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Quem foi Blanche Knopf

Publicado: Quinta, 03 de Mai de 2012, 15h48 | Última atualização em Quinta, 20 de Dezembro de 2018, 20h53 | Acessos: 3985

Blanche Wolf Knopf nasceu no dia 30 de julho de 1894, na cidade de Nova York, filha de Bertha e Julius W. Wolf. Foi presidente da Alfred A. Knopf, uma das mais conceituadas editoras americanas. Morreu no dia 4 de junho de 1966.

 Homenagem a Blanche Knopf
Gilberto Freyre

O Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais acaba de receber de mãos ilustres do snr. Consul dos Estados Unidos no Recife e do Adido Cultural do Consulado - valioso donativo que lhe vem daquele país: o primeiro grupo de livros, da parte do grande editor Alfred Knopf, para a sala, na Biblioteca deste Instituto, desde agora denominada Blanche Knopf. Sala provisória: a definitiva será no edifício, também definitivo, da Biblioteca, sempre em expansão, do Instituto.

A homenagem que o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais decidiu prestar à memória de Blanche Knopf é justíssima. Ninguém nos Estados Unidos nos últimos trinta anos, que dedicasse à cultura brasileira maior e mais lúcido carinho do que Blanche Knopf. Os dois Knopf como que descobriram para o público mais culto do seu país o moderno Brasil intelectual. Resolveram revelá-lo ao vasto mundo de língua inglêsa através de tradução dos escritores que lhes parecem mais significativos, mais expressivos, mais caracteristicamente brasileiros e, ao mesmo tempo, de espírito ou de sentido mais universal; e que ainda não tivessem sido traduzidos àquela língua, mais que nenhuma, das modernas, transnacional.

Datam daí novas atitudes norte-americanas e européias para com a cultura brasileira. Ainda há pouco, em longo artigo em conhecida revista bilingue de cultura, publicada em Madrid, crítico literário de reconhecida autoridade, Raul Chavarri, reclamando para a literatura latino-americana nôvo Prêmio Nobel, destacava a riqueza atual dessa literatura; e nenhum país lhe parecia mais merecedor dessa láurea do que o Brasil do qual cita não um nem dois, como de outros países, porém três escritores com aquêles títulos, segundo êle, de universalidade, a exigirem a consagração do prêmio sueco. A Academia Sueca - clama o crítico - precisa de se concentrar menos em franceses, alemães e norte-americanos voltar-se para uma literatura que, segundo êle, "pelas experiências e inovações realmente transcendentes" que nela se exprimem em poesias, ensaios, novelas, seminovelas, representa uma das culminâncias do nosso tempo.

Foi o que intuiu, sentiu, pressentiu,, descobriu Blanche Knopf na remota década quarenta, quando veio ao Brasil pela primeira vez: havia aqui uma literatura de genuíno valor que precisava de ser revelada. Havia aqui gênios literários e não apenas rios-gigantes. De onde o seu afã no sentido de fazer traduzir e publicar em língua inglêsa obras que confirmassem seu juízo.

Que juízo era êsse? Que sensibilidade era a dessa mulher, a completar o discernimento crítico do espôso, constituído os dois em editôres desde a segunda década do século atual em rápida e brilhantíssima ascensão? Um juízo quase sempre certo, certissímo, quanto ao valor dos autôres que decidia editar, quer norte-americanos, quer estrangeiros. Podiam alguns não vir a ser sucessos comerciais. Mas eram sempre triunfos intelectuais.

E em Blanche e Alfred Knopf o sentido comercial nunca dominou o intelectual: foram, durante anos, editores de qualidade. Grandes editores, como êles talvez se tenha que dizer que desaparece a raça aristocrática dos grandes editores, substituídos pelas grandes, pelas imensas, pelas gigantescas casas editoras. E o que se diz da atividade jornalística pode-se dizer da editorial: com os grandes jornais vêm desaparecendo os grandes jornalistas. Com as grandes editôras vêm desaparecendo os grandes editores.

Alfred Knopf resiste. Mas já lhe falta a companheira ideal. Ele por si próprio grande, de uma grandeza que não parece comparar-se a de nenhum rival. Mas ainda seria sua atividade editorial se Blanche continuasse a seu lado. Compreende-se sua devoção pela memória de companheira tão rara: aquela que agora, dá nome a uma sala de biblioteca brasileira que crescerá com o tempo, com livros editados por Knopf sôbre assuntos sociais, problemas culturais, história, filosofia.

O retrato a óleo que de Blanche pintou para o Instituto Joaquim Nabuco Mestre Baltazar da Câmara evoca a Blanche dos grandes dias em que, amiga de Gide, de Camus, de Thomas Mann, ela e Alfred editaram em língua inglêsa esses e outros europeus insignes - Pio Baroja, por exemplo - editando, ao mesmo tempo, alguns dos maiores escritores norte-americanos, dentre os modernos; e fazendo que seus livros, ao aparecerem, fôssem acontecimentos não só literários como artísticos, tal a atenção dispensada sempre pelos dois Knopf à arte da ilustração de livro, à arte da impressão.

É a essa extraordinária figura de mulher, de norte-americana, de intelectual, de artista, que o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais acaba de prestar uma homenagem que envolve também Alfred A. Knopf.

(Transcrito do Diario de Pernambuco, Recife, do dia 27 de outubro de 1968, primeiro caderno, p.4).

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