Sanharó, no Agreste de Pernambuco, passa a ser abastecida pelo Rio São Francisco
A cidade enfrentava um severo rodízio, com água apenas uma vez por mês, o que deve ser resolvido com a implantação do novo sistema.
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11/03/2019
Água deve chegar aos bairros da cidade, que enfrenta uma severa restrição no abastecimento, de forma gradativa. Foto: Compesa/Divulgação
A cidade de Sanharó, no Agreste do Estado, passou a receber água da Transposição do Rio São Francisco. A medida, ainda em fase de testes começou no sábado (9). A nova fonte de abastecimento está sendo implantada dando de forma gradual e a expectativa é de ela chegue a todos os bairros da cidade em até dez dias. Sanharó está entre os quatro municípios, ao lado de com Arcoverde, Pesqueira e Belo Jardim, que já são atendidos pelo novo sistema por meio da integração das Adutoras do Agreste/Moxotó.
A cidade enfrentava um severo rodízio, com água apenas uma vez por mês, pois dependia do Sistema Bitury, cuja barragem entrou em colapso há quatro meses. De acordo com o presidente da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), Roberto Tavares, a água chegará ao município de forma gradativa.
Os primeiros bairros do município beneficiados pelo sistema são o Centro, Salgado, parte do Zacarias Ramalho, parte do Dr. Tonico e Santa Clara. Ainda segundo o presidente da Compesa, a expectativa é de que o primeiro ciclo completo de abastecimento, atendendo todos os bairros da cidade, seja concluído no prazo de dez dias.
Para viabilizar a chegada das águas da transposição aos municípios, foi necessário construir a Adutora do Moxotó. Com um investimento de R$ 85 milhões, a obra capta água do Rio São Francisco na Barragem do Moxotó, no Eixo Leste da Transposição, e se interliga com a Estação de Tratamento de Água (ETA) de Arcoverde e à Adutora do Agreste.
De acordo com a companhia, a fase de testes do sistema deve durar cerca de 30 dias. “É nessa etapa que fazemos as correções necessárias, a exemplo de vazamentos. Estamos trabalhando também para abastecer o município de São Bento do Una nos próximos dias”, explicou o presidente da companhia.
COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
Em 2000, publiquei um artigo no portal da Fundaj, intitulado, “A gerência da torneira”, no qual, entre outros assuntos, comparei a busca da água para beber, no Nordeste seco, a uma verdadeira reação em cadeia de uma explosão atômica. Após a inauguração da adutora do Moxotó, na qual se retira águas do Eixo Leste da Transposição, para o abastecimento das cidades de Arcoverde, Pesqueira, Brejo da Madre de Deus, Belo Jardim, Sanharó e futuramente São Bento do Una, o alerta que fiz há dezenove anos, começou a se tornar realidade. A minha preocupação se prende ao fato de ser, por esse eixo, onde também estão sendo conduzidos os volumes do São Francisco para o abastecimento de Boqueirão de Cabaceiras, que fornece água para o atendimento das demandas hídricas de Campina Grande e de 18 municípios de seu entorno, para uma população estimada em cerca de 1 milhão de pessoas. Atualmente, o projeto, para Campina, vem dando sinais de descompassos nos fluxos volumétricos, o que pode estar sendo causado pela falta de gestão dos volumes nesse eixo. É importante que as autoridades percebam essa situação, pois a quadra chuvosa está em fase de declínio, sobre a bacia do rio Paraíba, coincidindo com uma capacidade preocupante na represa de Boqueirão, de cerca de 14,6% de seu volume útil, apenas. Trata-se de um problema real que precisa ser tratado com a urgência devida, pois a tendência, daqui para frente, é a demanda hídrica começar a aumentar, progressivamente, naquela região paraibana. Volto a insistir: as vontades políticas não podem e nem devem estar acima das possibilidades técnicas de se resolverem as questões do nosso desenvolvimento, sob pena de resultar em situações desagradáveis como essas: quer-se buscar água onde ela não já existe mais.
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