável era a nota de seu espírito. Devo, porém, confessar que ele era irredutível no princípio da fidelidade conjugal.

 

Escritor paraibano Walfredo Rodrigues, no seu livro ROTEIRO SENTIMENTAL DE UMA CIDADE: Praia Formosa – verão de 1926, quando dos seus grandes dias do governo Suassuna. Casa grande de telhas, com alpendres. Risos matinais de crianças, alegria enfim. Saulo, João, Lucas, brincando de vaqueiros, lembrando os nomes mais conhecidos da fazenda distante, lá longe no Taperoá. Ao centro do terraço, em descanso domingueiro, a figura insinuante de João Suassuna. Em cada vai-e-vem da rede, trazia um chiste das suas bem vividas e melhor contadas histórias sertanejas. A roda que ali se deliciava naquela Tertúlia, era a mais seleta de então. Madame Suassuna (Dona Ritinha para os íntimos), com a sua bondade natural das filhas de além-Borborema, multiplicava-se em atender aos presentes que eram então os amigos do seu idolatrado esposo.

Salustiano Cruz, jornalista de São Paulo: Presidente Suassuna uma figura empolgante, um aristocrata rural do feitio de Francisco Belizário e dos pró-homens fluminenses dos últimos anos do Brasil-império.

 

Da revista NOVÍSSIMA de Cassiano Ricardo: João Suassuna.. é uma dessas inteligências rútila que a modéstia não consegue de todo encasular. Moço e elegante, não trai nos gestos e na prosódia as feições dos nordestinos ingênitos. Há qualquer coisa de finamente parisiense naqueles seus modos acetinados, embora a energia seja um padrão que envolve a sua rija capacidade de lutador...Culto, conhecendo literatura e sociologia, discreteia sobre tais assuntos com a nobreza elucidante dos mestres.

 

Entendo Ariano quando se emociona e se sente impotente para escrever sobre seu pai, mesmo tendo subsídio suficiente para fazer a sua biografia com o título: VIDA DO PRESIDENTE SUASSUNA – CAVALEIRO SERTANEJO.

 

É com muita emoção mesmo que se fala sobre a vida de um ente querido. Às vezes acho que estou exagerando ou mesmo fazendo elogios por ser ele uma pessoa muito amada. Poe este motivo, resolvi transcrever alguns depoimentos sobre a pessoa do Presidente Suassuna.

 

DESAFETOS

 

Também houve críticas, fatos injuriosos, e outros deturpados. Cito alguns, e faço as justificativas.

Aqui, refiro-me a uma fotografia publicada há alguns anos, e que recentemente foi novamente estampada num jornal da Capital por um membro da família Pessoa. Nessa fotografia, vêem-se João Suassuna, seus irmãos Antônio e Cristiano, e alguns amigos, entre eles, o Dr. Jonas, engenheiro residente na Capital, que havia sido levado por João Suassuna para fazer um trabalho no açude da Fazenda Volta, onde morava sua mãe, pensando ele fazer um grande reservatório d´água para se prevenir das secas que atingem, ainda hoje, o nosso sertão (nessa época João Suassuna não era político).  Na fotografia estão todos “fantasiados” de cangaceiros, coisa comum no Nordeste, mesmo nos nossos dias. Para tirarem a fotografia, improvisaram os trajes, amarrado as pernas das calças com cordão, calçando alpercatas (algumas pequenas para quem as calçava) e as armas eram espingardas de soca, usadas em caçadas; vê-se também na foto um menino ajoelhado usando a bainha de uma garrucha, imitando uma espingarda. Essa turma acabava de chegar de uma caçada pela propriedade. Isto já havia sido esclarecido depois da primeira publicação (na década de 30). Agora estou narrando com detalhes, o que não foi feito anteriormente, encerrando aqui esse assunto, pois não interessa à família abrir discussão sobre isso, dando tudo por encerrado.

 

Essa fotografia foi roubada da casa de Antônio Suassuna, na cidade de Catolé do Rocha.

O Dr. Jonas e sua esposa, Dona Zezinha, passaram vários meses na Fazenda da família Suassuna, em Catolé do Rocha.

 

(1) João Suassuna, (2) Cristiano Suassuna, (3) Antônio Suassuna.

