23 - Cachaça Senzala
Vidro, cordão e papel, século XX
Recife, Pernambuco
De acordo com o folclorista Mário Souto Maior, o termo cachaça está associado, em sua origem, ao porco-do-mato, conhecido também como caititis ou caititus ou, ainda, cachaço (macho) e cachaça (fêmea da espécie). Tratava-se, originalmente, de uma garapa azeda conhecida como cagassa, desprezada em recipientes imundos, que os escravos utilizavam para amaciar a carne do porco. O folclorista potiguar Câmara Cascudo conclui, em seu Prelúdio da Cachaça, que a ascendência econômica da bebida foi rápida, o que chegou a incomodar a Coroa Portuguesa - em razão da concorrência com a sua aguardente, produzida a partir da fermentação do bagaço da uva, conhecida como Bagaceira. A cachaça e o fumo tornaram-se moedas de troca nas transações envolvendo o comércio escravagista no Período Colonial.
Consoantes relatos de historiadores da época, sua importância comercial atingiu grande dimensão, ao ponto em que não se concretizavam transações dessa natureza sem a cachaça como moeda de troca. Neste sentido, pode-se concluir, portanto, que a cachaça, sob certos aspectos, contribuiu para o prolongamento da iníqua instituição da escravidão no Nordeste Brasileiro. “O escravo custa cachaça e rolos de tabaco aos seus proprietários africanos. É um cheque ao portador” (CASCUDO, 1987:26)
A garrafa da Cachaça Senzala foi doada pela museóloga Regina Batista, em 1994, para o acervo do Museu do Homem do Nordeste.
José Luiz Gomes
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