Cidade de Pesqueira, no Agreste, começa a receber água do Rio São Francisco
11/11/2018

Os moradores do município de Pesqueira, no Agreste, acordaram hoje com uma boa notícia: a água do Rio São Francisco começou a chegar à Estação de Tratamento de Água (ETA) da cidade e já está sendo distribuída nos bairros do Centenário, Prado e Centro, as primeiras localidades atendidas pela integração no novo sistema mediante a interligação das Adutoras Moxotó e Agreste. A chegada das águas do velho Chico ao município de Pesqueira marca um momento crucial para os 65 mil habitantes e será a solução para o abastecimento tendo em vista que as barragens de Santana, Pedra D’Água e Afetos entraram em colapso no fim de setembro deste ano, deixando a cidade em colapso.
Ao receber a notícia sobre essa etapa de integração das adutoras do Moxotó e Agreste, o presidente da Companhia Pernambucana de Saneamento- Compesa, Roberto Tavares, ressaltou a importância do empreendimento que beneficiará dez municípios da região. “Essa foi uma obra hídrica prioritária do governador Paulo Câmara, que acompanhou todas as etapas do empreendimento e representa a capacidade que o Governo de Pernambuco teve se interligar sistemas e fazê-los funcionar, apesar das obras da transposição não terem sido concluídas pelo Governo Federal”, afirmou o presidente.
A obra de interligação da Adutora do Moxotó à Adutora do Agreste foi uma alternativa encontrada e sugerida ao governador Paulo Câmara para viabilizar o atendimento da população com água do Rio São Francisco, sem a conclusão do Ramal do Agreste, componente essencial para o pleno funcionamento da Adutora do Agreste, o maior empreendimento hídrico e que salvará 68 cidades e 80 localidades do Agreste da seca. A água que chegou a Pesqueria vem de longe, de Floresta, da captação da barragem de Itaparica, percorre 160 quilômetros até Rio da Barra, em Sertânia, e mais outros 120 quilômetros passando pelas adutoras do Moxotó e do Agreste.
Por causa dessa complexidade, os testes do novo sistema durou mais de um mês. “Surgiram vazamentos, fomos consertando, percorrendo pacientemente os trechos da antiga e novas adutoras, até chegarmos a esse dia histórico para Pesqueira, com a água disponível nas torneiras”, explicou o presidente da Compesa, Roberto Tavares.
Ainda segundo a Companhia, houve um aumento de 73% na oferta de água para o município. A vazão passou de 45 litros de água por segundo (essa era a vazão dos sistemas que entraram em colapso) para 78 litros por segundo. “Esses 33 litros por segundo farão a diferença. Nesse início, como a cidade estava em colapso, o consumo deve ser alto, mas a tendência é normalizar e conseguirmos abastecer de maneira satisfatória Pesqueira apenas com a água do Rio São Francisco”, afirmou Tavares.
Pesqueira é a terceira cidade do Estado a receber água da Transposição do Rio São Francisco. A primeira foi Sertânia e, em setembro, a água chegou a Arcoverde. A população de Alagoinha, também localizada no Agreste, será atendida com a água que está chegando a Pesqueira. Os técnicos estimam ainda um prazo de 30 dias para que ocorra o equilíbrio no novo sistema e que a água chegue com regularidade nas cidades de Pesqueira de Alagoinha. “Esse período de ajustes é normal quando do início de qualquer operação de um novo sistema”, antecipa Roberto Tavares, que pede a compreensão da população para essa fase.
Outros municípios também receberão água do Rio São Francisco, beneficiados pela interligação da Adutora do Moxotó com a Adutora do Agreste. São eles: Venturosa, Pedra, Belo Jardim, Sanharó, Tacaimbó, São Bento do Una e São Caetano, beneficiando, ao todo, 400 mil pessoas. O empreendimento é a primeira ligação do Eixo-Leste da Transposição do Rio São Francisco com o Agreste pernambucano e conta com um investimento de R$ 85 milhões.
Sobre o assunto
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COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
A partir dessa semana, o município de Pesqueira (PE) começou a receber as águas do Rio São Francisco. Quando o Eixo Leste do Projeto da Transposição foi inaugurado em junho de 2017, bombeava da represa de Itaparica cerca de 9 m³/s, para o abastecimento da represa de Boqueirão de Cabaceiras e o atendimento das demandas hídricas dos habitantes de Campina Grande e de 18 municípios do seu entorno. Só que, por terem as autoridades autorizado, também, o uso dessas águas, na irrigação de meio hectare de culturas, do volume bombeado em Itaparica, chegava em Monteiro (PB) cerca de 6 m³/s e, em Boqueirão, apenas 3,5 m³/s. Boa parte desses volumes era consumida, no percurso, em infiltrações, evaporação e desvios outros (furto de água, principalmente). Atualmente, após os consertos havidos nos paredões das represas de Poções e Camalaú, a transposição foi reiniciada, com os volumes, para surpresa dos paraibanos, em quantidades irrisórias. A causa provável desse “filete d’água” que atualmente existe no açude de Poções, não poderia ser outro: a fonte que abastece a represa de Boqueirão de Cabaceiras é a mesma que atualmente está abastecendo Pesqueira e regiões do seu entorno: o bombeamento realizado da represa de Itaparica. Nesse cenário preocupante de penúria hídrica, só existe uma solução para a chegada de maiores volumes em Camalaú e posteriormente em Campina Grande: desautorizar, primeiramente, a irrigação das culturas ao longo daquele trecho do Rio Paraíba, para que as águas sejam direcionadas, única e exclusivamente ao abastecimento das pessoas e, em segundo lugar, promover o aumento imediato dos volumes bombeados em Itaparica. Na hidrologia existe um pressuposto contra o qual não se pode deixar de observar os seus efeitos: nas fontes de fornecimento de água, se não forem obedecidas, à risca, as vazões pré estabelecidas para o atendimento das necessidades hídricas das populações, não haverá água para a continuidade dos novos suprimentos. É o que, provavelmente, está ocorrendo em Camalaú. Sem a observação dessa imposição hidrológica, sem o aumento das ofertas hídricas necessárias e sem os cuidados com a gestão dos recursos hídricos, muito dificilmente Campina Grande verá a cor das águas do Rio São Francisco, até a próxima quadra chuvosa da bacia do Rio Paraíba, prevista para o período de fevereiro a maio do próximo ano. É viver para crer!
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