Este país é uma operação de exportação de commodities. Todo o resto está a serviço disso (Agosto 2017)
Você provavelmente nem sabe disso – não está em nenhum jornal. Mas, daqui a alguns dias, o governo vai baixar uma medida provisória mudando radicalmente o regime de aprovação de agrotóxicos no país. Segundo os ativistas que estão tentando acompanhar essa história, tudo indica que a nova lei, entre outras coisas, permitirá o registro de agrotóxicos mesmo que eles sejam comprovadamente cancerígenos, retirará a caveira com ossos das embalagens e rebatizará os “agrotóxicos” como “defensivos fitossanitários”, porque todo mundo precisa de um “rebranding” de vez em quando. Tudo sem nenhuma discussão pública, decidido a portas fechadas entre Michel Temer, o ministro da Agricultura Blairo Maggi e os parlamentares ruralistas que ocupam quase metade das poltronas acolchoadas do Congresso Nacional.
Só sei dessa notícia porque assisti a uma reportagem no Canal Rural que continha uma entrevista com o ministro, na qual ele usa palavras difíceis para ocultar o que a medida provisória realmente pretende. Não é interessante essa característica da república brasileira? Que decisões fundamentais para o Brasil – o futuro da economia, o modelo produtivo do país, o alimento que comemos, o câncer da geração dos nossos filhos – sejam tomadas assim nas sombras, com cobertura apenas do Canal Rural?
O Brasil, visto de alguns ângulos, tem aparência de democracia – imprensa relativamente livre, sufrágio universal, instituições mal e mal de pé. Mas, nas questões realmente cruciais, isso daqui é uma ditadura – está tudo pré-definido e fechado para discussão. Fui percebendo isso ao longo das últimas duas semanas, enquanto pesquisava o assunto para um roteiro de TV.
Conversei com um defensor público chamado Marcelo Novaes, que ficou me contando do quanto é fácil ser latifundiário no Brasil – desde que você possua um latifúndio, claro. Enquanto eu fico aqui lutando para escapar da malha fina da Receita depois de dar a eles 30% de tudo que eu produzi, os milionários monocultores exportadores, quando muito, pagam 5%, segundo os cálculos de Novaes. São isentos de contribuir com a Previdência – aquela que o Temer diz que vai quebrar por causa de você. Se você somar todo o Imposto Territorial Rural que todos os grandes fazendeiros pagam em todo o território nacional, não dá aquilo que São Caetano do Sul arrecada com IPTU, também segundo os cálculos de Novaes. Você paga por sua terra milhares de vezes mais que o Blairo Maggi.
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