 

Mais um fato mentiroso cito aqui: O jornal DIÁRIO CARIOCA, de 24 de setembro de 1930, diz que o Presidente Suassuna havia fugido da Parahyba embaixo de colchões, numa mudança da família ou na mala de um carro. Este é o trecho da publicação: Como toda gente de sangue azul e voz fidalga, esse eminente príncipe do cangaço nordestino procurou viajar incógnito.

 

O Presidente Suassuna havia viajado ao Recife, sim, muito antes e à vista de todos.

Falavam também de um aparelho de louças que havia “desaparecido” do Palácio durante o governo Suassuna. Diziam ter sido levado pela família do Presidente quando terminou o seu governo em 1928. Na verdade, essa louça não tinha saído de lá. Anos depois foi encontrada encaixotada e guardada num dos quartos do Palácio. Nuca havia sido usada pela família do Presidente. Era uma louça muito fina, para ser usada em grandes recepções, e o Presidente não era afeito à festas. Portanto, ficou cuidadosamente guardada.

 

FINAL DE GOVERNO

 

Foram muitas as dificuldades encontradas pelo Presidente Suassuna, provocadas pelas secas que assolaram o Nordeste, principalmente o Sertão, com a sua safra de algodão reduzida a menos da metade, caindo também a arrecadação de impostos; repetidos surtos epidêmicos de varíola, febre amarela e bubônica; praga na lavoura; o cangaço e outras coisas mais.

 

O governo ainda teve de suprir as Mesas de Rendas do interior para não atrasar o pagamento do pessoal.

 

Lendo-se os seus relatórios relacionados as obras do seu governo, vê-se como esse homem público prestou grandes benefícios aos seus conterrâneos.  Não foi fazendo obras faraônicas. E sim com coisas de maior necessidade, que para muita gente não contam, principalmente para os adversários, assim como: consertos em estradas, conservação das escolas, aumento de salas de aula, gabinetes para diretores (foi o caso da Escola Normal); ajuda às Prefeituras com complemento de verbas para calçamento das ruas (na Capital, principalmente).

 

O Estado ficou com um déficit, que foi mencionado pelo Presidente no último relatório de seu governo à Assembléia Legislativa, no ano de 1928, decorrente das dificuldades citadas anteriormente.


João Suassuna cumpriu todos os compromissos assumidos pelo seu antecessor e fez o melhor que pôde pelo nosso Estado, honrando o juramento feito no dia da sua posse como Presidente do Estado da Paraíba.

 

Faço minhas as palavras de Ariano, na apresentação do livro – UMA ESTIRPE SERTANEJA – GENEALOGIA DA FAMÍLIA SUASSUNA:

 

Sou irremediavelmente, terrivelmente, orgulhosamente ligado aos Suassuna, sou um Suassuna e jamais desejaria ter outro sangue ou outro nome que não este.

 

 

Natércia Suassuna Dutra Ribeiro Coutinho, nascida em Catolé do Rocha (PB); filha de Natércio Dutra de Medeiros e Adília Suassuna Dutra. Casada com José Painho Ribeiro Coutinho. Empresária e Pesquisadora. Co-autora dos livros UMA ESTIRPE SERTANEJA – GENEALOGIA DA FAMÍLIA SUASSUNA, com Raimundo Suassuna e Adília Suassuna Dutra e no prelo, LOGRADOUROS DA GRANDE JOÃO PESSOA – PERSONAGENS E FATOS, com Marcus Odilon.

 

RECIFE - 2004

João Suassuna e Rita de Cássia Dantas Villar

Noivos, em 13-04-1913

 

Ritinha Suassuna com as filhas

Da esquerda para a direita: Magda, Betacoeli, Selma e Germana.

 

Filhas de Ritinha Suassuna

Da esquerda para a direita: Selma, Betacoeli, Germana e Magda.

 

Ritinha Suassuna com os filhos

Da esquerda para a direita: Ariano, Saulo, João, Lucas e Marcos.

 

 

Aspecto do desembarque do futuro Presidente da Parahyba que recebeu da

nossa população uma manifestação altamente significativa – julho de 1924

(Revista Era Nova – número 65)

 

Banquete no Rio de Janeiro oferecido ao Presidente João Suassuna, que se

vê, sentado entre o Dr. Estácio Coimbra – vice-presidente da República e

o Sr. Arnolpho Azevedo, presidente da Câmara dos Deputados

(Revista Era Nova – número 70)

 

João Suassuna no Passeio Público no Rio

de Janeiro – 10 de outubro de 1923.

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