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Águas aduzidas para o Nordeste, artigo de Manuel Bomfim Ribeiro

Publicado: Quarta, 08 de Mai de 2019, 12h11 | Última atualização em Quarta, 08 de Mai de 2019, 12h11 | Acessos: 308

Artigo editado no jornal A Tarde, de Salvador, em 20/08/1998.

           

Conduzir corpos líquidos a grandes distâncias é uma técnica já totalmente desenvolvida. Transporta-se petróleo e seus derivados de qualquer parte para qualquer parte através de polidutos, apesar de ser um líquido viscoso que se adere às paredes interiores das tubulações e por vezes se congela. É um produto perigoso porque é inflamável e poluente. Todo sistema de oleodutos e gasodutos é bombeado, não interessa as diferenças de cotas. Leva-se petróleo e seus subprodutos de Mossoró (RN) a Caba, em Pernambuco, o chamado Nordestão, a uma distância de 400 km, de Alagoas a Sergipe e Bahia, de todo o Recôncavo para as refinarias, da Bacia de Campos para as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, do Rio para Belo Horizonte e Brasília, da Bolívia para São Paulo (custou US$ 4,6 bilhões), da Rússia para a França etc. Transporta-se este produto estratégico de grande valor econômico de um município a outro, entre estados, entre países e entre continentes. Os seus dutos atravessam rios e pântanos, vales e montanhas, florestas e desertos, mares e oceanos.

 

            Ocorre que a água potável é, hoje, um produto estratégico de grande valor econômico. A sua condução pelo sistema de adutoras é mais simples que o petróleo. Não adere nas paredes da tubulação, não é inflamável, não polui o meio ambiente quando há vazamentos, até ajuda e, na maioria das vezes, esta água é transportada por gravidade, dispensando-se o bombeamento. As adutoras podem partir do Rio São Francisco, do Parnaíba e dos grandes açudes do Nordeste para todos os quadrantes do Polígono das Secas, levando a preciosa linfa às cidades, vilas, povoados, lugarejos e ao porta a porta. Assim, os rios e açudes do Nordeste cumprirão suas verdadeiras missões junto à sociedade.

 

            O que o governo fez nesse sentido é muito pálido para atender às reais necessidades de uma grande região. Adutora da Caraíba Metais, do São José, o açude melhor aproveitado do Nordeste, adutora do Feijão, excelente aproveitamento, saindo da barragem do Mirorós e se adentrando pelas caatingas. O estado de Sergipe está na frente, com 1.700 km de adutora partindo do São Francisco, atendendo a quase totalidade de seus municípios. Alagoas possui a adutora do Sertão com 187 km de extensão, saindo também do São Francisco, prestando um bom trabalho na zona mais seca do estado.

 

            Dos poços profundos de grandes vazões poderão também partir dutos, complementando a grande trama hídrica nordestina.

 

            No sul do Piauí, Vale do Gurgueia, existe um tesouro imenso de águas subterrâneas, um fabuloso aquífero que pode fornecer dez bilhões de metros cúbicos de água, ao ano, para as demais regiões do Nordeste. Foram abertos, pelo governo, 175 poços tubulares, todos jorrantes, que exaurem continuamente, há 20 anos, 61 milhões de m³/ano de água do seio da terra, sem prestar nenhum serviço ao homem. O monumental Poço Violeta, município de Cristino Castro, jorra 950 m³/hora, maior vazão da América do Sul, capaz de abastecer uma cidade de 120 mil habitantes, mas continua inoperante nas solidões geográficas do Piauí. Nestas terras de tanta água e que nada se irriga, compra-se tomate e outras verduras em Petrolina, a 500 km de distância. Vê-se que não falta água no Nordeste.

 

            Uma vigorosa estrutura de adutoras partindo do Piauí para as demais regiões nordestinas, levando água como quem leva petróleo, vai mitigar a sede das populações sequiosas do Nordeste. Só estes aquíferos do Vale do Gurgueia têm potencialidade disponível para abastecer 100 milhões de pessoas, 2/3 da população brasileira.

 

            O que falta, realmente, não é água, mas uma forte decisão da sociedade para solucionar o problema hídrico do Nordeste.

 

Manoel Bomfim Ribeiro

Ex-diretor regional do DNOCS, da CODEVASF e Consultor da SRH/MMA

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Fone: (61) 3322-4997

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