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Pesquisa analisa o Programa Cisternas nas Escolas que contempla a região do semiárido brasileiro

Publicado: Terça, 03 de Março de 2020, 12h05 | Última atualização em Terça, 03 de Março de 2020, 12h05 | Acessos: 354

Dissertação defendida no IG analisou resultados da ação que visa a construção de cisternas com capacidade de armazenamento de 52 mil litros de água da chuva em escolas rurais. 

https://jornalggn.com.br/noticia/pesquisa-analisa-o-programa-cisternas-nas-escolas-que-contempla-a-regiao-do-semiarido-brasileiro/ 

Jornal GGN 

Eliane da Fonseca Daré 

02/03/2020

Fotos: Antonio Scarpinetti/Jornal da Unicamp/Divulgação | Edição de imagem: Renan Garcia 

Quando pensamos na seca do semiárido brasileiro, uma das imagens que nos vem à memória é a do quadro “Retirantes”, de Cândido Portinari – uma família pobre, carente de água e de alimentos saindo de sua região em busca de uma vida melhor. Mas como reverter a situação retratada na obra e tão marcante na vida de quem mora naquela região? Desde o período colonial, políticas públicas priorizam ações de combate à seca. No entanto, esse é um fenômeno natural recorrente, impossível de ser combatido. Há cerca de 20 anos distintas organizações da sociedade civil, como associações de agricultores, cooperativas, sindicatos rurais, entre outras, reuniram-se para transformar a relação do homem com o espaço a partir dos princípios de convivência com o semiárido. Nasceu assim a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), centrando suas ações no direito ao acesso à terra e à água.

Uma das ações desenvolvidas é o Programa Cisternas nas Escolas, que visa a construção de cisternas com capacidade de armazenamento de 52 mil litros de água da chuva em escolas rurais do semiárido brasileiro. O Programa foi o foco da dissertação de mestrado de Kezia Andrade dos Santos, defendida no início de fevereiro no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, no Programa de Ensino e História de Ciências da Terra. A pesquisa teve como orientador Roberto Greco, docente e coordenador da Comissão de Extensão do IG, e como co-orientadora Priscila Pereira Coltri, pesquisadora e diretora associada do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri). 

Kezia analisou como o Programa contribui para ressignificar o entendimento acerca do fenômeno da seca e a convivência no semiárido brasileiro, especialmente com a população rural. “Os resultados obtidos mostram que o Programa realmente contribui a partir das capacitações oferecidas sobre educação contextualizada, a partir da valorização do homem do campo e da valorização do conhecimento local sobre o entendimento acerca do fenômeno da seca”, aponta. 

A ideia de pesquisar o tema surgiu em 2017, quando Kezia trabalhava na Secretaria de Educação do município de Mucugê, na Bahia. Ela foi a responsável por acompanhar a implantação do programa em 19 escolas da zona rural da cidade. “Participei de todas as etapas – cadastramento, execução da obra, fiscalização, organização das capacitações”, disse a mestre. “Ela teve uma posição privilegiada para acompanhar e construir uma rede de contatos. Com isso, tentamos analisar os resultados desse programa ao longo do tempo. No grupo de pesquisa Geociências e Sociedade que coordeno, uma das linhas de pesquisa se dedica ao ensino. Por isso, nosso objetivo foi entender como a metodologia utilizada no projeto de ensino contextualizado contribuía para o aprendizado e atividades de educação da escola e para essa mudança de paradigma”, disse o orientador Roberto Greco. 

A partir da troca do paradigma combate à seca por convivência com a seca, a dissertação contribui para entender melhor o que é o semiárido, o que é a vivência das populações naquela área e como as populações locais têm grande potencialidade sobre o ambiente em que vivem.  “O conhecimento pode ser adquirido e passado por gerações. Há valorização do homem do campo, das mulheres, dos próprios alunos na produção do conhecimento. Os professores têm um novo olhar sobre o que é o ambiente semiárido, sobre o que é uma cisterna e sobre o acesso à água”, aponta Kezia. 

Para Greco, com as propostas da ASA, que utilizam tecnologia social a baixo custo, moradores rurais podem se empoderar e aprender a utilizar essas obras. “Na maioria dos casos são eles mesmos que constroem as cisternas utilizando os materiais fornecidos pelo Programa. Já está mudando a perspectiva das pessoas que estão tendo acesso a água, mas também estão entendendo seus direitos e responsabilidades, adquirindo um novo patamar de cidadania”, disse Greco. De 2009 a 2017, 571 municípios do semiárido brasileiro já haviam sido contemplados com o Programa. 

Convivência com a seca 

No imaginário popular brasileiro é impossível de se habitar na seca e impossível de conviver com ela. “Essa visão de combate indica que você está ligado à fatalidade do caso e da situação em que está empregado. Já o paradigma da convivência mostra que é possível viver de forma digna com as potencialidades do local, que eram negligenciadas como se fosse um lugar só de limitações. Sob o olhar da convivência, esse é um fenômeno natural que está ali em dado espaço de tempo, mas que é possível, através de técnicas certas e da utilização correta do solo e dos próprios recursos naturais, conviver com esse ambiente”, lembra Kezia. 

Priscila Coltri, que é agrometeorologista, conta que passou a ver o clima sob um ponto de vista diverso ao que está acostumada. “O Cepagri lida com água. Com a dissertação, passamos a olhar a seca pelo lado da convivência. Fomos educados a pensar que o sertanejo precisa fugir da seca que causa fome e que naquela região nada se planta. Mas é possível conviver com esse fenômeno, por exemplo, se plantarmos as espécies arbóreas certas”, aponta. 

Os estudos também indicaram que o Programa colabora para o desenvolvimento regional de forma sustentável e participativa. Segundo a Kezia, “ao respeitar o ambiente e aplicar corretas técnicas de manejo sustentável, a população tem voz ativa. A educação também é um pilar dessa convivência, que é importantíssima para a construção do conhecimento. Assim como a água, ela passa a ser um instrumento de direito e não de favor”. 

O Programa visa ainda a capacitação de profissionais que atuam diretamente nas escolas – merendeiras, agentes de limpeza, professoras, coordenadores e diretores. Kezia teve contato com esses atores sociais durante sua dissertação. “Através de oficinas de gerenciamento de recursos hídricos escolar, as merendeiras, por exemplo, passam por capacitação para que entendam a dinâmica das cisternas e como é o cuidado com a água”, informa a pesquisadora. Já a população geral tem reuniões com técnicos em que a comunidade passa a entender o que pode ser feito através do programa. “A cisterna não é só para a escola. Se faltar água na comunidade, a população tem direito de utilizá-la”, lembra Kezia. A comunidade tem, portanto, o poder de participar e ajudar. “Muitas pessoas levavam água e bolos e se sentiam parte da construção”, finaliza.

Kezia Andrade dos Santos, autora da dissertação: A ideia surgiu em 2017 quando foi a responsável por acompanhar a implantação do programa em 19 escolas da zona rural de Mucugê, na Bahia. | Fotos: Antonio Scarpinetti/Divulgação | Edição de imagem: Renan Garcia

 

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