Reuso - uma tendência irreversível na indústria brasileira
Este material foi produzido dentro do Projeto Iniciativa Water Reach de capacitação de jornalistas sobre a gestão dos recursos hídricos.
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Água Online
Elizabeth Oliveira – Brasil – Water Reach.
06/08/2007
A escassez dos recursos hídricos que já se configura como um dos maiores desafios das regiões mais industrializadas do País, aliada ao avanço da cobrança pelo uso da água no Brasil, tem levado o setor produtivo a investir não só em ações de uso racional, mas em projetos de reúso de efluentes tratados. O processo é irreversível e está atrelado a vantagens econômicas e sócio-ambientais que estão sendo comprovadas pelas empresas que já adotam essa prática. Quem afirma é o professor da Escola Politécnica da USP e diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra), Ivanildo Hespanhol. Considerado uma das maiores autoridades no tema, ele esteve na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), no dia 23 de março último, lançando um manual que explica aos empresários fluminenses como investir no tratamento e reaproveitamento da água em suas atividades. A programação foi parte das comemorações da Semana Mundial da Água.
Não há dúvidas quanto às vantagens oferecidas pelas tecnologias de reúso, afirma Hespanhol. Segundo ele, uma recente simulação realizada pelo Cirra, a partir de informações prestadas por 2.311 empresas de São Paulo, revelou que esses empreendimentos terão que desembolsar R$ 4 milhões por dia a partir da cobrança pelo uso da água e despejo de efluentes que já entrou em vigor no Estado. Implementando projetos de reúso de 80% da água que consomem os gastos cairiam para R$ 900 mil diários. "Dependendo do volume de investimentos o reúso pode chegar a 100%", explica o diretor.
Hespanhol não tem dúvidas que aumentará significativamente a demanda pela implementação de projetos de reúso em São Paulo, tanto pelo fato de algumas regiões do Estado já enfrentarem situação de estresse hídrico, como pela entrada em vigor do processo de cobrança pelo uso da água. Para dar uma idéia do interesse do setor produtivo, o diretor explicou que em três anos o Cirra desenvolveu projetos para 15 empreendimentos interessados em adotar esse tipo de tecnologia. A mesma quantidade deve ser atendida só este ano. Os projetos asseguram a possibilidade de reaproveitar efluentes pós-tratamento para serviços de limpeza, irrigação de jardins, resfriamento de equipamentos, entre outros.
O metro cúbico de água tratada e distribuída pela companhia de águas e esgotos de São Paulo, a Sabesp, segundo Hespanhol, custa ao setor industrial R$ 8,75. Com a devolução de efluentes pós-tratamento esse valor chega a R$ 18,00. Enquanto isso, o custo do reúso pelas médias e grandes empresas varia de R$ 0,80 a R$ 1,20, por metro cúbico. "As empresas estão percebendo a vantagem econômica de investir em reúso e com isso contribuem para a melhoria da qualidade ambiental, já que reduzem o volume captado diretamente de mananciais ou distribuído pelas companhias, além de investir em tecnologias que permitirão a redução de efluentes lançados em corpos d´água", diz o diretor do Cirra.
Responsável pela elaboração dos manuais de reúso já lançados pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), pelo Sindicato da Indústria da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP) e também pela publicação da Firjan, desenvolvida em parceria com o Sebrae-RJ, Hespanhol ainda pretende criar outros específicos para setores que demandam grande quantidade de água. Entre os quais ele citou o petroquímico, o de siderurgia, açúcar e álcool, além de papel e celulose.
O gerente de Tecnologia e Meio Ambiente da Firjan, Luiz Augusto Carneiro Azevedo, explicou que a entidade pretende fazer um levantamento da quantidade de empresas que já adotaram tecnologias de reúso de água no Rio de Janeiro, bem como avaliar o impacto da cobrança pelo uso da água na indústria fluminense. Segundo explicou o executivo, o Núcleo de Tecnologia Limpa da Federação vem atuando junto aos empresários do Estado objetivando implementar projetos que garantam a redução do consumo de água, energia e matérias-primas nos empreendimentos, estratégia que também contribui para diminuir a produção de resíduos no setor.
"Nosso grande enfoque, além de atuar com apoio técnico às empresas, é de trabalhar com a difusão da informação, ferramenta fundamental para sensibilizar os profissionais do setor e demonstrar a importância de uso racional dos recursos naturais. No cenário de mudanças climáticas que já vem causando preocupações globais, será cada vez mais fundamental destacar a importância da contribuição de todos", reforça Azevedo.
Proteção da vegetação como garantia de preservação dos mananciais
Na Grande São Paulo, a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza lançou recentemente o Projeto Oásis, uma iniciativa inédita no Brasil, que objetiva contribuir para a criação de um sistema de pagamento por serviços ambientais a proprietários de terras que se comprometerem a conservar integralmente áreas de cerca de 40 mil hectares de remanescentes de Mata Atlântica. O cadastramento das propriedades onde existe vegetação nativa está em curso e, nos próximos três meses, os primeiros contratos devem ser assinados pelo prazo de cinco anos. Os valores serão diferenciados em função da área cadastrada e de fatores como a qualidade da vegetação natural e hidrologia, entre outros.
Segundo o técnico da Fundação, André Ferretti, para viabilizar o projeto serão mobilizados empresários, proprietários de terras na região do projeto, além de organizações comprometidas com a conservação do meio ambiente. Além de recursos próprios da ordem de R$ 4 milhões, a idéia é levantar mais recursos com patrocinadores para totalizar R$ 12 milhões que serão investidos na preservação dos mananciais da região nos próximos dez anos.
O projeto implementará áreas de conservação em terras particulares na bacia de Guarapiranga e nas Áreas de Proteção Ambiental Capivari-Monos e Bororé-Colônia, na Região Metropolitana de São Paulo, numa região considerada estratégica em termos de recursos hídricos, segundo Ferretti, já que abastece cerca de 4 milhões de habitantes. O técnico da Fundação destaca a importância das áreas florestais para a garantia da oferta e qualidade dos recursos hídricos, além da proteção da biodiversidade e outros benefícios. Segundo pesquisa realizada pelo Banco Mundial, é mais barato proteger áreas naturais nos mananciais do que limpar a água no reservatório. Algumas das maiores cidades do mundo utilizam e dependem de áreas florestais protegidas para suprimento de água, como é o caso de Nova Iorque, Sidney, Tóquio, Los Angeles, Viena, Barcelona, Rio de Janeiro e Brasília.
"Sabemos também que as mudanças climáticas trarão cada vez mais alterações no regime de chuvas, o que implicará em problemas de abastecimento, entre outros transtornos diretos que serão sentidos na vida dos cidadãos. Estamos também levando essa mensagem aos proprietários, destacando a importância dessas áreas de remanescentes de Mata Atlântica para a proteção dos mananciais, da biodiversidade, garantia de mais conforto em relação à temperatura, entre outros benefícios", conclui Ferretti.
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