Alagoas teve desaparecimento de 1.349 lagoas nos últimos 30 anos
Pesquisa mostra que fatores climáticos combinados às políticas públicas aplicadas na região podem estar interferindo no desaparecimento e surgimento de novos espelhos d’água.
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10/08/2019

Açudes desapareceram em 30 anos. Outros reduziram sua capacidade hídrica. Foto: CIEG/FUNDAJ
Cerca de 1.350 lagoas desapareceram no Sertão alagoano nos últimos 30 anos. É o que aponta uma pesquisa da Universidade Federal de Alagoas em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco. O estudo avalia se as mudanças climáticas em conjunto com políticas públicas adotadas na região têm ocasionado o desaparecimento de corpos hídricos e o surgimento de pequenos açudes.
A pesquisa utilizou uma série histórica de imagens por satélites norte-americanos e desenvolveu um novo método capaz de mapear esses corpos hídricos em períodos secos na região da caatinga, que compreende uma área de 46% do território alagoano.
O Centro Integrado de Estudos Georreferenciados (Cieg) da Fundação Joaquim Nabuco comparou as imagens registradas entre 1988 a 2018 e identificou três grupos de corpos hídricos, encontrando as seguintes situações.
- A primeira delas identificou que 1.349 açudes/barragens/lagoas desapareceram do mapa entre uma data e outra, sendo que a maioria (1.288) eram menores que um hectare.
- O segundo grupo revelou que surgiram 2.472 novos corpos hídricos, mas, novamente a maioria (2.325) tem área inferior a um hectare.
- O terceiro e último grupo de 660 corpos hídricos (sendo 489 menores que um hectare) se refere aos corpos que se mantiveram entre uma data e outras
A equipe composta pelos professor Neison Freire – da Nabuco – e Débora Cavalcanti e Odair Moraes, da Ufal, encontraram evidências de que as mudanças climáticas têm contribuído para a variação do que eles chamam de espelhos d’água.
Entre os dias 21 a 26 de julho de 2019 eles estiveram em campo em 7 dos 50 maiores corpos hídricos identificados pelas imagens de satélites. Até o momento foi constatado que pelo menos em três dessas lagoas, barragens e açudes o fator climático é preponderante.

Açude de Delmiro Gouveia reduziu sua capacidade hídrica em 12%. Foto: CIEG/FUNDAJ
No açude de Delmiro Gouveia, considerado o maior do estado, por exemplo, o estudo detectou que há evidências de que mudanças climáticas têm alterado as recargas hídricas, ocasionando na redução de sua capacidade hídrica, mesmo no período chuvoso da pesquisa de campo. De 1988 para cá, segundo a pesquisa, houve uma redução de 12% na área, o que equivale a uma área de 38 hectares.
“Mesmo com a recarga hídrica deste período [chuvoso], essa recarga não é suficiente para chegar aos níveis que mostram as imagens de satélite em 1988. E essa [açude de Delmiro] é uma área totalmente privatizada, muito pouco aproveitada do ponto de vista da agricultura”, dizem os pesquisadores.
Outros locais visitados foram o açude de Jaramataia e a Lagoa do Fundo, em Belo Monte. No segundo, por exemplo, não há mais recurso hídrico algum. O espaço ficou seco e, conforme os pesquisadores, não há período chuvoso que possa devolver a capacidade hídrica que o açude possuía.

Esse local existia uma lagoa, chamada de Lagoa Funda, em Belo Monte. Foto: CIEG/FUNDAJ
Além dos fatores climáticos já indicados na pesquisa, os professores querem saber ainda até que ponto as políticas públicas empregadas na região da caatinga colaboram ou atrapalham a permanência das lagoas, tão importantes para a população do semiárido.
Eles citam como exemplo o açude de Craíbas, que mesmo tendo um volume expressivo de água, não há uso humano, porque “a cidade não tem esgotamento sanitário e todos os dejetos correm no corpo hídrico que está contaminado”.
Outro exemplo citado para analisar as políticas públicas é o próprio açude de Delmiro Gouveia. Ele foi construído pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Denocs), em propriedade privada e não tem sido utilizado para a população daquela região que convive com a escassez de água. Os pesquisadores detectaram que, como este exemplo, alguns açudes estão sem acesso da população, porque se concentram em uma área privatizada.
A partir de entrevistas com secretários municipais de meio ambiente, moradores,
trabalhadores rurais, combinadas com imagens de satélites, dados censitários e revisão de políticas de
açudagem na região, os pesquisadores estão traçando uma análise das possíveis causas e suas
consequências.
Estudam ainda os impactos e recomendações às políticas públicas setoriais com relação à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas na caatinga. A conclusão dos trabalhos está prevista para março de 2020.
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